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quinta-feira, 24 de julho de 2014

O que aconteceu ao avião da Malaysian?, por Paul Craig Roberts

O que aconteceu ao avião da Malaysian?, por Paul Craig Roberts

Enviado por Adriano S. Ribeiro
A máquina de propaganda de Washington está trabalhando em tão alta rotação, que há risco de perdermos os dados e fatos comprovados que já temos.

Um desses fatos é que os federalistas não têm os caros sistemas de mísseis antiaéreos Buk ou não têm pessoal treinado para operá-los.

Outro fato é que os federalistas não têm incentivo ou motivo para, ou interesse em, derrubar avião de passageiros; a Rússia tampouco. Qualquer um sabe ver a diferença em um avião de combate voando baixo e um avião de passageiros a 33 mil pés de altura.

Os ucranianos têm sistemas Buk de mísseis antiaéreos, e uma bateria Buk estava operacional na região e localizada em ponto do qual poderia ter disparado um míssil contra o avião.
Assim como os federalistas e o governo russo não têm incentivo nem motivo para derrubar avião de passageiros, tampouco os tem o governo ucraniano; e, de fato, nem os ensandecidos nacionalistas extremistas ucranianos que formaram milícias para fazer as lutas contra os federalistas que o governo ucraniano não têm interesse em fazer. A menos que haja aí um plano para culpar a Rússia.

Um general russo que conhece o sistema de armas apresentou sua opinião, de que foi erro cometido por militares ucranianos não treinados para usar aquela arma. O general disse que, embora a Ucrânia tenha algumas armas, os ucranianos não foram treinados para usá-las nesses 23 anos desde que a Ucrânia separou-se da Rússia. O general acredita que tenha sido um acidente devido à incompetência.

Essa explicação faz algum certo sentido e com certeza faz muito mais sentido que a propaganda de Washington. O problema com a explicação do general é que não explica por que o sistema Buk de mísseis antiaéreos foi posto próximo de, ou dentro de, território dos federalistas. Os federalistas não têm força aérea.  Parece estranho que a Ucrânia mantivesse um caríssimo sistema de  mísseis em área na qual não teria uso militar – e em posição na qual poderia ser capturado pelos federalistas.

Como Washington, Kiev e a imprensa-empresa press-tituta [orig. presstitute] também estão obrando na propaganda de que Putin é culpado, ninguém encontrará na mídia norte-americana qualquer informação aproveitável. Teremos de procurar e de construir nós mesmos nossa própria informação aproveitável.

Um modo de fazer isso é perguntar: por que aquele sistema de mísseis estava onde estava? Por que pôr em risco um caríssimo sistema de mísseis, pondo-o num ambiente conflagrado, no qual não teria nenhuma serventia? Incompetência, sim, é uma das respostas; outra resposta é que o sistema de mísseis foi posto ali, para ser usado, porque seria usado.

Seria usado para quê? Noticiosos e provas circunstanciais têm fornecido duas respostas. Uma delas é que os extremistas ultranacionalistas anti-Rússia e pró-EUA & Europa tinham planos para derrubar o avião presidencial de Putin; e teriam confundido o avião malaio e o avião russo.

A agência Interfax, citando fontes anônimas, aparentemente controladores de tráfego aéreo, noticiou que o avião malaio e o avião de Putin estariam em rotas quase idênticas, com poucos minutos de intervalo entre um e outro. Interfax cita sua fonte: “O que posso dizer é que o avião de Putin e o Boeing malaio cruzaram-se no mesmo ponto no mesmo degrau. Foi perto de Varsóvia, no degrau 330-m, altura de 10.100 metros. O jato presidencial estava nesse ponto às 16h21 hora de Moscou, e o avião malaio, às 15h44 hora de Moscou. Os perfis das aeronaves são semelhantes, as dimensões lineares são muito semelhantes, e as cores, observadas em grande distância, são quase idênticas.”

Não encontrei nenhum desmentido oficial russo, mas, segundo noticiários russos, o governo russo informou, em resposta às notícias da agência Interfax, que o avião presidencial de Putin já não voa a antiga rota da Ucrânia desde o início das hostilidades.

Antes de aceitar essa negativa, é preciso ter bem claro que qualquer tentativa pelos ucranianos de assassinar o presidente da Rússia implica guerra – exatamente a guerra que a Rússia quer evitar. Implica também a cumplicidade de Washington na tentativa de assassinato, porque é altamente improvável que os fantoches de Washington em Kiev arriscar-se-iam a cometer ato tão perigoso, se não contassem com o apoio dos EUA.

O governo russo, que é inteligente e racional, com certeza negaria todas as notícias sobre uma tentativa, por Kiev e Washington, de assassinarem o presidente russo. Se não negar, a Rússia fica obrigada a tomar alguma providência – quer dizer: também implica guerra.

