Na próxima segunda-feira, pela primeira vez nesta legislatura, Pedro Passos Coelho visitará a nossa ilha na qualidade de Primeiro-Ministro (PM). Só que, ao contrário do que acontece nos pequenos anúncios que costumamos ver na imprensa e que partilham o título deste texto, não se percebe claramente ao que vem, nem o que pretende.
A dúvida é legítima, uma vez que para nos aplicar cortes diversos, aumentos variados e malfeitorias sortidas nunca o PM sentiu necessidade de vir conhecer a nossa realidade ou ouvir as nossas preocupações. Daí que seja estranho que decida agora, inopinadamente, dar um ar da sua graça. Talvez pretenda apenas refrescar as vistas e fugir dos ares da capital, abafados pelas neblinas dos escândalos da Tecnoforma e dos seus documentos desaparecidos mesmo a propósito...
Pouco mais de uma semana depois de o seu Governo recusar transferir as verbas devidas aos Açores para reparar os estragos causados por intempéries do inverno passado, a vinda do PM é pelo menos bizarra, a menos que tenha vindo avaliar os estragos... não das tempestades, que já pouco se notam, mas sim da política do seu Governo! Se fosse esse o objetivo da sua visita, poderia falar com os desempregados, em especial com os muitos que deixaram de ter direito a subsídio de desemprego, ou ouvir os reformados com as pensões cortadas, ou contactar com as famílias que tiveram abonos retirados, impostos aumentados e que suportaram e ainda suportam várias tesouradas nos seus salários, por exemplo. Valeria certamente a pena ouvir o que eles teriam para lhe dizer...
Mas, não parece ser esse o objetivo da vinda do PM ao Faial e a outras ilhas dos Açores. De acordo com notícias publicadas na imprensa regional, o PM irá, na nossa ilha, visitar a Marina e o DOP, bem como reunir com autoridades oficiais.
Acreditando que a visita não é apenas de circunstância, para cumprir calendário pré-eleitoral, talvez que na Marina da Horta algum empresário marítimo-turístico lhe diga o que pensa sobre o aumento da carga fiscal sobre as pequenas empresas ou sobre a demora na redução dos preços das viagens aéreas, por exemplo. E, talvez, passeando ao longo dos nossos cais, encontre algum pescador que lhe “agradeça” o brutal aumento dos descontos para a segurança social ou a bela política europeia do seu Governo, que ameaça impor uma redução de 34% na nossa quota de goraz. Assim já valeria a pena a visita.
Também pode ser que no DOP, que faz muito bem em visitar, pois é uma instituição de importância estratégica nacional, alguns investigadores lhe possam dizer o que pensam sobre a gigantesca tesourada nas bolsas de investigação científica, ou sobre os cortes no financiamento das instituições de ciência e ensino superior, ou sobre as centenas de cientistas que ficaram subitamente no desemprego depois de décadas de trabalho de excelência, alguns dos quais aqui mesmo, na nossa ilha. Talvez no DOP alguém lhe pergunte como é que o seu Governo quer que Portugal esteja na vanguarda da ciência... com orçamentos do século passado!
Passos Coelho levaria certamente muito em que pensar se cá viesse para ouvir os faialenses mas, infelizmente, não é provavelmente esse o seu objetivo. Portanto, teremos de ser nós próprios a garantir que o PM nos ouve. Vamos a isso?
Texto publicado no Jornal Incentivo24-10-2014
politica-dura.blogspot.pt
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