A Teologia Antropológica
Ahura Mazda, Allah, Brahman, Duc Cao Dai, Ekam, El, G.A.D.U., Guaraci, Jah, Javé, Júpiter, Kukulkan, Odin, Olorum, Osíris, Quetzalcoatl, Rá, Zeus. Este é um pequeno exemplo de Deuses Supremos das várias religiões existentes. Ao longo dos séculos eles são considerados como os criadores do Universo pelas suas respectivas religiões. Mas como podemos ter certeza de que estes deuses não são falsos deuses? Afinal, do ponto de vista monoteísta, só pode existir apenas um Deus criador de tudo. Todas as religiões dizem possuir a doutrina certa, e como sempre, utilizam-se da máxima “só aqui encontrarás a verdade”. Entretanto como vimos, não existe um só Deus no campo religioso, e por haver essa pluralidade de entidades, as religiões precisam utilizar-se de algo que justifique a sua exclusividade doutrinária. Para isso apóiam-se nos livros sagrados. Entretanto todas as religiões possuem seus códigos canônicos os quais são considerados como a prova cabal para a veracidade do Deus em que acreditam. Agamas, Akilathirattu Ammanai, Alcorão, Analectos, Zend-Avesta, Bardo Todol, Bayan, Bhagavad Gitã, Bíblia, Cânon Páli, Dhammapada, Guru Granth Sahib, Kitáb-I-Aqdas, Mahabharata, Popol Vuh, Ramayana, Tao Te Ching, Thánh Ngôn Hiêp Tuyên, Torah, Upanixades, são um pequeno exemplo de livros sagrados que servem de base para a teologia das religiões que será construída pela análise desses livros.
O debate travado para justificar qual deus seria verdadeiro, e por fim, existente, esbarra no próprio meio de sua confirmação: A crença. Tudo o que se utiliza para justificar uma crença não passa do mesmo método e processo para justificar outra crença. Se o Islã se utiliza do Corão para justificar Allah, o Hinduísmo se utiliza do Upanixades para justificar Brahman. Se os cristãos se utilizam da Bíblia para justificar os milagres de Jesus, os astecas e maias se utilizavam do Popol Vuh para justificar os milagres de Quetzalcoatl. Se os Mórmons afirmam a veracidade da crença em Joseph Smith pelo Livro de Mórmon, os Bahá’ís afirmam sua crença em Bahá’u’lláh pelo Kitáb-I-Aqdas.
O simples fato de existirem diversos livros sagrados faz com que não se possa comparar nenhuma teologia com outra de modo a afirmar a veracidade de uma ou falsidade de outra. O fato de existirem diversas religiões é porque existem pessoas que creem nelas, e se creem é porque tem motivos pessoais. Entretanto por serem motivos pessoais não podemos tomá-los como fonte para uma conclusão unânime, pois a questão adentraria no campo da epistemologia, não havendo uma conclusão absoluta a cerca disso. Logo, os fatores da “crença” enquanto justificadora da fé, e da Teologia enquanto justificadora da doutrina, são inválidos para determinar qual religião é verdadeira, pois todas possuem suas teologias esquematizadas para justificar suas crenças, de modo que, não podemos comparar doutrinas teológicas como certas ou erradas entre elas, por todas serem esquemas filosóficos abstratos. Logo, não podemos tirar uma conclusão a partir de tal análise. Considerando esses fatos, ou existiriam todos os deuses acima, ou então cada um seria fruto da criação de uma determinada sociedade, não passando de mitos incorporados à respectiva cultura a que pertencem, desse modo, não existindo.
Algo que chama a atenção na análise dos deuses supremos acima citados, é que todos possuem características comuns. Ao considerarmos as características teológicas desses deuses, temos a seguinte conclusão: Todos eles são deuses que criaram o Universo e tudo o que há nele. Todos eles se revelaram à humanidade como criadores da mesma, os quais detêm total autoridade sobre a criação. Este é o ponto de partida para a consideração analítica dos fundamentos comuns entre esses deuses.
