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terça-feira, 12 de dezembro de 2017

O DIREITO À INDIGNAÇÃO QUANDO A CORRUPÇÃO E A GATUNICE OCUPAM O DIA A DIA DOS PORTUGUESES - SIM! CONCORDO COM O TEXTO DE OPINIÃO DO JORNALISTA MAS NÃO SE TRATA SÓ DE CAMARÃO E DE INSULTOS GROSSEIROS NO FACEBOOK



230 euros em camarão podem cegar?


Pedro Tadeu
A primeira coisa que me veio à cabeça quando a TVI começou a passar a reportagem sobre os supostos abusos financeiros da líder da Associação Raríssimas foi um pensamento extremamente injusto: "É a vigarice do costume nos negócios da caridadezinha."
A minha profissão de jornalista já me obrigou a acompanhar múltiplos casos de contas duvidosas ou mal explicadas em muitas instituições particulares de solidariedade social (IPSS), prestigiadas, cuja atividade depende, no todo ou em grande parte, de subsídio estatal.
Também na minha vida pessoal, nas vezes em que decidi envolver-me no apoio à atividade de organismos desse tipo, apanhei enormes desilusões com o comportamento dos seus dirigentes, que a opinião pública respeita e o Estado medalha: nepotismo, autoritarismo, arrogância, ignorância e cupidez são, infelizmente, realidades que encontrei com tal frequência que me parece ser fácil admitir a sua banalização nestas "ilhas" de poder discricionário, encoberto e desculpado pela intenção mobilizadora de bondade e de solidariedade para com o próximo, desfavorecido, vítima ou doente.
Trinta anos de noticiário que escrevi ou editei e outro tanto de ações cívicas em que me envolvi, direta ou indiretamente, devem ter transformado a minha fé nestas instituições num sentimento de cinismo prevalecente, apriorístico, que desconfia e torce o nariz logo que alguém se apresenta como um "campeão" da defesa dos desgraçadinhos....
E, inevitável, penso: "Onde está afinal o negócio deste tipo?..." Mas é injusto, não pode ser assim.
A primeira reação a um trabalho jornalístico de mérito e com o impacto que a repetição exaustiva nos ecrãs da TVI provoca não é uma reação racional. A indignação toma conta de nós e, com a turba, começamos a pedir cabeças, a exigir sangue derramado para curar a anémica incapacidade, coletiva, de impedir abusos deste tipo.
Mas temos de resistir à turba.
Não, não assinei petições a exigir a demissão da tia Paula Brito e Costa, que beijava neste fim de semana, em imagens de arquivo, infinitamente repetidas, a princesa Letizia e a primeira-dama Cavaco Silva. Não, não fui para o Facebook escrever insultos grosseiros contra a associação que ajuda pessoas com doenças raras. Não, não quero justiça já... Primeiro quero respirar e... pensar!
Antes de sentenciar, de vez, a Raríssimas quero saber porque é que o Estado lhe dá, num ano, 875 mil euros em subsídios.
Antes de sentenciar, de vez, a Raríssimas, quero saber que ajudas concretas foram dadas às 800 mil pessoas que a associação diz apoiar.
Antes de sentenciar, de vez, a Raríssimas, quero saber que doenças raras (serão?...) atingem tantas centenas de milhares de pessoas, num país tão pequeno, ainda por cima ao mesmo tempo.
Antes de sentenciar, de vez, a Raríssimas, quero saber porque é que o Estado precisa de uma IPSS como esta... E como outras também.
Antes de sentenciar, de vez, a Raríssimas, quero saber porque é que o Estado não fiscaliza seriamente o dia-a-dia das IPSS.
Antes de sentenciar, de vez, a Raríssimas, gostava de conhecer um levantamento sintético da atividade e dos custos de todas as IPSS e detetar as que são inúteis ou perdulárias.
Antes de sentenciar, de vez, a Raríssimas, quero saber o que está a ser feito, já, para aqueles que são ajudados pela associação, os que precisam mesmo dessa ajuda, não fiquem, de repente, sem nada.
Só depois, então, indignar-me-ei com a encomenda de 230 euros em camarão paga pela Raríssimas ao El Corte Inglés.

https://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/

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