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terça-feira, 12 de dezembro de 2017

HISTÓRIA DOS SURDOS

            

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                                             HELLEN ADAMS KELLER    E    ANNE SULLIVAN  MACY

                                                           


Ao pesquisarmos a trajetória da comunidade surda espalhada pelo mundo, verificamos o quanto os surdos sofreram segregação, perseguição, exclusão e em alguns lugares perderam o direito de viver. Simplesmente por serem diferentes da maioria (normal/ouvinte). Da mesma forma, na atualidade comunidades tidas como inferiores, foram e ainda são tratadas com desprezo, vivendo à margem da sociedade.  Ao analisarmos na atualidade os programas de inclusão social, implantados por Leis e Decretos, se observa certa lentidão em serem postos em prática, ora por má vontade, geralmente das políticas públicas, ora dos gestores educacionais. Sem citar o etnocentrismo incoerente vigente em nossa sociedade.  Apesar de estarmos em plena era da globalização, onde a determinação do cumprimento dos direitos humanos e uma vivência democrática estejam sacramentadas pela ONU, não se cumprem na totalidade em nosso dia a dia. 

A autora Perlin (2004, p.80) cita: “As narrativas surdas constantes à luz do dia estão cheias de exclusão, de opressão, de estereótipos”.

Somente a partir do século XVI é que surgem os primeiros educadores, preocupados em provar uma filosofia adequada e condizente, frente à natureza diferente da comunidade surda, e em consonância com suas aspirações de liberdade em se comunicarem com sua língua materna e natural – a língua de sinais.

Esta preocupação educacional de surdos deu lugar às aparições de numerosos professores que desenvolveram, simultaneamente, seus trabalhos com os sujeitos surdos e de maneira  independente, em diferentes  lugares  da Europa.  Havia professores que se abocavam na tarefa de comprovar a veracidade da aprendizagem dos sujeitos surdos ao usar a língua de sinais e o alfabeto manual e em muitos lugares havia professores surdos (STROBEL, 2006, p. 248).

No antigo Egito as pessoas surdas, recebiam adoração similar aos deuses locais, e faziam a mediação entre os deuses e os Faraós, obtendo assim grande admiração, sendo temidos e respeitados. (CARVALHO, 2007).       

Na nação hebreia, no Pentateuco, a Lei Hebraica faz referência aos surdos e cegos, sendo protegidos e tidos como cidadãos.  Já os chineses lançavam as crianças surdas ao mar. Os gauleses sacrificavam aos seus deuses Teutates. Na Grécia os surdos eram considerados como indivíduos incapazes. Aristóteles ensinava que os surdos por não terem linguagem, seriam incapazes de raciocinar. Em Esparta jogavam os recém-nascidos surdos do alto dos rochedos. Sêneca afirmava: “Matam-se cães quando estão com raiva; exterminam-se touros bravios; cortam-se as cabeças das ovelhas enfermas para que as demais não sejam contaminadas; matamos os fetos e os recém-nascidos monstruosos; se nascerem defeituosos afogamo-los, não devido ao ódio, mas a razão, para distinguirmos as coisas inúteis das saudáveis”.          Os Romanos consideram os surdos imperfeitos, sem direito a cidadania. Não tinham o direito de celebrar contratos, elaborar testamentos e ate de possuir propriedades ou reclamar heranças. Exceto aos surdos que conseguiam falar. (CARVALHO, 2007).      

Em Constantinopla os surdos eram tratados segundo os mesmos princípios dos Romanos. Embora realizando algumas tarefas, tais como: o serviço de corte, como pajens das mulheres, bobos da corte, serviços braçais. A Igreja da Idade Media, acreditava que os surdos não teriam salvação. Fato evidenciado por não proferirem os sacramentos.

O primeiro registro que temos de um surdo sendo ensinado a falar ocorreu em 700 D.C através de John Beverley considerado o primeiro educador de surdos.

No Renascimento com o advento da “razão”, os deficientes conquistam alguns direitos. (CARVALHO, 2007).  

