Os comunistas.
O combate ao anticomunismo primário.
Porque sempre me insurjo contra essa frequente esquizofrenia que é o anticomunismo sem razão. Sim, digo-o sem razão, porque muitos dos que praticam tal filosofia, se é que podemos referir-nos a uma corrente ideológica enferma como uma filosofia, nunca pensaram sequer o assunto. Creio ser apenas uma moda, essa coisa de catalogar os comunistas como alguém menor intelectualmente, mas sem terem uma justificação válida para isso. Muitos socorrem-se de frases feitas e desprovidas de provas para diabolizar os comunistas, mas não sustentam as afirmações em nada de palpável que não a sua tacanhez de espirito que temperam com alusões às ditaduras de base comunista. Esquecem que o sistema liberal capitalista, em que se enquadram ideologicamente a si próprios, se pode comparar na mesma proporção às ditaduras de teor fascista.
Os anticomunistas são só uns indigentes do pensamento, não sabem muito de humanidade nem de politica, mas presunçosamente julgam que sabem.
Pois eu continuo a achar que o verdadeiro comunista é aquele ou aquela que se rege por condutas de superior moral. A tal superioridade moral de que um célebre comunista (A.Cunhal) falava.
Agora Neruda para dizer de forma superior o que eu apenas consigo sentir, mas sem a qualidade natural, para saber escrever com a sua classe.
Pablo Neruda – Os ComunistasPassaram-se alguns anos desde que ingressei no PartidoEstou contente
Os comunistas formam uma boa família
Têm a pele curtida e o coração moderado
Por toda parte recebem cassetetes
Cassetetes exclusivos para elesVivam os espíritas, os monarquistas, os anormais, os criminosos de todas as espécies
Viva a filosofia com muita fumaça e pouco fogo
Viva o cão que ladra mas não morde, vivam os astrólogos libidinosos, viva a pornografia, viva o cinismo, viva o camarão, viva todo mundo, menos os comunistas
Vivam os cintos de castidade, vivam os conservadores que não lavam o pé ha quinhentos anos
Vivam os piolhos das populações de miseráveis, viva a fossa comum e gratuita, viva o anarcocapitalismo,viva Rilke, viva André Guide com seu corydonzinho, viva qualquer misticismoEsta tudo bem
Todos são heróicos
Todos os jornais devem sair
Todos devem ser publicados, menos os comunistas
Todos os candidatos devem entrar em São Domingos sem algemas
Todos devem celebrar a morte do sanguinário de Trujillo, menos os que mais duramente o
combateramViva o Carnaval, os últimos dias de carnaval
Há disfarces para todos
Disfarces de idealistas cristãos, disfarces de extrema esquerda, disfarces de damas beneficentes e de matronas caritativasMas cuidado: Não deixem entrar os comunistas
Fechem bem a porta
Não se enganem
Eles não têm direito a nada
Preocupemos-nos com o subjetivo, com a essência do homem, com a essência da essência
Assim estaremos todos contentesTemos liberdade
Que grande coisa é a liberdade!
Eles não a respeitam,
Não a conhecem
A liberdade para se preocupar com a essência
Com a essência da essênciaAssim tem passados os últimos anos
Passou o Jazz,
Chegou o Soul, naufragamos nos postulados da pintura abstrata, a guerra nos abalou e nos matou
Tudo ficava como está
Ou não ficava?
Depois de tantos discursos sobre o espírito e de tantas pauladas na cabeça, alguma coisa ia mal
Muito malOs cálculos tinham falhado
Os povos se organizavam
Continuavam as guerrilhas e as greves
Cuba e Chile se tornavam independentes
Muitos homens e mulheres cantavam a Internacional
Que estranho
Que desanimador
Agora cantam-na em chinês, em búlgaro, em espanhol da AméricaÉ preciso tomar medidas urgentes
É preciso bani-los
É preciso falar mais do espírito
Exaltar mais o mundo livre
É preciso dar mais pauladas e o medo de Germán ArciniegasE agora Cuba
Em nosso próprio hemisfério, na metade de nossa maça, esses barbudos com a mesma canção
E para que nos serve Cristo?
Para que servem os padres?
Já não se pode confiar em ninguém
Nem mesmo os padres. Não vêem nosso ponto de vista
Não vêem como baixam nossas ações na bolsaEnquanto isso sobem os homens pelo sistema solar
Deixam pegadas de sapatos na lua
Tudo luta por mudanças, menos os velhos sistemas
A vida dos velhos sistemas nasceu de imensas teias de aranhas medievais
No entanto, há gente que acredita numa mudança, que tem posto em prática a mudança, que tem feito triunfar a mudança, que tem feito florescer a mudança
Caramba!A primavera é inexorável!
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