Henrique Neto. Candidatura move-se pela “revolta” contra os erros políticos
Critica os erros políticos do passado e diz que é essa revolta que o move: a necessidade de mudança e de soluções de esquerda e de direita. Na assistência, algumas caras do partido de Marinho e Pinto.
Uma candidatura independente dos partidos políticos, que não terá receio em apresentar “soluções que são claramente ligadas à esquerda” e outras “que são nitidamente de direita”. O grito é de “revolta” pela crise vivida em Portugal nas últimas décadas. E os culpados são “os sucessivos governos que cometeram erros políticos graves, que podiam ter sido evitados”. Foi esta a tese defendida por Henrique Neto esta tarde, durante a apresentação oficial da sua candidatura à Presidência da República, a primeira até agora anunciada.
Num auditório pequeno, mas suficiente para a plateia (apesar de os corredores também terem ficado preenchidos), Henrique Neto chegou à hora marcada (16h) e cumprimentou pausada e demoradamente os seus velhos amigos e companheiros de tertúlias. Alguns apenas com acenos à distância, outros com abraços mais demorados. Na audiência, não havia notáveis nem caras conhecidas do cenário político, ainda que alguns tivessem ligações ao Partido Democrático Republicano, de Marinho e Pinto, soube o Observador.
Henrique Neto foi o primeiro e único a discursar no pequeno auditório do Padrão dos Descobrimentos, o mesmo onde, anos antes, também o independente Fernando Nobre procurou mobilizar as suas tropas.
O tom pareceu mais de legislativas do que de presidenciais. Foi uma espécie de grito de revolta pelo estado das coisas. O empresário da Marinha Grande disse acreditar que tenham sido cometidos erros por “todos os políticos” ao longo dos últimos 25 anos, tanto através de governos socialistas como social-democratas. Erros que, disse, foram “provocados pelo egoísmo dos partidos e dos políticos” e “permitidos por um sistema político organizado para se beneficiar a si próprio e aos grupos organizados que existem no seu interior”.
Num discurso de 20 minutos e com pontualidade britânica, Henrique Neto usou e abusou das palavras “visão estratégica” para dizer que foi essa falta de visão que fez com que Portugal estivesse a assistir hoje a alguns dos “desastres sociais” mais graves, como o desemprego, a nova vaga de emigração, a baixa dos rendimentos dos trabalhadores e pensionistas e a destruição da classe média.
Uma realidade “revoltante” que Henrique Neto diz ser desnecessária e reversível. “Vejo tudo isto e penso que na verdade não tinha de ser assim”, disse, durante a sua intervenção perante uma plateia de velhos amigos, a maior parte homens e na sua faixa etária.
Direita ou Esquerda?
O rótulo não interessa. Militante do PS, Henrique Neto diz que agora não interessa se é de esquerda ou de direita, de um partido ou de outro. “Portugal tem problemas que têm soluções de esquerda, mas seria mau se não reconhecêssemos que muitos dos problemas nacionais também têm soluções de direita”, afirmou o empresário do setor dos moldes e da região da Marinha Grande, que continua a dizer-se “socialista” apesar do afastamento face ao atual PS.
Aos jornalistas, Henrique Neto afirmou ainda que espera conseguir capitalizar votos de todos, inclusive daqueles que estão contra o sistema político-partidário atual, mas também dos que estão alinhados com o sistema, e diz não ter medo de cair no fosso que fica algures entre a esquerda e a direita.
Sobre o perfil desenhado por Cavaco Silva para o próximo Presidente da República, Henrique Neto afirmou que “não compreendeu muito bem” qual era a ideia do atual Presidente, mas relativizou a ideia de haver um molde presidencial: “são os portugueses que têm de decidir qual é o seu candidato presidencial”, disse.
E questionado pelos jornalistas sobre o facto de os poderes do Presidente da República não serem direcionados para fazer “alterações ao modelo eleitoral”, como Neto propôs em jeito de promessa eleitoral, o agora candidato arriscou uma resposta muito pouco institucional: “Os poderes somos nós que os fazemos, com sabedoria e contacto permanente com os vários setores da sociedade, e com alguma imaginação e criatividade”, disse.
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