Hominídeos da Indonésia sugerem que os humanos não estão isentos de seleção natural.
Crânio de H. Floresensis
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VAMOS DESCOBRIR...
"No início pensamos que fosse uma criança, talvez com 3 anos." Um exame revelou, porém, que os pequenos ossos, recém-desenterrados de uma caverna na ilha indonésia de Flores, pertenciam a um adulto plenamente amadurecido – mas com cerca de 1 metro de altura.
Será que havíamos achado um ser humano moderno cujo crescimento fora tolhido por alguma doença ou por desnutrição? Não. A ossada tinha aparência primitiva, e os outros restos mortais presentes em Liang Bua – “Caverna Fresca”, na língua local, o manggarai – indicavam que o esqueleto não era de nenhum espécime isolado. Na verdade, era típico de toda uma população de criaturas diminutas que no passado ocupou essa ilha remota. O que havíamos achado era um tipo até então desconhecido de ser humano.
De volta ao laboratório, onde analisamos os ossos e outros artefatos, a dimensão de nossa descoberta tornou-se mais clara. Esse pequeno parente dos seres humanos, a quem apelidamos de Hobbit, viveu há 18 mil anos, numa época em que o Homo sapiens – ou seja, pessoas como nós – já se dispersava por todo o planeta. Ele, no entanto, se parecia mais com uma versão reduzida de antepassados humanos 100 vezes mais antigos, encontrados na outra extremidade da Ásia.
Nós havíamos tropeçado em um mundo perdido: pigmeus sobreviventes de uma época anterior, vivendo à margem das principais correntes da pré-história humana. Quem seriam eles?
Com 300 quilômetros de comprimento e situada entre a Ásia e a Oceania, a ilha de Flores nunca esteve ligada por pontes de terra a qualquer dessas massas continentais. Mesmo nos períodos em que o nível do mar estava baixo, a navegação da Ásia até Flores, com escalas, exigia travessias oceânicas de até 24 quilômetros. Antes que os seres humanos começassem a levar animais, como porcos e cães, para a ilha, há 4 mil anos, os únicos mamíferos que lá chegaram foram os estegodontes (um antepassado dos elefantes) e roedores – os primeiros, nadando, e estes, de carona em troncos à deriva. Nenhum povo chegou a Flores até os homens modernos, dotados de inteligência suficiente para construir barcos. Pelo menos, era isso o que sustentavam os cientistas.
Nas décadas de 1950 e 1960, entretanto, o padre Theodor Verhoeven, arqueólogo amador, já encontrara sinais de presença humana anterior em Flores. Na bacia de Soa, ele achou instrumentos de pedra, junto a fósseis de estegodonte, cuja idade estima-se de 750 mil anos. Uma vez que o Homo erectus, um hominídeo arcaico, encontra-se na ilha vizinha de Java há pelo menos 1,5 milhão de anos, Verhoeven concluiu que espécimes de H. erectus haviam conseguido atravessar o mar e chegar a Flores.
Tais alegações extraordinárias não impressionaram os arqueólogos profissionais. Na década de 1990, porém, outros pesquisadores recuaram a idade dos artefatos da bacia de Soa para 840 mil anos. Verhoeven estava certo: os hominídeoshaviam chegado a Flores bem antes de a ilha ser alcançada por humanos modernos. Todavia, nenhuma ossada deles jamais fora encontrada.
Foi isso o que nos levou à ilha, até Liang Bua, no planalto ocidental de Flores. "Em setembro de 2003, nossa equipe de pesquisadores indonésios e australianos, auxiliados por 35 trabalhadores manggarais, já escavara 6 metros no piso da caverna. As camadas recentes eram ricas em instrumentos líticos e ossos de animais, mas ainda assim parecia difícil atingir nosso objetivo."
www.bioorbis.org
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