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segunda-feira, 2 de novembro de 2015

A CHOLDRA - por JOsé Goulão


Mundo Cão

Portugal continua a esbracejar numa esterqueira. A choldra estrangeirada e submissa, que despreza as pessoas e se considera proprietária do poder, está viva e actuante cozinhando novo golpe para travar as ameaças latentes ao seu autoritarismo.

Olhe-se o chefe do Estado, um agente dos mercados financeiros internacionais usurpando um cargo de soberania republicana e popular, apadrinhando o quebra-cabeças de recadinhos e ameaças entre Bruxelas e Lisboa para que o regime de austeridade, sistema único adoptado pelo terrorismo neoliberal, se mantenha como se nada tivesse acontecido, isto é, pretendendo reduzir os resultados eleitorais a pó.

Um chefe do Estado que mexe cordelinhos estratégicos da Nação há mais de 30 anos, como padrinho de uma facção política herdeira da mentalidade salazarenta e que pôs o que restava do 25 de Abril sob os rolos compressores dos mercados manobradores daquilo a que chamam União Europeia, desmantelando a economia entregando-a a banqueiros gananciosos e corruptos, a interesses tutelados pelos casinos da finança internacional e a sistemas monopolistas privados disfarçados empresários “de sucesso”. Pois a 130 dias apenas de terminar o mandato, o chefe do Estado não hesitou em dar posse a um governo austeritário que, em princípio, não poderá governar porque, de acordo com as mais elementares regras democráticas, não tem maioria parlamentar para o fazer. Manobra essa que, segundo a realidade disponível aos olhos dos portugueses, apenas servirá para prejudicar ainda mais a economia portuguesa, protelando por não sei quanto tempo mais a entrada em funções de um governo com legitimidade para governar. Ou seja, o senhor professor economista que usurpa a Presidência da República não hesita, deste modo, em continuar a atolar a economia de Portugal e os portugueses, o que sempre fez enquanto pregava exactamente o contrário.

A não ser que…

A não ser que o senhor saiba coisas que à populaça não comunica, as quais lhe prometem vida longa a um governo que, nos termos das mais elementares normas democráticas, é um nado-morto.

Aqui chegados resta-nos especular, coisa sempre um pouco traiçoeira mas que adquire legitimidade como processo de advertência e autodefesa perante um provável golpe em marcha.

Lembremos que o chefe do Estado, numa das suas várias intervenções pós-eleitorais, indigitou o chefe da coligação mais votada – e não do partido mais votado – para formar um governo ao qual faltam nove lugares parlamentares para ter legitimidade governante. Nas linhas e entrelinhas das declarações proferidas sobre a decisão, e entre apelos aos mercados para que aterrorizem os portugueses, o chefe do Estado lançou convites abusivos e intriguistas aos deputados do partido mais votado para que se revoltem contra as iniciativas do secretário-geral e da direcção do partido no sentido de formarem um governo anti-austeridade com maioria parlamentar e, além disso, esmagadora sustentação popular. Isto é, temendo ser incapaz de reconstruir o famigerado “bloco central”, versão light de partido único, o agente dos mercados em comissão de serviço na Presidência da República Portuguesa arvorou-se em manipulador do cenário político e alcoviteiro de querelas partidárias.

Talvez o senhor, porém, estivesse não apenas armado de intenções cisionistas, mas também na posse de dados até agora dispersos no pântano infecto em que o poder lusitano esbraceja.

É que no dia em que o governo nado-morto tomou posse e foi anunciada a irreversibilidade do processo de acordo de incidência governativa entre o PS, o Bloco de Esquerda e o PCP, do lado do PS consta que um tal Francisco Assis está disposto a servir-se do “direito de tendência” – como sempre uma tendência para a direita – para se opor ao entendimento entre o seu partido e partidos à esquerda. Pergunta-se: será que o “direito de tendência” de Assis irá tão longe como arrebanhar deputados do PS aritmeticamente necessários para viabilizar o governo nado-morto, gémeo do que arrasou Portugal e avassalou os portugueses com a miséria e a emigração para cumprir as ordens dos credores? Será que entre o chefe do Estado, os serviçais dos agiotas Passos e Portas e o citado Assis terá havido um acordo secreto austeritário para que a choldra governante possa continuar a burlar a democracia e a torturar os portugueses? Sem o colaboracionismo de Assis ou outro que tal, o governo empossado não se aguentará com uma moção de rejeição, quanto mais com três.

Vamos crer que a democracia continue a despertar em Portugal e que um governo ilegítimo nascido morto jaz morto e arrefece. E, contudo, Assis mexe-se; ou seja, há uma conspiração em marcha para ressuscitar o cadáver.



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