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sexta-feira, 27 de março de 2015

CIVILIZAÇÕES AFRICANAS (XXI) -O Reino de Genserico - Genserico foi rei dos vândalos e alanos entre 428 e 477. Durante os seus quase cinquenta anos de reinado elevou o seu reino à categoria de potência mediterrânea

O Reino de Genserico

Genserico foi rei dos vândalos e alanos entre 428 e 477. Durante os seus quase cinquenta anos de reinado elevou o seu reino à categoria de potência mediterrânea



Representação de Genserico saqueando Roma.


Antecedentes

Em outubro de 409 d.C., os vândalos cruzaram os Pirenéus penetrando na Península Ibérica. Lá eles receberam terras dos romanos, como foederati, na Galécia (a noroeste) os Hasdingos, e os Silingos na Bética (no sul), enquanto os Alanos receberam terras na Lusitânia (a oeste) e na região em torno de Nova Cartago.

Em 416, o rei Visigodo Valia prometeu ao Imperador Honório libertar Espanha dos demais bárbaros: derrotou os Silingos, cujo rei Fredbal foi capturado e levado para Itália, e os Alanos.

Os vândalos Hasdingos foram derrotados pelos suevos e romanos nos montes "nervasi" . Perseguidos pelos romanos, o rei Hasdingo Gunderico e o seu exército dirigem-se ao sul, obtendo o reforço dos restos da tribo dos Alanos, que foi dizimada em combate pelos Visigodos, dos quais os sobreviventes saudaram Gunderico como seu rei.

Atingindo as férteis planícies da Bética, Gunderico tornou-se rei dos Vândalos Silingos. Gunderico tornou-se "rei dos Vândalos e dos Alanos". Reunia sob seu comando Vândalos Hasdingos, Silingos e remanescentes dos Alanos, o que é evidenciado pelo título real, Rex Vandalorum et Alanorum.

Altos funcionários do Império Romano do Oriente, corrompidos, forneceram os segredos da construção naval a Genserico, o meio irmão de Gunderico, que construiu uma esquadra naval.


Representação de Vândalos e Alanos
desembarcando no Norte da África.

Em 429, o novo rei, Genserico, avaliou as possibilidades abertas pelo acesso ao mar. Liderando Vândalos e Alanos, Genserico cruzou o estreito de Gibraltar e se deslocou a leste até Cartago.

Ascensão ao trono

Filho ilegítimo do rei vândalo Godegisilo, supõe-se que Genserico nasceu nas imediações do lago Balaton (atual Hungria) por volta de 389.

Foi escolhido rei em 428, com a morte do seu meio irmão Gunderico. Brilhante e muito versado na arte militar, buscou o modo de aumentar o poder e a prosperidade do seu povo, que residia na época na Hispania Bética e que havia sofrido numerosos ataques dos visigodos. Em 429, Genserico decidiu ceder a Hispania aos seus rivais, conduzindo o seu povo para o norte da África, atraído pelas suas riquezas e pela fertilidade da região, empregando para isso a poderosa frota criada no reinado do seu predecessor.

A invasão da África

Bonifácio, governador da província da África Proconsular, rebelou-se contra o governo imperial, motivando o envio de tropas contra suas forças em Cartago. O quadro se mostrava amplamente favorável ao rei vândalo.

Aproveitando a disputa, 80.000 vândalos - 15.000 deles homens de armas - cruzaram o estreito de Gibraltar na primavera de 429, partindo de Tarifa e desembarcando em Ceuta.

Depois de várias vitórias sobre os defensores romanos, fixaram-se com controle de um território que compreendia o atual Marrocos e o norte de Argélia, pondo sob assédio a cidade de Hipona, que tomariam ao cabo de catorze meses de duros combates. No ano seguinte, o imperador Valentiniano III teve que reconhecer Genserico como soberano de todos estes territórios.

Em 435, Genserico chegou a um acordo com o Império Romano pelo qual o reino vândalo passou a ser foederatus de Roma com a concessão da Numídia. Os romanos conservaram apenas conservaram o controle de Cartago. Em 439 Genserico tomou a cidade de Cartago, capturando a frota imperial ali atracada. Com este movimento fez os vândalos donos do Mediterrâneo Ocidental, apoderando-se em seguida de bases marítimas de grande valor estratégico e comercial: as Ilhas Baleares, Córsega, Sicília e Sardenha. Roma, privada de uma das maiores zonas de produção cerealista do velho mundo, teve que comprar em seguida os grãos do norte da África para o sua própria provisão.

O Reino Vândalo


Reino Vândalo por volta de 455 d.C.

Genserico transformou o reino dos vândalos e alanos num estado poderoso (a capital era Saldae, atual Bejaia, no norte da Argélia). Os vândalos ocuparam a atual Tunísia e o Leste da Argélia; o resto, «a Africa esquecida», como lhe chama C. Courtois, o maciço de Aures, os planaltos do Oeste, a Mauritânia, escapam-lhes como tinham de fato escapado à autoridade de Roma. Genserico também conquistou a Sicília, a Sardenha, a Córsega e as Ilhas Baleares.

Os reis vândalos, embora tivessem maior confiança em seus companheiros de tribo, necessitavam da colaboração romana para viabilizar sua administração. Os germânicos haviam conquistado um território vasto e uma população considerável, vivendo há muito sob a lei romana. A organização administrativa imperial estava assentada em bases sólidas, forçando os invasores a mantê-la. Os magistrados romanos, com relevo o proconsul de Cartago, continuaram a desempenhar suas funções. O único setor privativo em mão dos Vândalos era o militar. Até o governo das ilhas, Sardenha, Córsega e Baleares era confiado a chefes guerreiros.

