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A data histórica para que nos remete o mês de Abril é incontornável, pelo menos para aqueles que, mesmo adolescentes, viveram o primeiro dia de liberdade, conquistada a pulso por muitos dos que, na clandestinidade, se bateram por ela. O dia 25 desse mês, do ano de 1974, amanheceu diferente. Foi, a esta distância de quase quatro décadas, o único dia de verdadeira liberdade, onde todos os portugueses se uniram contra um inimigo comum: a ditadura herdada de Oliveira Salazar, com todas as características de um poder exercido de forma totalitária – a censura na comunicação social e nas artes, a polícia política, os bufos, as perseguições, as prisões, as torturas, as mortes, os lambe-botas, os yes-minister, a proibição de eleições livres, a impossibilidade legal de formação de partidos políticos, enfim tudo aquilo que os jovens de hoje julgam fazer parte de um filme a preto e branco, guardado agora numa prateleira bafienta da Cinemateca de Lisboa. Mas não foi um filme, acreditem.
Faleceu no passado dia 22 de Março, um homem chamado João do Machado, um dos últimos antifascistas montemorenses que, tal como muitos desta terra, lutou durante anos, na clandestinidade, contra esse regime ditatorial que se prolongou entre 1926, com o golpe militar de 28 de Maio, que pôs fim à Primeira República, levando à implantação da Ditadura Militar que terminaria faz agora 38 anos, numa explosão de cravos vermelhos. Em tempos, escrevi um conto em homenagem a esse comunista de gema, baseado num dos muitos episódios da sua vida de luta abnegada, solidária e humanista. Mas, para narrar a vida deste meu velho amigo, seriam necessários mil volumes para escrever sobre a sua luta, o seu sofrimento e a alegria que sentiu naquela manhã de Abril de 1974. Destaco uma frase que o Machadinho soltou numa das nossas conversas sobre as torturas a que foi submetido e que me revelou o Homem, diante do qual me senti um microscópico grão de pó. Disse-me então ele, com um sorriso plácido e franco: “Não guardo rancor de ninguém”.
Ele só queria que o seu empenho e os seus sacrifícios não tivessem sido em vão. Mas começo a ter sérias dúvidas. As questões económicas das famílias vão agravar-se, o deficit democrático também, e o Estado não vai voltar atrás. E ainda agora a procissão vai no adro.
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