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sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

A VELHA COLHEDORA DOS HOMENS - A MORTE SOU (NÃO ACONSELHÁVEL A PESSOAS SENSSÍVEIS



O FOTÓGRAFO Walter Schels e a jornalista Beate Lakotta, editora da seção de ciência de revista-a alemã Der Spiegel, prepararam uma exposição com as fotografias de 24 pessoas pouco antes e logo após que morressem. Eram doentes desenganados que deram o seu consentimento. A exposição inclui as entrevistas realizadas à cada um deles, nas que expressavam seus pensamentos e sentimentos ante a próxima e inevitável morte.
Ainda que as fotografias não tenham nada de impressionável, recomenda-se a não visualização do conteúdo a pessoas muito sensíveis.

POEMA

O homem já estava deitado dentro da noite sem cor.

Ia adormecendo, e nisto à porta um golpe soou.

Não era pancada forte. Contudo, ele se assustou,

Pois nela uma qualquer coisa de pressagio adivinhou
A velha colhedora de homens

Levantou-se e junto à porta

- Quem bate? Ele perguntou.

- Sou eu, alguém lhe responde.

- Eu quem? Torna. – A Morte sou.

A velha colhedora de homens

Um vulto que bem sabia pela mente lhe passou:

Esqueleto armado de foice que a mãe lhe um dia levou.

Guardou-se de abrir a porta, antes ao leito voltou,

E nele os membros gelados cobriu, hirto de pavor.

A velha colhedora de homens

Mas a porta, manso, manso, se foi abrindo e deixou

Ver – uma mulher ou anjo? Figura toda banhada de suave luz interior.

A velha colhedora de homens

A luz de quem nesta vida tudo viu, tudo perdoou.

Olhar inefável como de quem ao peito o criou.

Sorriso igual ao da amada que amara com mais amor.

- Tu és a Morte? Pergunta. E o Anjo torna: - A Morte sou!

A velha colhedora de homens

Venho trazer-te descanso do viver que te humilhou.

-Imaginava-te feia, pensava em ti com terror...

És mesmo a Morte? Ele insiste.

- Sim, torna o Anjo, a Morte sou.

A velha colhedora de homens

Mestra que jamais engana, a tua amiga melhor.

E o Anjo foi-se aproximando, a fronte do homem tocou,

Com infinita doçura As magras mãos lhe cerrou...

Era o carinho inefável de quem ao peito o criou.

Era a doçura da amada que amara com mais amor.
Poema "O homem e a morte"de Manuel Bandeira.

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