Aprofundando esta análise, temos os sete atributos da personalidade de Deus enquanto entidade suprema: Onipotência, Onipresença, Onisciência, Simplicidade, Imutabilidade, Infinitude e Aseidade. Como sabemos, nos primórdios da crença humana, o homem diante do poder desconhecido da natureza a considerou como um ente superior, independente e poderoso. Assim, todas as características da natureza transformaram-se em características divinas, que mais tarde foram consideradas em unanimidade como sendo parte da essência de Deus. Mas ao longo da história, Deus passou a interagir não mais como uma força desconhecida, mas como um ente que se comunicava com os homens. Considerando essa comunicação, o homem passou a compreender o que seria Deus. Com isso, se passou a considerar os atributos comunicativos de Deus para com a sua criação como uma forma de provar a sua existência.
Entretanto esses atributos são em suma atributos humanos como o conhecimento, a bondade, o amor, a santidade, a justiça, a verdade, a soberania e a vontade. Essas características humanas foram consideradas como divinas, em outras palavras, como características vindas de uma consciência superior, que devido à limitada natureza humana seriam algo inatingível em sua realização plena, como um sentimento de necessidade de perfeição. Entretanto como vemos tanto na teologia como na filosofia religiosa, até mesmo na descrição da imagem de Deus temos uma figura representativa puramente humana. Deus sempre toma a forma de homem, seja como um ente pessoal, mas não encarnável, como Osíris ou Zeus, seja como deuses encarnados como Jesus, Krishna, Hórus, ou Mitra. Em outras palavras, esse caráter humano demonstra que a origem de Deus está no próprio homem que em vez de ter sido criado à imagem e semelhança de Deus, teria criado Deus à sua imagem e semelhança, onde o ápice dessa necessidade de que o humano seja perfeito se mostra na personificação da divindade enquanto um ser humano como no caso dos deuses que vêm ao mundo com a missão de salvar a humanidade, como os acima citados.
Além do mais, a prova dessa formulação e posteriormente transformação da natureza divina, encontrasse explicitamente na crença judaico-cristã, quando no Velho Testamento Deus mostra possuir uma característica grosseiramente humana, vingativa e irada, tendo tal manifestação baseada na violência da própria natureza, assim como na personalidade vingativa de Zeus na Grécia Antiga, ou Odin na Cultura Nórdica, que por meio de fenômenos naturais demonstrava a sua ira para com a criação. Entretanto, quando Jesus vem ao mundo, Deus passa a ter uma atitude bondosa e clemente, mudando radicalmente a antiga imagem do deus irado do Antigo Testamento para um deus mais humano, baseado nos próprios princípios pregados por Jesus. Com essa radical mudança do “Deus-humano” do Antigo Testamento para a do “homem-Deus” do Novo Testamento, isto provaria que o Deus judaico-cristão, assim como os demais, seria uma criação humana para justificar suas dúvidas e desejos, sendo um puro reflexo da personalidade e pensamentos do homem na sociedade em um determinado tempo. Tal idéia foi apresentada já no Séc. VI pelo filósofo Xenófales de Cólofon. Segundo ele:
“Os homens imaginam que os deuses nasceram, vestem-se, têm voz e corpo como eles próprios. Por isso, Homero e Hesíodo atribuíram aos deuses tudo o que é vergonhoso e repreensível entre os homens: roubo, adultério, engano e outros atos ilícitos. Mesmo os bois, leões e cavalos, se tivessem mãos com as quais esculpir imagens, moldariam deuses de acordo com suas próprias forma e fariam seus corpos iguais aos seus próprios”.
De fato, até mesmo quando lemos algumas passagens bíblicas onde mostre a ação de Deus na criação, o mesmo se mostra como um Deus vingativo e covarde. Segundo a doutrina judaico-cristã, Deus amaldiçoou toda a humanidade e a criação devido a escolha de Adão e Eva (Gênesis 3:16-23 e Romanos 5:18), afogou mulheres grávidas, crianças inocentes, idosos e animais na ocasião do Dilúvio (“pereceu toda carne que se move sobre a terra” - Gênesis 7:20-23), atormentou os egípcios e seus animais com pragas e doenças pelo Faraó ter proibido os hebreus deixarem o Egito (Êxodo 9:8-11,25). Ainda matou crianças egípcias na época da Páscoa (“no meio da noite Deus feriu todos os primogênitos na terra do Egito... e houve grande clamor no Egito por não haver casa onde não houvesse um morto”). Depois do Êxodo, ordenou aos hebreus matarem homens, mulheres e crianças de sete nações e roubar suas terras, demolir seus templos, destruir seus símbolos e queimar as imagens de seus deuses (Deuteronômio 7:1-2). Fora isso matou o filho do rei Davi por causa do adultério deste com Betsabá (Samuel II 12:13-18), permitiu a tortura e o assassinato de seu próprio Filho (Romanos 3:24-25) e prometeu enviar para o sofrimento eterno todas as pessoas que não aceitassem e cressem em sua nova doutrina, o Cristianismo (Apocalipse 21:8).