Pedro Ponce de Leon, monge beneditino nascido na Espanha (1520 – 1584), era o educador dos filhos surdos dos nobres.  Desenvolve o alfabeto manual. Funda em Madri a primeira Escola para Surdos. Ponce é considerado o “Pai da Educação dos Surdos” (MOURA, LODI, HARRISON, 1997).

A Revista edição 08-1 da Editora Arara Azul apresenta um Artigo: Educação e Surdez: Um Resgate Histórico pela Trajetória Educacional dos Surdos no Brasil e no Mundo.  (KATIA REGINA CONRAD LOURENÇO e ELENI BARANI).
“Ponce constituiu uma escola para Surdos em seu próprio monastério. Utilizava, para educar seus alunos, um alfabeto bi-manual – utilizando ambas as mãos – e alguns sinais simples. No entanto, Gomes (2008, p.9) afirma que “Dessa forma, com o alfabeto bi-manual o estudante aprendia a soletrar, letra por letra, qualquer palavra, mas não a se comunicar”.
http://editora-arara-azul.com.br/site/edicao/53  acesso 10/12/2015.

Juan Pablo Bonet, utilizando o trabalho de Leon, escreveu sobre as maneiras de ensinar os surdos. Por meio do alfabeto manual, os ensinava a ler e a falar. Porem Bonet não permitia o uso da língua gestual, utilizando o método oral. (JANNUZZI, 2004), relata acerca do trabalho de Bonet:

“A linguagem visível, na forma de alfabeto visual, foi publicada por Juan Pablo Bonet, em 1620, no livro Reducción de las letras y arte de enseñar a hablar a los mudos, este explicava como exercitar o educando para a emissão dos sons.”

John Bulwer médico inglês afirmava que a língua gestual deveria ser usada como o principal método na educação. O primeiro a desenvolver uma metodologia de comunicação com os surdos. Publicou vários livros, atestando o uso de gestos. No início do século XVI o médico italiano Gerolamo Cardano (1501 – 1576), Afirmava que a escrita poderia representar os sons da fala, ou ideias do pensamento, sendo assim, o surdo (mudez) não impedia o acesso ao conhecimento. Em seu tempo atuava de forma totalmente contraria aos médicos. Procurou desenvolver e estudar uma metodologia para a educação dos surdos. Em 1579, Rosselius escreveu Theasaurus, que seria um alfabeto manual italiano. (SOARES, 1999).

John Wallis (1616 – 1703) Após varias tentativas de oralização dos surdos, desistiu dessa metodologia e partiu para o ensino da escrita. Mas para tal façanha, utilizava os gestos na comunicação. Escreveu o livro Da Fala ou da Formação dos Sons da Fala (1698), sua publicação inaugurou os estudos do desenvolvimento oral, que alavancou a fonoaudiologia atual.

George Dalgarno desenvolveu a dactilologia, sistema inovador.           Konrah Amman era ardoroso defensor da leitura labial. Para ele os surdos que não falassem não eram considerados humanos. Amman não utilizava a língua gestual. Para o educador os gestos atrofiavam a mente dos surdos. Porem, em seu método de ensino concebia o uso dos gestos, para atingir a oralidade. (SOARES, 1999).

Charles Michel de L`Epée nascido em 1712, reconheceu que a língua gestual fazia parte da vida dos surdos. L`Epée contribui grandemente para a comunidade surda criando uma filosofia manualista  e oralista. Segundo GREMION (1998, p.47), esta seria a primeira vez na história, onde a comunidade surda adquiriu o direito de se comunicarem na língua materna (língua de sinais).

•          Instituto Nacional de Surdos-Mudos em Paris. A primeira escola de surdos no mundo.

•          Reconhecimento do surdo como ser humano.

•          Reconhecimento da língua gestual como meio de comunicação.

•          Adoção do método de educação coletiva.

•          Entendeu que ensinar um surdo a falar era perda de tempo. (GOLDFELD, 1998).



