Quando se fala em abelhas (Apis mellifera), pensamos quase imediatamente em mel. Esta associação deve-se provavelmente à longa história de uso deste produto natural, primeiro pelo saque despudorado de colmeias selvagens, que se encontra documentado em pinturas rupestres, e depois pela domesticação das abelhas que terá acontecido há mais de 7000 anos. Mesmo após o surgimento  do açúcar na Europa, um produto escasso e caro apenas acessível a uma elite, o mel continuou a ser largamente consumido até finais do século XIX.
Não será especialmente apetitoso saber que o mel começa por ser um líquido extraído das flores (néctar) acumulado num dos estômagos da abelha. Na colmeia, é regorgitado para outras abelhas e sujeito à ação de enzimas digestivos, sendo depois armazenado em favos e selado com cera. Devido a essas enzimas, o mel possui propriedades antibacterianas que permite a sua conservação até ser consumido em períodos de maior escassez de alimento. Será nesta e noutras propriedades bastante elogiadas pelos nutricionistas em que tentarei pensar da próxima vez que comer mel, tentando abstrair-me de enzimas e regurgitações.
Mas a abelha tem uma função muito importante que passa mais despercebida: a polinização. Aliás, este pequeno inseto carrega nos ombros (e noutras partes do corpo) a enorme responsabilidade de polinizar grande parte das nossas culturas agrícolas, sendo também fundamental para que a maioria das espécies de plantas silvestres se reproduzam. As Nações Unidas estimam que 71% de todas as culturas agrícolas que existem no Mundo sejam polinizadas por abelhas, o que representa milhares de milhões de dólares por ano. Ou seja, se as abelhas entrassem em greve geral exigindo colmeias com melhores condições ou mais flores nos campos onde se alimentam, a entidade patronal seria confrontada com o trabalho hercúleo de polinizar campos agrícolas à mão e estas reivindicações seriam rapidamente atendidas.
Este protagonismo é consequência da regressão generalizada de insetos polinizadores, que incluem a abelha-comum não domesticada. Este inseto foi bastante afetado durante os anos oitenta por um ácaro parasita proveniente da Ásia, que foi introduzido em virtude do comércio de abelhas para a apicultura. De qualquer forma, foi também graças a esta atividade que a abelha-comum domesticada resistiu a esta ameaça. Mais recentemente, as abelhas começaram a morrer misteriosamente em colmeias na Europa, E.U.A. e noutras partes do mundo, o que atingiu um pico entre 2006 e 2009. Ainda não se sabe o que causou este colapso das colónias de abelhas, mas presume-se que tenha sido um conjunto de fatores que incluem a degradação do habitat, a disseminação de novas doenças pelo ácaro acima referido, a introdução de novos parasitas e a influência dos pesticidas.
A abelha também se destaca pela sua organização social, que é ocasionalmente comparada à humana. Por exemplo, a descrição da criação de uma abelha-rainha remete certamente para o imaginário da monarquia, mas também faz lembrar um pouco a história de um super-herói. Tudo começa com uma larva vulgar que, em vez de ser picada por uma aranha como aconteceu com o Homem-Aranha ou sujeita a radiações esquisitas como o Hulk, é alimentada exclusivamente com uma substância especial rica em proteínas chamada "geleia real". Para além de crescer mais do que o normal, a abelha-rainha tem como superpoderes uma longevidade extraordinária, uma substância química que comunica à restante colónia que está bem de saúde e um ferrão reutilizável. Depois de acasalar com diversos machos no seu voo nupcial, a abelha-rainha guarda o esperma destes para a sua nobre tarefa de pôr centenas de ovos por dia. À semelhança do que acontece com alguns casais que conheço, todo o restante trabalho é confiado às fêmeas, enquanto que os machos estão encarregues das exigentes tarefas de comer, descansar e fecundar as abelhas-rainhas.
Apesar de não combater o crime, a abelha é considerada um super-organismo, uma vez que as suas colónias funcionam como se fossem um único ser vivo, que tendem a dominar outras espécies de insetos solitários. Pelo sim, pelo não, o melhor é não confiar muito no epíteto de "super" e cuidar bem delas, para que não se ponham para aí a colapsar sem razão aparente.