Mas a questão crucial de tudo isso não está nos fatos relatados das ações de Deus, e sim por muitas pessoas aceitarem isso como normal, uma vez que creem em tudo isso como verdade. Essa crença cruenta denota claramente o fato do homem atribuir todas essas características humanas a Deus: violência, ódio, vingança, inveja, e desumanidade. Em nada isso se assemelha ao totalmente oposto Deus de amor e misericórdia que é apresentado por Jesus e personificado pela sua própria figura. Justamente pelo fato do homem criar à sua imagem e semelhança um ser superior para justificar suas dúvidas e desejos, isto nos leva a uma perigosa situação: Ao criar um ser tão temível e violento, o homem passa a justificar e a praticar os mesmos atos como sendo ordem de Deus. Desse modo justificam-se massacres, guerras, assassinatos e todo tipo de corrupção, uma vez que atos como esses sendo praticados pelo próprio Deus, poderão ser autorizados para os homens pela Sua ordem advinda de sua vontade. Desse modo temos todo o tipo de fanatismo expresso por meio da crença. Isso denota o grave problema que iria além do campo da Teologia. Existe uma linha muito tênue entre a fé e o fanatismo, uma vez que incorporando o mesmo espírito inicial de criar Deus para satisfazer seus próprios desejos, o homem ressuscitaria esses desejos por meio da sua ignorância motivada pela sua fé. Desse modo, por meio da religião, a crença em Deus seria um grande problema para a própria moral e ética do ser humano, que não saberia impor limites a ele mesmo, ironicamente ocasionado pela religião e pela crença, afinal, se Deus existe, tudo é permitido.
Um ponto interessante a se considerar sobre a questão do homem criar Deus segundo sua imagem e semelhança, diz respeito ao método em que se dá a convenção da figura de Deus no meio religioso. Todas as religiões possuem dogmas. Dogmas estes que são criados para justificar a análise de fatos apresentados nos textos sagrados. Esses fatos são muitas vezes narrativas envolvendo uma figura que possui um fator sobrenatural ou suprahumano que lhe confere uma importância especial em relação aos demais homens. Entretanto, tudo o que é apresentado como acontecimento suprahumano vem da tradição, esta, que está fundamentada por meio de mitos criados pelos homens. Desse modo, estes mitos são convencionados como verdades a partir dos dogmas. No processo de criação da doutrina, as conclusões já são antes apresentadas por meio dos acontecimentos narrados para depois serem justificadas pelos dogmas. Note-se que ao longo do tempo os dogmas evoluem de um fato simples para um sistema complexo, como se para cada necessidade de justificar uma lacuna de interpretação no mito apresentado se precisasse criar mais uma convenção.
Um exemplo disso é figura de Jesus no Cristianismo. Segundo a tradição cristã, Jesus é o Filho de Deus, o Messias profetizado nos textos judaicos, e o próprio Deus encarnado como Salvador da humanidade. Esta é a base mitológica canônica da figura de Jesus, aceita comumente no meio cristão como um todo. Mas nem sempre foi assim. Inicialmente a figura de Jesus representava um simples profeta, no contexto da sociedade judaica, que ensinava uma nova maneira de enxergar os ensinamentos da Torah, assim como denunciava os problemas da sociedade local. Mais tarde, elevou-se Jesus à condição de Messias judeu, como um homem capaz de livrar Israel de seus problemas. Após sua morte, os vários grupos religiosos se degladiaram para definirem qual visão a cerca de Jesus era a correta. Desse modo tinhamos desde o Jesus, o filósofo hermético, dos Gnósticos, até o Jesus, Deus encarnado, dos seguidores de Paulo. Somente com o Concílio de Nicéia, por meio de uma intensa e complexa convenção para formular uma única doutrina que seria tida como oficial pela comunidade cristã mais numerosa, uma vez que o cristianismo naquela época se dividia em dezenas de seitas, é que se oficializaram os dogmas da Igreja naquela época, como os da divina trindade, a eucaristia, a ressurreição de Jesus, e muitos outros que conhecemos hoje.
