Dizia-me há dias um amigo que há anos que não via televisão. Estranhei. Tratava-se de uma pessoa altamente responsável, antigo quadro político de âmbito nacional, com inúmeras e permanentes provas, ao longo dos tempos, de interesse e participação na vida da comunidade. Percebi que acima de tudo se tratava de uma sustentável aversão ao quotidiano informativo que a televisão reproduz. E concluo que ele tinha toda a razão. Eu próprio sinto o mesmo.
Ele fartara-se (é o termo certo!) das manobras de manipulação daquela cambada de cartilheiros ao serviço do império, ao serviço do dinheiro, ao serviço do poder de facto. Ele, habituado ao confronto de ideias, á dialéctica da opinião baseada na razão, ao respeito pela pluralidade, fartara-se enojado do discurso previsível, do maniqueísmo, da falsidade informativa de tantos avençados. Sim, que quem domina modernamente nas televisões, quem instrumentaliza a informação, os conteúdos, as agendas, é gente que só subiu na carreira mostrando uma certa fidelidade, beijando mãos enluvadas, silenciando realidades incómodas. O jornalismo deixou de ser ético, escola, compromisso com a verdade e passou a ser detergente para amaciar consciências. A máquina desinformadora é global, sem cedências fáceis á qualidade.
São paradoxalmente amigos do Trump, apesar de o considerarem idiota. São amigos de Israel, apesar de saberem ser um Estado terrorista. São amigos das petro-monarquias árabes, apesar de as considerarem medievais e reaccionárias. São amigos dos populistas neofascistas, apesar de os considerarem anacrónicos.
Nas suas bocas há sempre um visco, um ódio profundo contra os resistentes, os não-alinhados, os independentes, os defensores de alternativas. Não citarei alguns dos seus nomes, por serem o que são. E produzirem o que produzem: lixo informativo, nauseabundo, contaminado. Quer seja sobre o Brasil, a Venezuela, Angola, ou a Coreia do Norte. Quer seja sobre a guerra, a corrupção, a violência desportiva ou os offshores. Quer seja sobre a soberania alimentar, a poluição ambiental, a politica fiscal ou de crédito. Na televisão eles nunca deixarão de produzir o que sabem fazer melhor: propaganda.
CR
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