«A grande catástrofe não pertence ao passado. É apenas de ontem. Da minha geração. Quando o campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau foi libertado, eu era menino, tinha 3 anos de idade. Ontem faz parte das nossas vidas. A grande catástrofe é de hoje.
Os racistas e xenófobos de hoje, que querem reunir-se em Portugal no próximo dia 10, trazem tatuada, nas t-shirts e na pele, a glorificação dos assassinos de ontem. Enquanto tivermos memória podemos, e devemos, combater com todas as nossas forças qualquer tentativa de fazer reviver o crime que dá pelo nome de Shoah, Holocausto, Catástrofe, Genocídio...
Uso, preferencialmente, Shoah, mas o nome não é o mais importante, porque nenhum nome será capaz de dizer plenamente a parte da nossa História contemporânea em que milhões de pessoas foram não só eliminadas fisicamente, mas também privadas da sua identidade e da sua humanidade.
Não está em causa, apenas, o imperativo dever de não esquecer a Shoah, mas algo mais: está em causa o imperativo ético e político de “tornar presente o que não é da ordem da presença”, como escreveu Jean-Luc Nancy, de tornar visível o que o nazismo de ontem – que o nazismo de hoje pretende comemorar – quis manter invisível.
Para dizer a trágica experiência da Shoah, é pois necessário recorrer a todas as formas possíveis de memória e resistir a toda a reemergência e difusão da ideologia nazi. Sob pena de renunciarmos às nossas responsabilidades perante a História.
Quase oito décadas depois da libertação dos campos da morte continuamos a ser contemporâneos da Shoah e de todas as suas vítimas.»
Abílio Hernandez (facebook)
ladroesdebicicletas.blogspot.com
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