Até chegar a essa convenção atual, desde a morte de Jesus, a História presenciou um complexo processo de formulação de dogmas, estes, vindos das diversas interpretações apresentadas pelos vários grupos cristãos para justificarem seus argumentos defendidos. Ou seja, muito tempo depois da figura histórica de Jesus ter aparecido é que se convencionaram dogmas a seu respeito, fruto de uma intensa disputa doutrinária entre vários grupos cristãos. Como vimos, sendo frutos da criação humana, os mitos são justificados por dogmas, meras convenções humanas que possuem a finalidade de dar veracidade a uma crença apresentada. Devido a um grande conflito doutrinário, devido às diversas interpretações que surgiam pelas lacunas deixadas pelos textos da Bíblia e seus mitos considerados, a comunidade cristã majoritária, a comunidade de Constantinopla, queria definir uma linha de pensamento comum. Com isso dentro do movimento cristão surgiram grupos como os Arianos, Macedônicos, Originários, Princilianos, Donatistas, Nestorianos, Marcinianos, e muitos outros que cada vez mais criaram dogmas para justificar seus pontos de vista. Esse sectarismo doutrinário não se inicia com a clássica visão histórica da Reforma Protestante, mas desde a própria formação da Igreja, antes mesmo dela se tornar a Igreja organizada por Constantino por meio do Estado. Se voltarmos um pouco antes disso, veremos que havia disputas entre os próprios apóstolos após a morte de Jesus, onde Thiago defendia a conservação das tradições judaicas na nova comunidade, enquanto Paulo defendia um sincretismo entre os gregos, romanos e os judeus. Desse modo, com o triunfo do Cristianismo Paulino, o atual Cristianismo mostra uma imagem totalmente distante das tradições judaicas, estas das qual Jesus e seus seguidores originais eram adeptos.
Tais disputas doutrinárias por meio dessa necessidade de se fixar dogmas não só destruiu as tradições originais, mas também dividiu a comunidade em vários grupos pelas interpretações que defendiam. E desse modo a cada dogma convencionado por um grupo, este anulava o de outro. E essa disputa doutrinária não tinha fim, pois cada grupo queria se impor como sendo seguidor de uma verdade incontestável, uma vez que possuíam seus dogmas para justificá-la. Com isso, voltamos a entrar na velha questão: Quem está certo? Quem está errado? E como já foi visto, é impossível justificar uma crença por meio dela mesma, ou de um sistema de dogmas baseado nela mesma. Por isso os dogmas tornam-se inválidos para justificar uma crença como sendo um fator de veracidade da mesma por serem frutos de uma necessidade de justificar um mito, anulando a sua validade enquanto origem e finalidade. Os dogmas também não podem comparar uma religião com outra, uma vez que ela se limita somente à crença que abrange, sendo algo altamente subjetivo, e, portanto, se invalida na sua função de justificar a crença perante outra. Por isso, qualquer dogma pode provar a existência ou não de qualquer divindade assim como as premissas que ele defende.