O método de L’Epée originou a palavra gestualismo, pois tal abordagem usava a língua de sinais. Conforme citação de Lacerda (1998, p. 7), para L’Epée :

[...] a linguagem de sinais é concebida como a língua natural dos surdos e como veículo adequado para desenvolver o pensamento e sua comunicação. Para ele, o domínio de uma língua, oral ou gestual, é concebido como um instrumento para o sucesso de seus objetivos e não como um fim em si mesmo. Ele tinha clara a diferença entre linguagem e fala e a necessidade de um desenvolvimento pleno de linguagem para o desenvolvimento normal dos sujeitos.

Thomas Braidwood fundou uma escola para surdos, em Edimburgo. Essa foi a primeira escola da Europa que fazia a correção da fala.

Samuel Heinicke (1723 – 1790) criou as bases da filosofia do oralismo. Seu método de aprendizagem era ensinar os surdos a falar. Tal metodologia foi muito defendida no congresso de Milão em 1880. (KOJIMA; SEGALA, 2003).

Na Espanha Jacob Rodrigues Pereira (1715 – 1780) tendo uma irmã surda, inicia seus estudos sobre a surdez. Em 1744 na França da inicio a educação dos surdos.

Roch-Ambroise Cucurron Sicard (1742 – 1822), abade francês fundador da Escola de Surdos de Bordeus, em 1782. Ficou famoso pelo seu trabalho como educador dos surdos. Posteriormente se uniu a L'Epée no Instituto Nacional dos Surdos-Mudos em Paris, de 1800 até 1820 (JANNUZZI, 2004).

O francês Auguste Bébian, um ouvinte, aprendeu a Língua de Sinais no Instituto de Surdos de Paris, logo após escreveu o livro Mimographia, em 1822, tido como a primeira tentativa de transcrição da língua de sinais (GUARINELLO; MASSI; BERBERIAN, 2007).

Pierre Desloges nascido na França ficou surdo aos sete anos de idade devido à varíola. Defensor atuante da língua gestual. Também foi o primeiro escritor surdo. Em seu livro defendia que a língua gestual já existia, mesmo antes da criação das primeiras Escolas de Surdos.

Jean Marc Itard (1774 – 1830), primeiro médico francês a interessar-se pela temática da surdez e deficiências auditivas. Usavam em suas pesquisas cargas elétricas, sangramentos, perfuração de tímpanos, entre outros. Após anos de pesquisas, concluiu que a língua gestual era o método ideal na educação de surdos. Em 1821, publicou o livro Traité des maladies de l’oreille et de l’audition, no qual afirmava que o surdo poderia ser educado apenas pela fala (GUARINELLO; MASSI; BERBERIAN, 2007).

Jean Massieu foi um dos primeiros professores surdos do mundo. (Wikipédia).

Laurent Clerc surdo de origem francesa e educador acompanhou     Thomas Hopkins Gallaudet, educador ouvinte, aos EUA, onde fundaram uma escola para surdos, em abril de 1817, a Escola de Harford.  Gallaudet instituiu a Língua Gestual Americana na escola. Usando o inglês escrito e o alfabeto manual em sua metodologia. Já em 1830 existiam nos EUA cerca de 30 Escolas para Surdos. (Wikipédia).

Edward Miner Gallaudet, filho de Thomas Gallaudet deu continuidade ao trabalho de seu pai. Conseguindo reconhecimento das autoridades americanas no estatuto do Instituto de Columbia a colégio. Esse colégio veio em 1857, a tornar-se Universidade Gallaudet. Onde por 40 anos a presidiu. (GOLDFELD, 1998).

Em fins de l830 ocorre uma grande mobilização da comunidade surda na França. Ferdnand Berthier, líder do movimento Surdo, escreve ao rei Luis Filipe pedindo que Bebian ex-diretor do Instituto Nacional de Surdos-Mudos fosse readmitido. Em face de ser defensor do método gestual. Nesse período existia uma ferrenha luta. Um pelo método oralista e outros pelo método gestualista. Nessa época quase todas as escolas da França usavam o método de Bebian na educação dos surdos. (Wikipédia).

Em 1834 um comitê de dez membros surdos sob a liderança de Berthier organizou um banquete em honra do abade de L`Epée. Com o tempo estes banquetes realizados anualmente, tornaram-se festivais de Língua Gestual.