A segunda explicação é que os extremistas pró-Europa-EUA que operam por fora do aparelho militar ucraniano oficial tenham concebido um atentado para derrubar um avião de passageiros, para inculpar a Rússia. Se houve um atentado, o mais provável é que tenha sido gerado pela CIA ou por algum braço operativo de Washington; e visaria a forçar a União Europeia a parar de opor-se às sanções de Washington contra a Rússia, além de contribuir para romper valiosos laços econômicos que conectam a Rússia à Europa. Washington está frustrada por suas sanções continuarem a ser unilaterais, sem apoio dos fantoches dos EUA na OTAN, nem de qualquer outro país no planeta, exceto talvez do cachorrinho-de-madame e primeiro-ministro britânico.

Há muitas provas circunstanciais a favor dessa segunda explicação. Há o vídeo em Youtube apresentado como de uma conversa entre um general russo e federalistas, que falam sobre terem derrubado, por erro, um avião de passageiros. Segundo o noticiário, especialistas que examinaram o vídeo já sabem que foi gravado na véspera, um dia antes de o avião malaio cair.

Outro problema com esse vídeo é que, por mais que se possa crer que os federalistas tivessem confundido um avião de passageiros a 33 mil pés de altitude, com um jato militar de ataque, o general russo jamais os confundiria. A única conclusão é que, ao fazer falar um militar russo (verdadeiro ou falso), para tentar dar credibilidade a um vídeo falso, os falsários erraram e desacreditaram-se, eles mesmos.

A prova circunstancial que o público não especialista pode entender mais facilmente está na sequência de noticiários de televisão produzidos para culpar a Rússia... antes de que se conheça qualquer fato.

Em meu artigo anterior[1] falei de um noticiário da BBC ao qual assisti, e que com certeza foi integralmente produzido para culpar a Rússia. O programa concluía com um correspondente da BBC, ofegante, dizendo que acabava de assistir ao vídeo em Youtube, e que ali estava a prova do crime e “não resta dúvida alguma” – dizia o jornalista. A prova do crime apareceu para o jornalista da BBC, antes de o governo da Ucrânia e Washington saberem das coisas.

A prova de que Putin fez tudo seria um vídeo filmado antes do ataque ao avião malaio. Todo o noticiário produzido pela BBC e distribuído pela [rede] National Public Radio foi orquestrado para a exclusiva finalidade de ‘provar’, antes de haver qualquer prova, que a Rússia teria sido responsável.

Verdade é que toda a imprensa-empresa ocidental falou como uma só voz: foi a Rússia! E todas as press-titutas/press-titutos continuam a dizer sempre a mesma coisa.

O mais provável é que essa opinião única e uniforme apenas reflita o treinamento pavloviano da imprensa-empresa ocidental, que sempre, automaticamente, se alinha com Washington. Nenhuma ‘fonte’ quer ser criticada por ‘antiamericanismo’ ou quer ver-se isolada da opinião geral, a única que se ouve, a única que se admite, a única que não pode ser contestada, sob pena de o ‘especialista’ receber ‘nota vermelha’ no boletim.

Como ex-jornalista e colaborador dos mais importantes veículos da imprensa-empresa nos EUA, sei muito bem como funcionam.

Por outro lado, se se descontam os condicionamentos pavlovianos – que gera o ‘jornalismo’ de repetição automática –, a única conclusão que resta é que todo o ciclo de notícias sobre o avião malaio está sendo orquestrado para inculpar Putin.

Romesh Ratnesar, vice-editor de Bloomberg Businessweek,[2] oferece prova convincente de que, sim, tudo está sendo orquestrado, com o que publicou dia 17/7.

O título da coluna de Ratnesar é “Derrubada do avião malaio atrai desastre para Putin”. Ratnesar não está dizendo que Putin pode estar sendo vítima de um complô. O que ele diz é que antes de Putin ter derrubado o avião malaio, “para a vasta maioria dos norte-americanos o comprometimento da Rússia na Ucrânia parecia só ter importância periférica para os interesses dos EUA. Esse cálculo mudou (...). Talvez demore meses, talvez anos, mas a crueldade de Putin voltará a desabar sobre ele. Quando acontecer, a derrubada do MH 17 será afinal vista como o começo do fim de Putin.”

Fui editor do Wall Street Journal e, naquele tempo, quem me aparecesse com coluna de merda equivalente a essa teria sido demitido(a). Só insinuações, sem nenhum prova que apoie qualquer coisa. E a mentira-distorção, descarada, segundo a qual o que foi golpe de estado dado por Washington contra a Ucrânia seria “o comprometimento da Rússia na Ucrânia”!