Ahura Mazda, Allah, Brahman, Duc Cao Dai, Ekam, El, G.A.D.U., Guaraci, Jah, Javé, Júpiter, Kukulkan, Odin, Olorum, Osíris, Quetzalcoatl, Rá, Zeus. Este é um pequeno exemplo de Deuses Supremos das várias religiões existentes. Ao longo dos séculos eles são considerados como os criadores do Universo pelas suas respectivas religiões. Mas como podemos ter certeza de que estes deuses não são falsos deuses? Afinal, do ponto de vista monoteísta, só pode existir apenas um Deus criador de tudo. Todas as religiões dizem possuir a doutrina certa, e como sempre, utilizam-se da máxima “só aqui encontrarás a verdade”. Entretanto como vimos, não existe um só Deus no campo religioso, e por haver essa pluralidade de entidades, as religiões precisam utilizar-se de algo que justifique a sua exclusividade doutrinária. Para isso apóiam-se nos livros sagrados. Entretanto todas as religiões possuem seus códigos canônicos os quais são considerados como a prova cabal para a veracidade do Deus em que acreditam. Agamas, Akilathirattu Ammanai, Alcorão, Analectos, Zend-Avesta, Bardo Todol, Bayan, Bhagavad Gitã, Bíblia, Cânon Páli, Dhammapada, Guru Granth Sahib, Kitáb-I-Aqdas, Mahabharata, Popol Vuh, Ramayana, Tao Te Ching, Thánh Ngôn Hiêp Tuyên, Torah, Upanixades, são um pequeno exemplo de livros sagrados que servem de base para a teologia das religiões que será construída pela análise desses livros.
O debate travado para justificar qual deus seria verdadeiro, e por fim, existente, esbarra no próprio meio de sua confirmação: A crença. Tudo o que se utiliza para justificar uma crença não passa do mesmo método e processo para justificar outra crença. Se o Islã se utiliza do Corão para justificar Allah, o Hinduísmo se utiliza do Upanixades para justificar Brahman. Se os cristãos se utilizam da Bíblia para justificar os milagres de Jesus, os astecas e maias se utilizavam do Popol Vuh para justificar os milagres de Quetzalcoatl. Se os Mórmons afirmam a veracidade da crença em Joseph Smith pelo Livro de Mórmon, os Bahá’ís afirmam sua crença em Bahá’u’lláh pelo Kitáb-I-Aqdas.
O simples fato de existirem diversos livros sagrados faz com que não se possa comparar nenhuma teologia com outra de modo a afirmar a veracidade de uma ou falsidade de outra. O fato de existirem diversas religiões é porque existem pessoas que creem nelas, e se creem é porque tem motivos pessoais. Entretanto por serem motivos pessoais não podemos tomá-los como fonte para uma conclusão unânime, pois a questão adentraria no campo da epistemologia, não havendo uma conclusão absoluta a cerca disso. Logo, os fatores da “crença” enquanto justificadora da fé, e da Teologia enquanto justificadora da doutrina, são inválidos para determinar qual religião é verdadeira, pois todas possuem suas teologias esquematizadas para justificar suas crenças, de modo que, não podemos comparar doutrinas teológicas como certas ou erradas entre elas, por todas serem esquemas filosóficos abstratos. Logo, não podemos tirar uma conclusão a partir de tal análise. Considerando esses fatos, ou existiriam todos os deuses acima, ou então cada um seria fruto da criação de uma determinada sociedade, não passando de mitos incorporados à respectiva cultura a que pertencem, desse modo, não existindo.
Algo que chama a atenção na análise dos deuses supremos acima citados, é que todos possuem características comuns. Ao considerarmos as características teológicas desses deuses, temos a seguinte conclusão: Todos eles são deuses que criaram o Universo e tudo o que há nele. Todos eles se revelaram à humanidade como criadores da mesma, os quais detêm total autoridade sobre a criação. Este é o ponto de partida para a consideração analítica dos fundamentos comuns entre esses deuses.
Aprofundando esta análise, temos os sete atributos da personalidade de Deus enquanto entidade suprema: Onipotência, Onipresença, Onisciência, Simplicidade, Imutabilidade, Infinitude e Aseidade. Como sabemos, nos primórdios da crença humana, o homem diante do poder desconhecido da natureza a considerou como um ente superior, independente e poderoso. Assim, todas as características da natureza transformaram-se em características divinas, que mais tarde foram consideradas em unanimidade como sendo parte da essência de Deus. Mas ao longo da história, Deus passou a interagir não mais como uma força desconhecida, mas como um ente que se comunicava com os homens. Considerando essa comunicação, o homem passou a compreender o que seria Deus. Com isso, se passou a considerar os atributos comunicativos de Deus para com a sua criação como uma forma de provar a sua existência.
