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segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Problemas que nos atormentam: a dívida - Defender como solução para a dívida portuguesa a sua renegociação com um perdão de juros ou mesmo um perdão parcial da dívida equivale a defender que a dívida soberana portuguesa é em parte uma consequência de decisões alheias.

Problemas que nos atormentam: a dívida



Defender como solução para a dívida portuguesa a sua renegociação com um perdão de juros ou mesmo um perdão parcial da dívida equivale a defender que a dívida soberana portuguesa é em parte uma consequência de decisões alheias. Tal impacto existe e lamentavelmente ainda não foi objecto de estudo, o excesso de austeridade adoptado no âmbito de uma política económica experimental com base em opiniões de amigos de Vítor Gaspar fundamentadas em erros estatísticos, assim como as excessivas taxas praticadas inicialmente nos empréstimos da troika tiveram algum impacto na dimensão da dívida.

Mas é muito duvidoso que o volume da dívida que pode ser atribuído aos excessos e erros da troika tenha uma importância significativa. Exigir um perdão parcial dos juros ou da dívida para além do que poderia ser negociável numa lógica de partilha da consequência de que um governo português foi o grande defensor e arauto não faz muito sentido. Uma boa parte da dívida portuguesa ou é detida por instituições europeias ou pela banca e a sua renegociação significa penalizar a banca portuguesa que já está à beira do colapso ou defender que devem ser os cidadãos de outros Estados-membros da EU a suportar as consequências das nossas opções.

O “não pagamos” subjacente à reestruturação ou renegociação defendida pela esquerda conservadora não faz o mais pequeno sentido. Dificilmente as instituições financeiras internacionais aceitariam esta solução, sabendo-se que quem a defende todos os ano, por ocasião dos debates orçamentais, defende também aumentos da despesa e reduções de impostos.

O argumento do país pobre mas lavadinho que não passa por vergonhas e paga as suas dívidas é conversa fiada do governo e de uma Maria Luís que não devem saber fazer contas, senão perceberiam que esta dívida não será paga e muito menos no curto ou médio prazo. O mesmo Passos Coelho que sempre se opôs a qualquer intervenção do BCE, alinhando com as teses alemãs, espera que a Europa não lhe dê ouvidos e adopte medidas, é por isso que tenta iludir os portugueses chamando a si os louros da descida das taxas de juros quando se sabe que isso resultou precisamente das intervenções do BCE contra as quais Passos sempre se manifestou.

É evidente que a solução da dívida passa por medidas à escala europeia que impeçam o impacto da especulação e uma abordagem de uma correcção da situação no longo prazo. Mas enquanto se defender uma solução europeia e não se apresentar um modelo económico que torne essa dívida sustentável num horizonte de menos de uma década o país caminhará para um desastre económico que está anunciado desde o tempo em que governos oportunistas usaram os dinheiros europeus para criar uma classe de novos ricos a que se convencionou designar por cavaquistas e que ao longo dos anos se tem vindo a alargar a outros sectores partidários.
  
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