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quinta-feira, 17 de maio de 2018

ALCOCHETE



Quando as estações televisivas fazem longos diretos com os borra-botas em coluna fascista atravessando a cidade à ida e vinda de um jogo de futebol. Quando se mandam polícias pastorear borra-botas pela cidade. Quando os líderes dos clubes são boquirrotos. Quando as capas de jornais desportivos privilegiam as palavras dos boquirrotos em vez do rasgo corrido de Gelson. Quando colunistas de jornais aceitam mostrar-se indigentes, já que o assunto é, julgam eles, só de camisola e emblema. Quando essa arte e ciência que encanta miúdos e velhos é comentada em prime time por tipos talvez de meia-idade e certamente com um terço de inteligência. Quando, com muito share, insultos recíprocos são trocados por gente paga, cara e cara separadas por um palmo mas nunca havendo um gesto honrado que desagrave os desaforos lançados nos perdigotos. Quando as assembleias gerais presididas por bombeiros incendiários têm mais destaque do que o ato luminoso do Perdigão, do Desportivo de Chaves, a cuidar de uma bola. Quando os talentosos Paulinho, do Braga, e o Rafa, do Portimonense, são menos conhecidos do que o Pedro Guerra e o Francisco J. Marques, cujas conversetas têm o dom de tornar a alma dos adeptos mais pequena. Quando se vandaliza em grupo uma estação de serviço e já nem se noticia porque o autocarro dos gatunos e brutos vai a caminho de um estádio... Então, quando tantos miseráveis quandos se acumulam, arriscamo-nos a ver um admirável, forte e grande Bas Dost ferido e com uma lágrima por nós todos.


Ferreira Fernandes
DN

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