Entretanto esses atributos são em suma atributos humanos como o conhecimento, a bondade, o amor, a santidade, a justiça, a verdade, a soberania e a vontade. Essas características humanas foram consideradas como divinas, em outras palavras, como características vindas de uma consciência superior, que devido à limitada natureza humana seriam algo inatingível em sua realização plena, como um sentimento de necessidade de perfeição. Entretanto como vemos tanto na teologia como na filosofia religiosa, até mesmo na descrição da imagem de Deus temos uma figura representativa puramente humana. Deus sempre toma a forma de homem, seja como um ente pessoal, mas não encarnável, como Osíris ou Zeus, seja como deuses encarnados como Jesus, Krishna, Hórus, ou Mitra. Em outras palavras, esse caráter humano demonstra que a origem de Deus está no próprio homem que em vez de ter sido criado à imagem e semelhança de Deus, teria criado Deus à sua imagem e semelhança, onde o ápice dessa necessidade de que o humano seja perfeito se mostra na personificação da divindade enquanto um ser humano como no caso dos deuses que vêm ao mundo com a missão de salvar a humanidade, como os acima citados.
Além do mais, a prova dessa formulação e posteriormente transformação da natureza divina, encontrasse explicitamente na crença judaico-cristã, quando no Velho Testamento Deus mostra possuir uma característica grosseiramente humana, vingativa e irada, tendo tal manifestação baseada na violência da própria natureza, assim como na personalidade vingativa de Zeus na Grécia Antiga, ou Odin na Cultura Nórdica, que por meio de fenômenos naturais demonstrava a sua ira para com a criação. Entretanto, quando Jesus vem ao mundo, Deus passa a ter uma atitude bondosa e clemente, mudando radicalmente a antiga imagem do deus irado do Antigo Testamento para um deus mais humano, baseado nos próprios princípios pregados por Jesus. Com essa radical mudança do “Deus-humano” do Antigo Testamento para a do “homem-Deus” do Novo Testamento, isto provaria que o Deus judaico-cristão, assim como os demais, seria uma criação humana para justificar suas dúvidas e desejos, sendo um puro reflexo da personalidade e pensamentos do homem na sociedade em um determinado tempo. Tal idéia foi apresentada já no Séc. VI pelo filósofo Xenófales de Cólofon. Segundo ele:
“Os homens imaginam que os deuses nasceram, vestem-se, têm voz e corpo como eles próprios. Por isso, Homero e Hesíodo atribuíram aos deuses tudo o que é vergonhoso e repreensível entre os homens: roubo, adultério, engano e outros atos ilícitos. Mesmo os bois, leões e cavalos, se tivessem mãos com as quais esculpir imagens, moldariam deuses de acordo com suas próprias forma e fariam seus corpos iguais aos seus próprios”.
De fato, até mesmo quando lemos algumas passagens bíblicas onde mostre a ação de Deus na criação, o mesmo se mostra como um Deus vingativo e covarde. Segundo a doutrina judaico-cristã, Deus amaldiçoou toda a humanidade e a criação devido a escolha de Adão e Eva (Gênesis 3:16-23 e Romanos 5:18), afogou mulheres grávidas, crianças inocentes, idosos e animais na ocasião do Dilúvio (“pereceu toda carne que se move sobre a terra” - Gênesis 7:20-23), atormentou os egípcios e seus animais com pragas e doenças pelo Faraó ter proibido os hebreus deixarem o Egito (Êxodo 9:8-11,25). Ainda matou crianças egípcias na época da Páscoa (“no meio da noite Deus feriu todos os primogênitos na terra do Egito... e houve grande clamor no Egito por não haver casa onde não houvesse um morto”). Depois do Êxodo, ordenou aos hebreus matarem homens, mulheres e crianças de sete nações e roubar suas terras, demolir seus templos, destruir seus símbolos e queimar as imagens de seus deuses (Deuteronômio 7:1-2). Fora isso matou o filho do rei Davi por causa do adultério deste com Betsabá (Samuel II 12:13-18), permitiu a tortura e o assassinato de seu próprio Filho (Romanos 3:24-25) e prometeu enviar para o sofrimento eterno todas as pessoas que não aceitassem e cressem em sua nova doutrina, o Cristianismo (Apocalipse 21:8).
