“ Vinhas das minhas,
Olivais dos meus pais
e Montados
dos meus Antepassados.”
O Montado português é uma das mais belas paisagens do mundo.
As florestas de Sobreiros e de Azinheiras, existentes, sobretudo, no sul de Portugal, constituem um ecossistema de rara beleza, um modo de vida de muitos portugueses e a sustentabilidade de uma industria vital para o país.
Falamos, essencialmente do Sobreiro, árvore que pode viver cerca de trezentos anos e chegar aos vinte e cinco metros de altura. Tornando-se numa espécie imponente, frondosa e de beleza ímpar.
Quantos de nós não teremos já ficado maravilhados com a visão destas árvores, nos passeios, que fizemos pelo campo? Em Outubro quando estão com aquele vermelho intenso constituem uma visão única.
Eu sou um apaixonado por árvores, já plantei dezenas delas e deslumbro-me com as suas cores, afloramento e desenvolvimento, considero o Sobreiro uma árvore nobre, magnificente e esplendorosa. Dai, ser património nacional e ser um orgulho de todos nós.
É na bacia mediterrânica – Argélia, Marrocos e sul da Península Ibérica – em que há influência Atlântica e que os solos são pobres que existem estas árvores. Portugal possui a maior extensão do mundo, cerca de 730 mil hectares e 33% de toda a área.
Constitui o montado de sobro 21% da área florestal de Portugal. Está presente em todo o território nacional, embora, a grande concentração seja no Alentejo.
A grande riqueza dos sobreiros está na extracção da cortiça, processo que é realizado de nove em nove anos. O tecido vegetal que envolve a árvore - a sua casca - é cuidadosamente retirada (descortiçamento ou tiragem), de forma manual (com um machado), e por um saber que passa de gerações em gerações.
Feito no meio do Verão, quando a casca sai mais facilmente. O cheiro que liberta da extracção e a cor que apresenta são sensações únicas para os nossos sentidos.
pintura rei D. Carlos
É a única árvore do mundo em que se extrai a sua casca sem a matar.
Logo depois deste processo é feita uma marcação com cal que representa o ano da próxima tiragem.
Este processo julga-se que tenha começado à cerca de 300 anos, embora, haja indícios de que os romanos já o conheciam.
A sua utilidade é, sobretudo, para o fabrico de rolhas, onde somos o principal exportador mundial. Outras utilizações são os mosaicos e flutuadores e, cada vez mais, as pequenas utilidades: Chapéus-de-chuva, bonés, carteiras, mesas, malas, etc. Da cortiça consumida em todo o mundo 50% é portuguesa. A indústria que gira à sua volta dá emprego a cerca de 60.000 trabalhadores.
O futuro não está, no entanto, salvaguardado. Uma crescente utilização e produção de rolhas sintéticas e a denegrição da qualidade da rolha de cortiça (sabor e cheiro a rolha no vinho) puseram em causa a sustentabilidade dos montados.
Julgamos que houve uma reacção correcta dos operadores portugueses: por um lado multiplicaram e diversificaram os usos a dar à cortiça e por outro lado investiram no aumento de qualidade, na modernização e no controlo do produto.
Como é óbvio está, também, nas nossas mãos respeitar os produtos portugueses, não consumindo vinhos que não tenham rolhas de cortiça.
Mas deixemos a parte do montado, que tem que ver com a cortiça, e olhemos para outra vertente deste ecossistema maravilhoso - a sua fauna e flora.
Existe inúmera vida nestas florestas de sobreiros e azinheiras.
Desde aquela que é imposta pelo o homem: o cultivo que é feito nos espaços abertos, aos rebanhos de ovelhas, varas de porcos ou manadas da vacas (mertolengas, charolesas, cruzadas, limousines, mirandesas e barrosãs) que se alimentam neste habitat. À vegetação e explosão de flores selvagens (alfazema, orégãos, esteva, rosmaninho, hortelã-pimenta, murtas etc,) passando pelos habitantes que de forma perene ou ocasional passam pelo montado: lebres, raposas, doninhas, lobos, javalis, cobras, ratos de cabrera, salamandras, sardões, lince-ibérico (raríssimo em vias de extinção), etc.
No domínio das aves o montado é um território privilegiado, para mais de cem espécies que aqui nidificam: falcões, mochos, picanço-real, cegonhas, aguias, milhafres, abutres, piscos, tordos, tentilhões, pica-pau, garças-reais, poupas, rouxinóis, peneireiros, grifos, abelharucos, grous etc.
Para mim a mais majestosa e bela é a cegonha-preta com as suas marcas de vermelho, preto, branco e leves tonalidades de verde. Grandiosa, com o seu planar suave. Bela pela sua raridade e imponência. Impressionante. Talvez por ser beirão e um dos lugares de culto destas aves ser Monfortinho e Segura. Gosta de sítios calmos e tranquilos e evita todo o sinal de perturbação. O chamamento que faz à fêmea e a pose que coloca nos céus é indescritível.
Agora, coloquem todos os vossos sentidos em acção e visitem estes campos na Primavera. Vejam tudo florido. Ouçam a parafernália de sons do montado. Cheirem os odores intensos das flores silvestres. Observem os rituais de acasalamento dos animais. Provem a gastronomia regional. Será que o paraíso não existe? - Claro que sim - apesar dos esforços do ser humano para o contrariar.
Se, até agora nos detivemos mais no sobreiral não queremos esquecer o seu parente próximo: a azinheira. Ambas convivem no mesmo espaço, embora haja só montados de sobro e outros só de azinho.
É nesta simbiose que surgem todas as condições para a criação do porco preto alentejano – outro património português de excelência.
A bolota, que começa a cair destas árvores a partir de Outubro, constitui a alimentação favorita destes animais, conferindo à sua carne um sabor inconfundível. Esta alimentação, bem como, o andar ao ar livre pelo montado fazem a sua diferenciação.
O porco preto, desde sempre, fez parte da paisagem alentejana. Teve uma crise, profunda, nas décadas de 60, 70 e 80 do séc. XX. Vários factores contribuíram para isso:
- O despovoamento, fruto da emigração e das migrações para o Litoral em busca de trabalho com a industrialização.
- Concentração de abates e encerramento de matadouros municipais.
- Peste suína africana.
- Campanha contra estas gorduras de origem animal (facto que eu presenciei, fruto de ignorância momentânea, contra o saber milenar das populações).
Na última década deu-se um volta-face. A crescente perda de qualidade da carne e os dados científicos que provam que a carne e a gordura do porco ajudam a regular o colesterol e a prevenir as doenças cardiovasculares contribuíram para o ressurgimento do porco preto.
Sempre esteve na dieta mediterrânica. Considerada a melhor do mundo. Feita de culturas ancestrais que passaram de geração em geração. Além de ajudarem a fixar as populações no interior contribuem para a sustentabilidade do ecossistema dos montados.
Foi feito pela BBC um documentário sobre o montado que eu recomendo vivamente, aqui deixo um link:
Documentário: "Forest in a Bottle" from EcoLogicalCork.com on Vimeo.
olugardomouro.blogspot.pt
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