O candidato não vai ganhar as eleições, mas é o melhor! Os seus discursos empolgam, mistura a Revolução Francesa com a revolução que podem fazer com as suas mãos. "Vão capitular, acomodando-se, ou vão resistir?", lança Jean-Luc Mélenchon do púlpito, que nem se vê, perdido no meio de um enorme pavilhão do parque de exposições da Porta de Versalhes, em Paris. Olha-se antes para os ecrãs gigantes e a sala responde ritmicamente, com uma referência mítica da história francesa: "Resistência! Resistência!"
O candidato da Frente de Esquerda (FG, na sigla em francês), que representa o seu Partido de Esquerda, o Partido Comunista Francês e outras pequenas formações de extrema-esquerda, tornou-se a surpresa desta campanha para as presidenciais. As sondagens para a primeira volta de domingo já chegaram a dá-lo à frente de Marine Le Pen, da Frente Nacional (FN), de extrema-direita - que ele escolheu como sua principal inimiga e alvo dos insultos mais refinados.
Neste momento, Mélenchon tem entre 13% e 14%, segundo as últimas sondagens, e Le Pen recuperou o embalo, com 16% a 17% das intenções de voto - ameaçando igualar o melhor resultado do seu pai numas eleições presidenciais, obtido em 2002, quando chegou à segunda volta. Por isso, a mensagem para as 30 mil pessoas, segundo o jornal Libération - ou 60 mil, segundo a FG -, que encheram bem o hall 1 do Parque de Exposições foi a de terem um outro voto útil.
Boa acção contra Le Pen
"Se com o vosso voto ajudaram a FG a passar à frente da FN, farão uma boa acção pela França e pela Europa", lançou o candidato. Enche a boca com as palavras e deita-as fora com vigor e ênfase, como um verdadeiro tribuno. É fora de moda e, ao mesmo tempo, empolgante.
Não há como fugir a este homem que se vira de um lado para o outro da sala, de dedo em riste, usando as palavras como uma arma automática e que não poupa Marine Le Pen: "Sopeira das Cruzadas, iéti da política francesa, para quem o problema não é o banqueiro, mas o imigrante!" A rematar: "Digo-o e tenho orgulho em dizê-lo: toda a gente come cuscuz neste país, a integração é um sucesso!"
"A sua força de caricatura" é o que Julia Castanier, uma comunista de 27 anos, casacão vermelho-vivo, destaca quando lhe perguntam qual a qualidade de Mélenchon que destacaria. "Ele tem a capacidade de se impor. É um bom orador, mas claro que as ideias da Frente de Esquerda é que são o mais importante. Mélenchon é uma ferramenta muito útil à FG".
Nota-se a inspiração dos novos populistas latino-americanos - recebeu uma carta de apoio do Presidente Rafael Correa, do Equador, que também pôs em marcha uma revolução cidadã, como a que Mélenchon quer lançar, e o candidato fala na "resistência vitoriosa da Venezuela, Argentina, Bolívia". Se ganhasse as eleições, Mélenchon convocaria uma Assembleia Constituinte - está no seu programa, Humanos antes de Tudo, do qual foram vendidos ou distribuídos 400 mil exemplares.
Mas se Le Pen e Sarkozy são alvos preferenciais da sua verve, "o meu camarada François Hollande", em quem a Frente de Esquerda recomendará o voto na segunda volta das presidenciais, a 6 de Maio, também recebe umas estocadas - Mélechon era socialista, e os dois homens enfrentaram-se algumas vezes. O facto de Hollande ter pegado no tema do aumento do salário mínimo - que Mélenchon aumentaria, por decreto, para 1700 euros (brutos), quando agora ronda os 1400 -, embora de forma algo confusa, é usado por Mélenchon para gozar um pouco com o socialista.
O faux-pas de Sarkozy sobre o Banco Central Europeu (BCE), então, serve quase para um número de stand-up: "Perceberam que há problemas com o BCE, ah, que novidade. Ri-qui-qui-qui, o sr. Sarkozy vai ocupar-se disso [a fazer gestos rápidos e pequeninos]. Mas eis que a sr.ª Merkel passa a cabeça pela janela e diz: "O que é isto? Não pode ser." E pronto, pronto, não é nada." O apelo é claro: "Comecem por desembaraçar-se de Nicolas Sarkozy, que não tem futuro nem estratégia política!" "Odeio o Sarkozy, criou uma depressão nacional, toda a gente sofreu com cortes sem sentido e um desinvestimento em áreas fundamentais. A cultura teve cortes completamente estúpidos", diz Judith Davis, uma actriz de 29 anos, comunista há muito tempo e que também já se decidiu por Mélenchon há muito.
Não foi para tirar dúvidas que foi ao comício de encerramento da campanha do tribuno da esquerda mais à esquerda. "Ele faz propostas concretas para um novo sistema económico, para uma verdadeira renovação em França." Hollande, esse arrisca-se a ser a continuação dos últimos 30 anos. "Espero que o equilíbrio de forças que saia das eleições este ano obrigue o PS a fazer uma inclinação à esquerda..."
Brice Morisse, de 30 anos, está noivo da jovem comunista Julia Castanier, funcionária pública. Ele é francês, mas é meio peruano. Em 2007, votou em Sarkozy. "Enganou-me uma vez, não me engana a segunda", diz este chefe de projecto numa empresa de informática. "Vivemos na merda durante os últimos cinco anos, essa é que é a verdade", interrompe Julia. "A saúde custa-nos cada vez mais caro. E o ódio, o racismo, cresceu. E nós, que somos quadros, não podemos mais."