Mas a questão crucial de tudo isso não está nos fatos relatados das ações de Deus, e sim por muitas pessoas aceitarem isso como normal, uma vez que creem em tudo isso como verdade. Essa crença cruenta denota claramente o fato do homem atribuir todas essas características humanas a Deus: violência, ódio, vingança, inveja, e desumanidade. Em nada isso se assemelha ao totalmente oposto Deus de amor e misericórdia que é apresentado por Jesus e personificado pela sua própria figura. Justamente pelo fato do homem criar à sua imagem e semelhança um ser superior para justificar suas dúvidas e desejos, isto nos leva a uma perigosa situação: Ao criar um ser tão temível e violento, o homem passa a justificar e a praticar os mesmos atos como sendo ordem de Deus. Desse modo justificam-se massacres, guerras, assassinatos e todo tipo de corrupção, uma vez que atos como esses sendo praticados pelo próprio Deus, poderão ser autorizados para os homens pela Sua ordem advinda de sua vontade. Desse modo temos todo o tipo de fanatismo expresso por meio da crença. Isso denota o grave problema que iria além do campo da Teologia. Existe uma linha muito tênue entre a fé e o fanatismo, uma vez que incorporando o mesmo espírito inicial de criar Deus para satisfazer seus próprios desejos, o homem ressuscitaria esses desejos por meio da sua ignorância motivada pela sua fé. Desse modo, por meio da religião, a crença em Deus seria um grande problema para a própria moral e ética do ser humano, que não saberia impor limites a ele mesmo, ironicamente ocasionado pela religião e pela crença, afinal, se Deus existe, tudo é permitido.
Um ponto interessante a se considerar sobre a questão do homem criar Deus segundo sua imagem e semelhança, diz respeito ao método em que se dá a convenção da figura de Deus no meio religioso. Todas as religiões possuem dogmas. Dogmas estes que são criados para justificar a análise de fatos apresentados nos textos sagrados. Esses fatos são muitas vezes narrativas envolvendo uma figura que possui um fator sobrenatural ou suprahumano que lhe confere uma importância especial em relação aos demais homens. Entretanto, tudo o que é apresentado como acontecimento suprahumano vem da tradição, esta, que está fundamentada por meio de mitos criados pelos homens. Desse modo, estes mitos são convencionados como verdades a partir dos dogmas. No processo de criação da doutrina, as conclusões já são antes apresentadas por meio dos acontecimentos narrados para depois serem justificadas pelos dogmas. Note-se que ao longo do tempo os dogmas evoluem de um fato simples para um sistema complexo, como se para cada necessidade de justificar uma lacuna de interpretação no mito apresentado se precisasse criar mais uma convenção.
Um exemplo disso é figura de Jesus no Cristianismo. Segundo a tradição cristã, Jesus é o Filho de Deus, o Messias profetizado nos textos judaicos, e o próprio Deus encarnado como Salvador da humanidade. Esta é a base mitológica canônica da figura de Jesus, aceita comumente no meio cristão como um todo. Mas nem sempre foi assim. Inicialmente a figura de Jesus representava um simples profeta, no contexto da sociedade judaica, que ensinava uma nova maneira de enxergar os ensinamentos da Torah, assim como denunciava os problemas da sociedade local. Mais tarde, elevou-se Jesus à condição de Messias judeu, como um homem capaz de livrar Israel de seus problemas. Após sua morte, os vários grupos religiosos se degladiaram para definirem qual visão a cerca de Jesus era a correta. Desse modo tinhamos desde o Jesus, o filósofo hermético, dos Gnósticos, até o Jesus, Deus encarnado, dos seguidores de Paulo. Somente com o Concílio de Nicéia, por meio de uma intensa e complexa convenção para formular uma única doutrina que seria tida como oficial pela comunidade cristã mais numerosa, uma vez que o cristianismo naquela época se dividia em dezenas de seitas, é que se oficializaram os dogmas da Igreja naquela época, como os da divina trindade, a eucaristia, a ressurreição de Jesus, e muitos outros que conhecemos hoje.
