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sexta-feira, 22 de julho de 2016

22 de Julho de 1798: Napoleão Bonaparte conquista o Cairo


"Os infiéis que vieram para vos combater têm unhas do comprimento de um pé, bocas enormes e olhos assombradores. São selvagens possuídos pelo demónio e vão unidos por correntes para os campos de batalha." Com esta descrição, o general mameluco Ibrahim tentava usar meios psicológicos para preparar os seus soldados para a defesa do Cairo.

Os inimigos eram os franceses, que acabavam de chegar à margem ocidental do rio Nilo. Eram 40 mil soldados que, apenas 19 dias antes, tinham desembarcado em Alexandria e tomado a cidade portuária sem sofrer perdas dignas de menção.

Era um exército formidável, que partira da França para conquistar o Egipto. Vinha com 400 navios, entre eles 13 de combate, 42 fragatas e 130 de transporte, sob o comando de um general famoso: Napoleão Bonaparte.

O Directório - poder executivo na época em Paris - havia planeado a conquista da Inglaterra. Vendo que a marinha francesa não tinha qualquer hipótese de derrotar a esquadra inglesa, Napoleão Bonaparte rejeitou o plano. Em vez disso, executou um projecto que mantinha na gaveta há muito tempo: bloquear as rotas comerciais britânicas em direcção à Ásia, através da ocupação do Egipto e do Oriente Médio.

Em apenas dois meses e meio, Napoleão conseguiu recrutar uma força armada que, em vez de "exército inglês", foi chamado de "exército egípcio" e zarpou de Toulon.

Depois de ocupar Alexandria, Napoleão enviou um apelo aos egípcios. "Ó, xeques, imames e oficiais da cidade: digam à vossa nação que os franceses são amigos dos muçulmanos. Prova disso é que eles, em Roma, destruíram o Vaticano, que sempre conclamou os cristãos à luta contra o Islão.

Eles também expulsaram os cavaleiros de Malta, que diziam combater os muçulmanos em missão divina. Os franceses sempre foram amigos do sultão otomano e inimigos dos seus inimigos. Os mamelucos negavam-se a obedecer ao sultão e só o faziam para satisfazer sua ganância. Abençoados sejam os egípcios que concordam connosco."

Napoleão queria aparecer como o libertador do país, que pertencia ao Império Otomano, mas, na realidade, era dominado pelos mamelucos. Descendentes de escravos militares eslavos e caucasianos, os mamelucos enfrentavam divisões internas, mas dispunham de uma poderosa cavalaria.

Também o general francês tinha grande respeito pelos cavaleiros mamelucos, mas percebeu logo que eles ainda usavam estratégias medievais. Assim, deixava-os atacar primeiro, para dizimá-los à curta distância com os mosquetes da sua infantaria.

Quando os mamelucos finalmente bateram em retirada, deixaram para trás milhares de mortos e feridos. Como prémio pela vitória, os franceses, esgotados pela marcha para o Cairo, saquearam as suas vítimas. A França tivera um saldo de apenas 29 mortos e 260 feridos.

Em 22 de Julho de 1798, o Cairo capitulou. Dois dias depois, Napoleão entrou na cidade. Assim como acontecera em Alexandria, ele estava decepcionado. Mas, num primeiro momento, a invasão francesa revitalizou o interesse artístico e académico pelo Egipto. A ideia de devolver o país ao Império Turco-Otomano (com capital em Constantinopla) foi logo abandonada. Ao contrário: no seu avanço rumo à Palestina, os franceses logo entrariam em conflito com os turcos.

A suposta amizade franco-egípcia, proclamada por Napoleão, não durou muito. Os primeiros sinais de resistência da população do Cairo foram reprimidos sem piedade. Em Outubro, quando um confidente de Napoleão foi assassinado por uma multidão revoltada, o general ordenou a destruição da mesquita e universidade de Al Azhar (então com mais de 800 anos) – até hoje, um dos principais centros de pesquisas do islamismo.

Os franceses tiveram ainda outra surpresa desagradável: poucos dias depois da conquista do Cairo, o almirante inglês Horatio Nelson destruiu a frota napoleónica próximo de Alexandria, liquidando 1.700 franceses. E a marcha napoleónica para a Palestina terminou em Akko, novamente com pesadas perdas no lado francês.

Por essa altura, Napoleão já havia retornado à França para assumir o poder. O general Kléber sucedeu-lhe como comandante no Egipto, para onde as tropas francesas foram obrigadas a recuar, sob pressão dos turcos e dos ingleses. Kléber foi assassinado por um fanático muçulmano, num acto de vingança pela destruição de Al Azhar.

Napoleão havia prometido aos seus soldados que eles voltariam ricos do Egipto. De entre os soldados, mais de um terço foram mortos no Médio Oriente; os demais voltaram derrotados para casa. O sonho do general, de destruir o Império Turco-Otomano, também não se tornara realidade.

Fontes: DW
wikipedia (imagens)
Principais movimentos e batalhas na conquista do Egipto (1798) pelo exército francês

O General Jean-Baptiste Kléber substituiu Napoleão Bonaparte no comando do Exército do Oriente
Napoleão no Egipto - Jean-Léon Gérôme

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