BAPTISTA BASTOS | b.bastos@netcabo.ptO referendo é um instrumento dos mais democráticos a que se pode recorrer. E, a verdade, é que a maioria dos povos nunca foi consultada sobre se queria ou não pertencer à "União".
Uma endemia de rejeição à "União" Europeia parece assolar aquela organização político-económica. Depois da saída do Reino Unido, sabe-se que na Holanda, Áustria, Itália e, até, em Portugal (por declarações do Bloco de Esquerda), a ideia do referendo toma proporções. E importantes movimentos, como o Podemos, em Espanha, manifestam claramente a intenção de referendar as próprias estruturas de "União" que, segundo eles, não são democráticas e dirigidas por burocratas que nunca foram eleitos, e agem como donos e senhores dos países que constituem a organização. O mal é quando as ideias nascem, disse-o Maquiavel, em "O Príncipe", porque se transformam sempre em convicções.
O estranho de isto tudo é a aparente unanimidade entre sectores da direita e da esquerda contra a hipótese referendária. Porém, o referendo é um instrumento dos mais democráticos a que se pode recorrer. E, a verdade, é que a maioria dos povos nunca foi consultada sobre se queria ou não pertencer à "União". A política do facto consumado fez lei, assim como o surgimento do "directório" franco-alemão, com o pobre François Hollande a fazer o triste papel de serventuário de Angela Merkel, que, por seu turno, mais não é do que o factótum dos grandes interesses e da alta finança germânicos.
Muita gente relevante já percebeu, já tinha entendido, que a generosa ideia de uma Europa fraterna, solidária e unida não passava de uma simpática utopia. Como sempre, o mais forte tornou-se hegemónico, a Alemanha, claro!, que tem os cofres cheios pela própria natureza do seu poder. E a saída do Reino Unido pouco ou nada afectará os negócios extraterritoriais entre os dois países.
Quando em Portugal, da esquerda à direita, se ouve dizer que o referendo sugerido e até proposto pelo Bloco de Esquerda não é oportuno, qual o significado deste "retardar"? E quem cria as oportunidades? Esta Europa é o que é porque assim o quis o grande capital. Ninguém é consultado sobre o que quer que seja, e a admissão das decisões é tida como "normal". A aplicação de sanções a Portugal suscitou alguma indignação, mas as coisas passam-se sem que o núcleo do problema seja clarificado.
A "refundação" da Europa, como alguns pretendem, para salvar os escombros, não tem razão de ser. Como já disse e repito, nenhuma organização deste tipo, ou partido, se consegue "reformular" por dentro. As raízes do propósito, embora ingénuas, já não existem. O poder do dinheiro sobrepôs-se à natureza da ideia. E os países mais pobres são implacavelmente esmagados pelos mais fortes. Até o confuso, mas espertalhão, Durão Barroso já declarou que a "União" corre perigo se as coisas não se modificarem. Não disse como, claro!
A saída do Reino Unido começou por uma proposta de estratégia eleitoral de Cameron, cuja cabecinha não está propriamente hipotecada à inteligência. Mudou de carril, quando se apercebeu de que abrira a caixa de Pandora. Era tarde. A Grã-Bretanha fora da "União" emerge de um disparate. Claro que os negócios e os interesses continuam, mas terão de seguir outros caminhos. No entanto, as ideias de desintegração prosseguem e crescem. Cuidado! W
NOTA A TEMPO: O autor agradece as manifestações de simpatia de muitos leitores quando foi sujeito a uma pequena intervenção cirúrgica, que o fez ausentar, durante uma semana, desta coluna.
O estranho de isto tudo é a aparente unanimidade entre sectores da direita e da esquerda contra a hipótese referendária. Porém, o referendo é um instrumento dos mais democráticos a que se pode recorrer. E, a verdade, é que a maioria dos povos nunca foi consultada sobre se queria ou não pertencer à "União". A política do facto consumado fez lei, assim como o surgimento do "directório" franco-alemão, com o pobre François Hollande a fazer o triste papel de serventuário de Angela Merkel, que, por seu turno, mais não é do que o factótum dos grandes interesses e da alta finança germânicos.
Muita gente relevante já percebeu, já tinha entendido, que a generosa ideia de uma Europa fraterna, solidária e unida não passava de uma simpática utopia. Como sempre, o mais forte tornou-se hegemónico, a Alemanha, claro!, que tem os cofres cheios pela própria natureza do seu poder. E a saída do Reino Unido pouco ou nada afectará os negócios extraterritoriais entre os dois países.
Quando em Portugal, da esquerda à direita, se ouve dizer que o referendo sugerido e até proposto pelo Bloco de Esquerda não é oportuno, qual o significado deste "retardar"? E quem cria as oportunidades? Esta Europa é o que é porque assim o quis o grande capital. Ninguém é consultado sobre o que quer que seja, e a admissão das decisões é tida como "normal". A aplicação de sanções a Portugal suscitou alguma indignação, mas as coisas passam-se sem que o núcleo do problema seja clarificado.
A "refundação" da Europa, como alguns pretendem, para salvar os escombros, não tem razão de ser. Como já disse e repito, nenhuma organização deste tipo, ou partido, se consegue "reformular" por dentro. As raízes do propósito, embora ingénuas, já não existem. O poder do dinheiro sobrepôs-se à natureza da ideia. E os países mais pobres são implacavelmente esmagados pelos mais fortes. Até o confuso, mas espertalhão, Durão Barroso já declarou que a "União" corre perigo se as coisas não se modificarem. Não disse como, claro!
A saída do Reino Unido começou por uma proposta de estratégia eleitoral de Cameron, cuja cabecinha não está propriamente hipotecada à inteligência. Mudou de carril, quando se apercebeu de que abrira a caixa de Pandora. Era tarde. A Grã-Bretanha fora da "União" emerge de um disparate. Claro que os negócios e os interesses continuam, mas terão de seguir outros caminhos. No entanto, as ideias de desintegração prosseguem e crescem. Cuidado! W
NOTA A TEMPO: O autor agradece as manifestações de simpatia de muitos leitores quando foi sujeito a uma pequena intervenção cirúrgica, que o fez ausentar, durante uma semana, desta coluna.
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