Eles
Não são muitos. Aliás, são cada vez menos. Nasceram quase todos num tempo próximo do segundo conflito mundial. Por opção, destino ou meios de família, rumaram ao estrangeiro e por lá frequentaram partidos, copos e universidades. Começaram, quase sempre, pela margens da esquerda. Abril trouxe-os, com naturalidade, de volta. Como os marines de Bush no Iraque, esperavam ser recebidos com flores, foram-no com a olímpica indiferença de um país que não aprecia, por aí além, os iluminados, que detesta estrangeirados, muitas vezes por inveja, na maioria dos casos apenas por feitio. Com maior ou menor sucesso buscaram, na nova sociedade e na nova política, o lugar a que se julgavam fadados. Às vezes foram reconhecidos, até porque alguns tinham real qualidade, quase sempre à mistura com muita falta de senso da medida. Porque são tremendistas no verbo e na escrita, peroram sempre de cátedra, como "tudólogos" da vida, de quem bebeu "do fino", quase sempre num registo definitivo, de finis patriae. Alguns, raros, continuaram à cata de amanhãs que agora já só assobiam, outros foram seduzidos pela direita, outros ainda pelo bonapartismo breve da paróquia. Todos - mas todos! - entendem, lá no fundo, que a pátria que por aí anda os não entendeu, os não aproveitou, não lhes deu a importância e o estatuto de lápide na parede a que se achavam com direito, logo a eles, aos que se universitaram para serem a elite. Sabem tudo, mas não aprenderam nada.
duas-ou-tres.blogspot.pt
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