Os Vândalos adotaram no norte do continente africano procedimentos semelhantes aqueles dos Visigodos no sul da Gália. Também eles se tornaram grandes proprietários e habitaram entre os romanos, para quem, aliás, reservavam tarefas de natureza burocrática, solução encontrada para viabilizar o domínio de milhões de romanos e africanos por uma minoria de bárbaros, fiada no desempenho das armas, cuja posse era monopólio dos recém-chegados guerreiros germanos.


Batalha entre Berberes e Vândalos.

Os berberes no interior permaneciam insubmissos, tal como fora nos tempos de domínio militar romano. Seu exército teve que defender a fronteira contra ataques organizados por chefes berberes. Genserico se opôs a crescente pressão desses chefes.

O exército, integrado exclusivamente por Vândalos, garantia a ordem com sua poderosa cavalaria e sua esquadra, ainda que admitisse equipagens africanas, tinha seu comando oficiais bárbaros. Sua frota controlou a maior parte do Mediterrâneo Ocidental. As pilhagens em todo o Mediterrâneo alimentavam o tesouro real.

A minoria vândala não procurou fundir-se com os Romanos e Africanos, sobretudo por razões militares e religiosas. Genserico e seus sucessores quiseram preservar o valor guerreiro dos seus homens, e por isso impediram todos os casamentos mistos e toda a conversão ao catolicismo.

Perseguição Religiosa

No campo religioso os Vândalos não fazem concessões. E, progressivamente, o preconceito dos vitoriosos se traduziu em manifestações de violência e intolerância, decorrendo daí o martírio de numerosos católicos, bem como o exílio de muitos clérigos fiéis a Roma.

No campo confessional os Vândalos se identificavam com o arianismo, seguindo os preceitos da Bíblia de Ulfila, chocando-se com o expressivo contingente de católicos convictos. A monarquia vândala tinha na igreja ariana e no exército dois pilares de seu domínio. O arianismo tornou-se enraizado entre os germânicos, atingindo o ápice com a monarquia vândala no norte da África, que teve a oposição maciça da Igreja africana.

Cristão ariano, Genserico procedeu a numerosos confiscos de bens da Igreja Católica e submeteu os católicos a fortes perseguições.
Segundo Victor de Vita, historiador das perseguições, clérigos e leigos foram deportados para o Sul da Tunísia, enquanto os bispos eram exilados para a Córsega e a Sardenha ou obrigados a trabalhar nas minas. Numerosos católicos se refugiarão em Espanha, na Gália e em Itália, levando consigo importantes manuscritos, em especial os de Santo Agostinho.

Essa migração em massa para outros reinos, provocou falta de trabalhadores, e uma diminuição da produção. No final do reinado de Genserico, a opressão aliviou um pouco e foi permitido o regresso dos clérigos desterrados.

O saque de Roma

Em 455, o imperador romano Valentiniano III foi assassinado, sucedendo-o Petrônio Máximo. Genserico, considerando rompido o tratado de paz firmado com Valentiniano em 442, desembarcou na Península Itálica e marchou sobre Roma, cuja população rebelou-se contra o novo imperador e o matou três dias antes que, em 22 de abril de 455, os vândalos tomassem sem resistência a cidade.


Saque de Roma, por Heinrich Leutemann (1870).

Os vândalos saquearam a cidade por duas semanas. O saque não produziu uma destruição notável, se bem que os vândalos fizeram provisão de grande quantidade de ouro, prata e objetos de valor. Eles partiram com valores incontáveis, pilhagens do Templo em Jerusalém trazidas para Roma pelo imperador Tito Flávio.

Genserico levou consigo Licinia Eudoxia como refém a Cartago, viúva de Valentiniano, e as suas duas filhas, Placídia e Eudoxia, que contrairia depois matrimônio com seu filho e sucessor Hunerico.

A paz com o Império Bizantino


Representação da batalha naval de 468.

Em 468, o reino de Genserico teve que enfrentar ao último esforço militar conjunto das duas metades do Império Romano. O rei vândalo derrotou, frente ao cabo Bon, no nordeste da Tunísia uma poderosa frota armada romana de mais de mil naves, comandada pelo futuro imperador bizantino Basilisco.

As repetidas tentativas militares e diplomáticas para conter e derrubar o poder dos Vândalos revelaram-se infrutíferas. No verão de 474, Genserico assinou a paz perpétua com Constantinopla, pela qual o Bizâncio reconheceu a soberania vândala sobre as províncias norte-africanas, Baleares, Sicília, Córsega e Sardenha.

Morte


Efígie de Genserico.

Com a morte de Genserico em 477, seu filho Hunerico tornou-se rei. O reino Vândalo quando da morte de Genserico, principal arquiteto e planejador do seu poderio, parecia consolidado dominando com sua frota todo o Mediterrâneo Ocidental e suas ilhas. Seus sucessores radicalizaram as perseguições, fazendo da deportação maciça de clérigos um instrumento de afirmação de poder. Ainda que soberanos como Guntamundo (484-496) e Trasamundo (496-523) tenham incentivado atividades culturais, essa atitude não arrefeceu a dura condição dos católicos sob o domínio arianista.


Fontes: Wikipédia / História do Mundo / Revista Mundo Estranho / Blog Antiguidade Tardia / www.nea.uerj.br / Infopédia
civilizacoesafricanas.blogspot.pt

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