Em 1838 foi fundada a Sociedade Central de Assistência e Educação de Surdos-Mudos. Sendo a primeira no mundo. (Wikipédia).

Antes do Congresso de l880 na Europa havia duas tendências distintas na educação dos surdos. O gestualismo ou método francês e o oralismo ou método alemão. Alexander Graham Bell (1847 - 1922), inventor do telefone e do aparelho audiométrico nos EUA era um ardente propagandista do método oralista e totalmente contrário à língua de sinais (KOGIMA E SEGALA, 2003).

Em 1883 o padre Bonhomme, funda a Congregação das Irmãs de Nossa Senhora do Calvário, na França, inicia um trabalho cuidando de crianças pobres, deficientes, enfermos, idosos e posteriormente de pessoas surdas. (Pastoral dos Surdos, 2006).

Em 1872 ocorre em Veneza um congresso decidindo o seguinte:

•          O meio humano para a comunicação do pensamento é a língua oral;

•          Se orientados os surdos leem os lábios e falam;

•          A língua oral tem vantagens para o desenvolvimento do intelecto, da moral e da linguística. 

O Congresso de Milão em 1880 no período de 06 a 11 de setembro, contou com a participação de 182 pessoas, sendo a maioria de ouvintes. Estiveram presentes os seguintes países: Alemanha, Bélgica, Canadá, Estados Unidos, França, Inglaterra, Itália, Suécia e Rússia. (SILVA et. al, 2006). Segundo Skliar (1997, p. 109), as resoluções adotadas durante o Congresso dividiram a história educacional da comunidade surda em dois períodos:

Um período prévio, que vai desde meados do século XVIII até a primeira metade do século XIX, quando eram comuns as experiências educativas por intermédio da Língua de Sinais, e outro posterior, que vai de 1880, até nossos dias, de predomínio absoluto de uma única 'equação', segundo a qual a educação dos surdos se reduz à língua oral.

Foi um marco trágico para a comunidade surda no mundo inteiro. Um profundo retrocesso à educação dos surdos.   A comissão do congresso era unicamente de ouvintes. Os surdos não tiveram direito a defesa. Total manifestação de segregação e autoritarismo. Em face da imposição do método oralista, os surdos ficaram proibidos de se comunicarem através da gestualidade. Perdurando esse método do oralismo durante fins do século XIX e grande parte do século XX.

O Congresso durou três dias e foram votadas oito resoluções. O uso da língua falada, no ensino e educação dos surdos, deve se preferir à língua gestual;

1.         O uso da língua gestual em simultâneo com a língua oral, no ensino de surdos, afeta a fala, a leitura labial e a clareza dos conceitos, pelo que a língua articulada pura deve ser preferida;

2.         Os governos devem tomar medidas para que todos os surdos recebam educação;

3.         O método mais apropriado para os surdos se apropriarem da fala é o método intuitivo (primeiro a fala depois a escrita); a gramática deve ser ensinada através de exemplos práticos, com a maior clareza possível; devem ser facultados aos surdos livros com palavras e formas de linguagem conhecidas pelo surdo;

4.         Os educadores de surdos, do método oralista, devem aplicar-se na elaboração de obras específicas desta matéria;

5.         Os surdos, depois de terminado o seu ensino oralista, não esqueceram o conhecimento adquirido, devendo, por isso, usar a língua oral na conversação com pessoas falantes, já que a fala se desenvolve com a prática;

6.         A idade mais favorável para admitir uma criança surda na escola é entre os 8-10 anos, sendo que a criança deve permanecer na escola um mínimo de 7-8 anos; nenhum educador de surdos deve ter mais de 10 alunos em simultâneo;

7.         Com o objetivo de se implementar, com urgência, o método oralista, devia ser reunido às crianças surdas recém-admitidas nas escolas, onde deveriam ser instruídas através da fala; essas mesmas crianças deveriam estar separadas das crianças mais avançadas, que já haviam recebido educação gestual, a fim de que não fossem contaminadas; os alunos antigos também deveriam ser ensinados segundo este novo sistema oral.


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