José Honório. Não me lembro de ouvir Salgado a pedir ajuda ao governo para o BES
José Honório aconselhou o Grupo Espírito Santo a pedir apoio político para ganhar tempo.Mas não ouviu Salgado a pedir ajuda para o BES. O empréstimo da CGD iria financiar compradores de ativos do GES.
José Honório não chegou a ser consultor do Grupo Espírito Santo (GES) e acabou por recusar o convite para ser presidente executivo da Rioforte quando conheceu a dimensão da dívida do grupo. Não obstante, deu conselhos a Ricardo Salgado e aos acionistas do GES sobre a forma como poderia evitar o desmoronamento do grupo que teria um grande impacto na economia portuguesa.
E esses conselhos passaram por entrar em contacto com responsáveis políticos e autoridades, que passaram pelo primeiro-ministro, vice-primeiro ministro (Paulo Portas), ministra das Finanças e presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, confirmou José Honório. O gestor esteve em uma reunião com cada uma destas personalidades, que envolveram ainda o secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro (Carlos Moedas) e o governador do Banco de Portugal. Mas garante que nunca ouviu Ricardo Salgado a pedir ajuda para o BES. E não se recorda do então presidente do BES ter alertado para o impacto que a queda do grupo teria no banco.
Em carta enviada esta quinta-feira à comissão de inquérito, o ex-presidente do banco revela as reuniões que teve com vários ministros e com o Presidente da República em que teria falado dos problemas do grupo, mas também do BES.
Nessa altura, e perante a dimensão da dívida do grupo (7,6 mil milhões de euros), “um número monstruoso” e a insuficiência de ativos, qualquer solução que travasse o desmoronamento do GES “envolvia conversas com interlocutores políticos”. José Honório explica que foi transmitida informação relevante para permitir a tomada de uma decisão em função dos interesses do país que na altura (maio de 2014) estava a sair do programa da troika.
Ricardo Salgado apresentou nessas reuniões um memorando com a situação do grupo e o plano para reestruturar a área não financeira do GES. José Honório sublinha que tempo era a questão mais crucial. Foi também testada a sensibilidade das autoridades para um financiamento de 2,1 mil milhões de euros junto da Caixa e eventualmente do BCP. O objetivo não era financiar diretamente o GES, explica Honório, mas sim os investidores privados que pudessem comprar ativos da Rioforte, desde que passassem na análise de risco. Para o gestor, isto não era um pedido de ajuda para o GES. A resposta do governo foi que não queria intervir num grupo privado.
Sobre a sua relação com o GES, José Honório revela que esteve em reuniões do conselho superior, mas diz que nunca lhe foi comunicado que as reuniões eram gravadas. Até um segurança lhe pedia que entregasse o telemóvel e o Ipad à entrada das reuniões, porque as conversas eram privadas.
O antigo administrador do BES e do Novo Banco revela ainda que o banco propôs ao Banco de Portugal cumprir o prometido reembolso das aplicações feitas pelos clientes em papel comercial de dívidas do GES. Mas com a resolução, a gestão ficou condicionada. O Banco de Portugal não permitiu que fosse feito o reembolso, na medida em que poderia prejudicar os rácios da instituição.
José Honório foi um dos nomes independentes apontado para a nova comissão executiva do BES que afastou todos os membros da família Espírito Santo dos órgãos de gestão. Entrou com Vítor Bento e João Moreira Rato e viveu as últimas dramáticas semanas do BES. Manteve-se no Novo Banco e saiu quanto Bento se demitiu. José Honório fala pela primeira vez sobre a sua passagem pelo universo GES/BES.
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