Álvaro Cunhal não queria o 25 de Abril
Henrique Raposo (www.expresso.pt)
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Durante o Estado Novo, o PCP minou sempre a oposição anti-salazarista. Cunhal e seus muchachos não toleravam uma oposição não-comunista. Porquê? Segundo Vítor Cunha Rêgo, o PCP estava interessado na manutenção do poder de Salazar. Porquê? "Da ditadura da extrema-direita à ditadura da extrema-esquerda vai o salto de uma cobra" . Décadas depois, Zita Seabra confirmou o diagnóstico de Cunha Rêgo. Os comunistas portugueses, escreveu Seabra, sabiam que "era mais fácil Portugal chegar ao socialismo directamente saído da ditadura". Se o país entrasse na democracia parlamentar, o salto para o comunismo estaria comprometido. É por isso que Cunhal minou sempre as oposiçãos democráticas. É por isso que Cunhal criticou o apoio que o breve PCP não-cunhalista deu a Humberto Delgado.
Em 1957, no V Congresso do PCP, Júlio Fogaça defendeu uma unidade "anti-fascista", uma coligação que juntasse todos os "democratas" e que fizesse um "aproveitamento das possibilidades de luta legal, através dos próximos actos eleitorais". Em consequência, este PCP apoiou Humberto Delgado em 1958. Mais tarde, quando voltou à liderança do partido, Cunhal criticou este apoio. O Generalíssimo do PCP não admitia que os comunistas fossem diluídos numa unidade anti-Salazar e, acima de tudo, Cunhal só admitia a via armada. A urna era para meninos. Portanto, é de admitir a seguinte hipótese: se Cunhal controlasse o PCP em 57/58, aquele partido teria boicotado Humberto Delgado, tal como boicotou outros candidatos após o regresso de Cunhal (1960).
Mas deixemos as suposições contra-factuais e entremos nos factos: Álvaro Cunhal teve medo do 25 de Abril, aliás, Cunhal não queria o 25 de Abril. Porquê? Porque o PCP não controlava o golpe, e porque o golpe podia abrir caminho à democracia parlamentar. A partir do seu trono parisiense, Álvaro Cunhal deu ordens para o partido ter cuidado com o movimento do MFA. Sucede que a liderança interna (Carlos Brito) resistiu a esta relutância cunhalista. A resistência foi tanta que Álvaro Cunhal, em Março de 74, tentou pôr ordem na casa através da convocação de um plenário do Comité Central a ter lugar na URSS em Setembro. Ou seja, Cunhal queria travar o 25 de Abril ou, pelo menos, queria retirar o apoio do PCP ao dito golpe. Insensível à atmosfera de fim de regime que se respirava em Lisboa, Cunhal - a partir de Paris - seguiu até ao fim a velha linha do PCP, a saber: os golpes militares contra o Estado Novo eram "aventureirismos" que o PCP devia boicotar.
Amanhã, as viúvas de Cunhal vão comemorar aquilo que Cunhal queria evitar.
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