A multidão já só tem uma palavra para Sarkozy: Dégage. Vai-te embora.
O candidato da Frente de Esquerda (FG, na sigla em francês), que representa o seu Partido de Esquerda, o Partido Comunista Francês e outras pequenas formações de extrema-esquerda, tornou-se a surpresa desta campanha para as presidenciais. As sondagens para a primeira volta de domingo já chegaram a dá-lo à frente de Marine Le Pen, da Frente Nacional (FN), de extrema-direita - que ele escolheu como sua principal inimiga e alvo dos insultos mais refinados.
Neste momento, Mélenchon tem entre 13% e 14%, segundo as últimas sondagens, e Le Pen recuperou o embalo, com 16% a 17% das intenções de voto - ameaçando igualar o melhor resultado do seu pai numas eleições presidenciais, obtido em 2002, quando chegou à segunda volta. Por isso, a mensagem para as 30 mil pessoas, segundo o jornal Libération - ou 60 mil, segundo a FG -, que encheram bem o hall 1 do Parque de Exposições foi a de terem um outro voto útil.
Boa acção contra Le Pen
"Se com o vosso voto ajudaram a FG a passar à frente da FN, farão uma boa acção pela França e pela Europa", lançou o candidato. Enche a boca com as palavras e deita-as fora com vigor e ênfase, como um verdadeiro tribuno. É fora de moda e, ao mesmo tempo, empolgante.
Não há como fugir a este homem que se vira de um lado para o outro da sala, de dedo em riste, usando as palavras como uma arma automática e que não poupa Marine Le Pen: "Sopeira das Cruzadas, iéti da política francesa, para quem o problema não é o banqueiro, mas o imigrante!" A rematar: "Digo-o e tenho orgulho em dizê-lo: toda a gente come cuscuz neste país, a integração é um sucesso!"
"A sua força de caricatura" é o que Julia Castanier, uma comunista de 27 anos, casacão vermelho-vivo, destaca quando lhe perguntam qual a qualidade de Mélenchon que destacaria. "Ele tem a capacidade de se impor. É um bom orador, mas claro que as ideias da Frente de Esquerda é que são o mais importante. Mélenchon é uma ferramenta muito útil à FG".
Nota-se a inspiração dos novos populistas latino-americanos - recebeu uma carta de apoio do Presidente Rafael Correa, do Equador, que também pôs em marcha uma revolução cidadã, como a que Mélenchon quer lançar, e o candidato fala na "resistência vitoriosa da Venezuela, Argentina, Bolívia". Se ganhasse as eleições, Mélenchon convocaria uma Assembleia Constituinte - está no seu programa, Humanos antes de Tudo, do qual foram vendidos ou distribuídos 400 mil exemplares.
Mas se Le Pen e Sarkozy são alvos preferenciais da sua verve, "o meu camarada François Hollande", em quem a Frente de Esquerda recomendará o voto na segunda volta das presidenciais, a 6 de Maio, também recebe umas estocadas - Mélechon era socialista, e os dois homens enfrentaram-se algumas vezes. O facto de Hollande ter pegado no tema do aumento do salário mínimo - que Mélenchon aumentaria, por decreto, para 1700 euros (brutos), quando agora ronda os 1400 -, embora de forma algo confusa, é usado por Mélenchon para gozar um pouco com o socialista.
O faux-pas de Sarkozy sobre o Banco Central Europeu (BCE), então, serve quase para um número de stand-up: "Perceberam que há problemas com o BCE, ah, que novidade. Ri-qui-qui-qui, o sr. Sarkozy vai ocupar-se disso [a fazer gestos rápidos e pequeninos]. Mas eis que a sr.ª Merkel passa a cabeça pela janela e diz: "O que é isto? Não pode ser." E pronto, pronto, não é nada." O apelo é claro: "Comecem por desembaraçar-se de Nicolas Sarkozy, que não tem futuro nem estratégia política!" "Odeio o Sarkozy, criou uma depressão nacional, toda a gente sofreu com cortes sem sentido e um desinvestimento em áreas fundamentais. A cultura teve cortes completamente estúpidos", diz Judith Davis, uma actriz de 29 anos, comunista há muito tempo e que também já se decidiu por Mélenchon há muito.
Não foi para tirar dúvidas que foi ao comício de encerramento da campanha do tribuno da esquerda mais à esquerda. "Ele faz propostas concretas para um novo sistema económico, para uma verdadeira renovação em França." Hollande, esse arrisca-se a ser a continuação dos últimos 30 anos. "Espero que o equilíbrio de forças que saia das eleições este ano obrigue o PS a fazer uma inclinação à esquerda..."
Brice Morisse, de 30 anos, está noivo da jovem comunista Julia Castanier, funcionária pública. Ele é francês, mas é meio peruano. Em 2007, votou em Sarkozy. "Enganou-me uma vez, não me engana a segunda", diz este chefe de projecto numa empresa de informática. "Vivemos na merda durante os últimos cinco anos, essa é que é a verdade", interrompe Julia. "A saúde custa-nos cada vez mais caro. E o ódio, o racismo, cresceu. E nós, que somos quadros, não podemos mais."
A multidão já só tem uma palavra para Sarkozy: Dégage. Vai-te embora.
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