Antes mesmo de atingir a idade para entender quem foi Bonaparte, eu adorava a lançar a questão: qual é a cor do cavalo branco de Napoleão?
Bem mais tarde conheci o cavalo das minhas piadinhas infantis no museu Invalides, em Paris, e descobri sua história.
Ele se chama Vizir e é um cavalo árabe inteiro – quer dizer não castrado – de cor cinza claro. Ele nasceu em 1793 e foi oferecido à Bonaparte pelo sultão do Império Otomano Selim III.
Ele tem na sua perna esquerda a marca do haras imperial: um N coroado.
Em 1806 ele participou da famosa batalha Iéna e temos a seguinte descrição literária:
Na aurora, uma bruma espessa cobre o terreno. De repente o Imperador aparece e se posiciona diante das tropas montando Vizir, sob uma magnífica sela de veludo vermelho bordado de dourado.
Em 1807 ele conduziu Napoleão na terrível batalha de Eylau. Por causa da sua idade, 20 anos, ele não participou de outras batalhas.
Em 1814, quando Napoleão partiu para seu exílio na ilha de Elba, ele escolheu Vizir como acompanhante. Vizir foi instalado nas proximidades da residência de seu mestre. No ano seguinte, Napoleão e Vizir retornaram por alguns meses, mas o cavalo não participou da batalha de Waterloo.
Ele é um dos raros cavalos personagem central de um quadro, obra encomendada pela Manufacture de Sèvres. O pintor se chama Pierre Martinet e você pode comprar o poster da obra na loja dos Musées Nationaux (clique aqui).
Vizir morreu em 1826, após uma longa vida de 33 anos.
Coitado, sua trajetória post mortem foi movimentada em função de um contexto político complicado.
Após sua morte ele foi empalhado pela pessoa que se ocupava dele. Mas com medo de perdê-lo confiscado por forças inimigas, esta pessoa o entregou a um inglês residente no norte da França. Pelas mesmas razões, este inglês o passou para a frente e no final das contas ele aterrissou em Manchester, na Sociedade de História Natural. Mas antes de atravessar a fronteira, para não chamar a atenção, Vizir foi descosido, esvaziado e escondido nas bagagens.
Em 1868, a Sociedade que o detinha o devolveu para a França. Durante 30 anos ele viveu no sótão do museu do Louvre, dentro de uma caixa com a etiqueta: cavalo empalhado sobre o qual montava Napoleão e entregue pela Sociedade de História Natural de Manchester.
Em 1904, o diretor do Museu das Forças Armadas recém inaugurado – Les Invalides – o pediu ao Louvre e assim a trajetória de Vizir, nascido otomano, naturalizado francês, depois inglês, chegou ao fim. Uma última viagem o conduziu da margem direita à margem esquerda do Sena, onde, desde então, ele vive pertinho do túmulo do seu prestigioso cavaleiro.
Os cavalos foram personagens importantes durante as guerras napoleônicas e ocuparam um lugar central nas forças armadas do Imperador. Napoleão tinha à sua disposição inúmeros cavalos ditos “du rang de sa magesté” ou dignos da sua majestade. Eles viviam nos castelos de Versailles, Tuileries, Saint Cloud e Fontainebleau e em todas as residencias imperiais para que o Imperador pudesse chegar e partir a qualquer momento.
Napoleão teve outros cavalos célebres como o Marengo que, machucado e capturado pelos ingleses, vive hoje em forma de esqueleto no National Army Museum de Londres.
Napoleão montava cavalos de todas as raças mas tinha uma preferência pelos árabes.
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