O que estamos testemunhando é a total corrupção do jornalismo ocidental, pela agenda imperial de Washington. Ou os jornalistas alinham-se com as mentiras, ou são atropelados.

Procurem à volta: onde há jornalistas ainda honestos? Quem são? Glenn Greenwald, que enfrenta ataque constante dos próprios colegas jornalistas, os quais, todos, são putas, daquelas que fazem qualquer negócio por qualquer dinheiro. E que outro jornalista haveria, cujo nome nos venha à lembrança? Julian Assange, trancado na Embaixada do Equador em Londres, com a vida por um fio pendente de ordens de Washington. E o fantoche britânico não dá a Assange o direito de livre trânsito [até o aeroporto] para que possa assumir o asilo que o Equador lhe garantiu.

A última vez que se viu tal violência no mundo, foi a União Soviética, que exigiu que o governo-fantoche da Hungria mantivesse o cardeal Mindszenty cercado dentro da embaixada dos EUA em Budapeste durante 15 anos, de 1956 até 1971. Mindszenty recebeu asilo político dos EUA, mas a Hungria, obedecendo ordens dos soviéticos, não honrou o direito de asilo – exatamente como faz hoje o palhaço-fantoche britânico obedecendo ordens de Washington, que não honra o direito de asilo que Assange JÁ TEM. (...)

A única mácula na diplomacia de Putin é que a diplomacia de Putin depende de a boa-vontade e a verdade prevalecerem. Mas não há boa-vontade nos EUA, e Washington não tem interesse algum em que a verdade prevaleça. Para Washington só interessa que Washington prevaleça.

Putin não está enfrentando “parceiros” razoáveis, mas todo um ministério da propaganda que faz mira contra ele.

Compreendo a estratégia de Putin, na qual se veem a razão e a razoabilidade russas, contra as ameaças de Washington – mas é aposta muito arriscada. A Europa já há muito tempo é apêndice de Washington, e não há líderes europeus no poder que tenham capacidade e visão suficientes para separar a Europa, de Washington. Além do mais, os líderes europeus são sobejamente subornados para servirem a Washington. Um ano depois de deixar o governo, e Tony Blair já recebia salário de $50 milhões de dólares.

Depois dos desastres que os europeus conheceram, é pouco provável que líderes europeus pensem em qualquer outra coisa que não seja aposentadoria confortável. Para isso, nada como empregar-se como serviçal de Washington. Como a extorsão bem-sucedida contra a Grécia, obrada por bancos, o comprova, o povo europeu está reduzido à impotência.

Em Global Research,[3] lê-se a declaração oficial do Ministério de Defesa da Rússia. 

O ataque de propaganda de Washington contra a Rússia é uma dupla tragédia, porque contribuiu para desviar as atenções para longe da mais recente atrocidade que Israel comete contra os palestinos sitiados no Gueto de Gaza. Israel diz que o ataque aéreo e a invasão da Faixa de Gaza seriam simples esforços para localizar e vedar supostos túneis pelos quais palestinos contrabandeariam armas para dentro de Israel. Basta olhar pela janela em Israel, para ver que não há ataques de palestinos contra israelenses, nem há palestinos massacrando uma geração inteira, mais uma, de palestinos.

Seria de esperar que houvesse pelo menos um jornalista em algum ponto da imprensa-empresa norte-americana, que perguntasse se bombardear hospitais e matar crianças dentro das próprias casas está(ria) ajudando a fechar supostos túneis que chegariam a Israel. Mas já é pedir demais para as press-titutas/press-titutos da imprensa-empresa nos EUA.

E do Congresso dos EUA, então, esperem ainda menos! A Câmara e o Senado já aprovaram resoluções de apoio ao morticínio de palestinos por Israel. Dois Republicanos – o desprezível Lindsey Graham e o frustrante Rand Paul – e dois Democratas – Bob Menendez e Ben Cardin – apresentaram projeto de Resolução ao Senado de apoio ao assassinato premeditado de mulheres e crianças palestinas, por Israel. A Resolução foi aprovada pelo povo “excepcional e indispensável” do Senado dos EUA, por unanimidade.

Como recompensa pela política de genocídio, o governo Obama já está repassando, imediatamente, $429 milhões do dinheiro dos contribuintes norte-americanos, para Israel: é o pagamento pelo mais recente massacre.

Comparem o apoio que o governo dos EUA garante aos crimes de guerra de Israel, e a massacrante campanha de propaganda contra a Rússia, alimentada de mentiras.

Os EUA estamos de volta aos tempos das “armas de destruição em massa” de Saddam Hussein; das “armas químicas” de Bashar al-Assad; das “armas atômicas iranianas”.

Washington mente tanto, há tanto tempo, que já não sabe fazer outra coisa. *****

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