Até chegar a essa convenção atual, desde a morte de Jesus, a História presenciou um complexo processo de formulação de dogmas, estes, vindos das diversas interpretações apresentadas pelos vários grupos cristãos para justificarem seus argumentos defendidos. Ou seja, muito tempo depois da figura histórica de Jesus ter aparecido é que se convencionaram dogmas a seu respeito, fruto de uma intensa disputa doutrinária entre vários grupos cristãos. Como vimos, sendo frutos da criação humana, os mitos são justificados por dogmas, meras convenções humanas que possuem a finalidade de dar veracidade a uma crença apresentada. Devido a um grande conflito doutrinário, devido às diversas interpretações que surgiam pelas lacunas deixadas pelos textos da Bíblia e seus mitos considerados, a comunidade cristã majoritária, a comunidade de Constantinopla, queria definir uma linha de pensamento comum. Com isso dentro do movimento cristão surgiram grupos como os Arianos, Macedônicos, Originários, Princilianos, Donatistas, Nestorianos, Marcinianos, e muitos outros que cada vez mais criaram dogmas para justificar seus pontos de vista. Esse sectarismo doutrinário não se inicia com a clássica visão histórica da Reforma Protestante, mas desde a própria formação da Igreja, antes mesmo dela se tornar a Igreja organizada por Constantino por meio do Estado. Se voltarmos um pouco antes disso, veremos que havia disputas entre os próprios apóstolos após a morte de Jesus, onde Thiago defendia a conservação das tradições judaicas na nova comunidade, enquanto Paulo defendia um sincretismo entre os gregos, romanos e os judeus. Desse modo, com o triunfo do Cristianismo Paulino, o atual Cristianismo mostra uma imagem totalmente distante das tradições judaicas, estas das qual Jesus e seus seguidores originais eram adeptos.
Tais disputas doutrinárias por meio dessa necessidade de se fixar dogmas não só destruiu as tradições originais, mas também dividiu a comunidade em vários grupos pelas interpretações que defendiam. E desse modo a cada dogma convencionado por um grupo, este anulava o de outro. E essa disputa doutrinária não tinha fim, pois cada grupo queria se impor como sendo seguidor de uma verdade incontestável, uma vez que possuíam seus dogmas para justificá-la. Com isso, voltamos a entrar na velha questão: Quem está certo? Quem está errado? E como já foi visto, é impossível justificar uma crença por meio dela mesma, ou de um sistema de dogmas baseado nela mesma. Por isso os dogmas tornam-se inválidos para justificar uma crença como sendo um fator de veracidade da mesma por serem frutos de uma necessidade de justificar um mito, anulando a sua validade enquanto origem e finalidade. Os dogmas também não podem comparar uma religião com outra, uma vez que ela se limita somente à crença que abrange, sendo algo altamente subjetivo, e, portanto, se invalida na sua função de justificar a crença perante outra. Por isso, qualquer dogma pode provar a existência ou não de qualquer divindade assim como as premissas que ele defende.
Ateísmo
Ateísmo, num sentido amplo, é a ausência de crença na existência de divindades. O ateísmo é oposto ao teísmo, que em sua forma mais geral é a crença de que existe ao menos uma divindade.
O termo ateísmo, proveniente do grego clássico ἄθεος (transl.: atheos), que significa "sem Deus", foi aplicado com uma conotação negativa àqueles que se pensava rejeitarem os deuses adorados pela maioria da sociedade. Com a difusão do pensamento livre, do ceticismo científico e do consequente aumento dacrítica à religião, a abrangência da aplicação do termo foi reduzida. Os primeiros indivíduos a identificarem-se como "ateus" surgiram no século XVIII.
Os ateus tendem a ser céticos em relação a afirmações sobrenaturais, citando a falta de evidências empíricas que provem sua existência. Os ateus têm oferecido vários argumentos para não acreditar em qualquer tipo de divindade. O complexo ideológico ateísta inclui: o problema do mal, o argumento das revelações inconsistentes e o argumento da descrença. Outros argumentos do ateísmo são filosóficos, sociais e históricos. Embora alguns ateus adotem filosofias seculares, não há nenhuma ideologia ou conjunto de comportamentos que todos os ateus seguem. Na cultura ocidental, assume-se frequentemente que os ateus são irreligiosos, embora alguns ateus sejamespiritualistas.11 Ademais, o ateísmo também está presente em certos sistemas religiosos e crenças espirituais, como o jainismo, o budismo e o hinduísmo. O jainismo e algumas formas de budismo não defendem a crença em deuses,enquanto o hinduísmo mantém o ateísmo como um conceito válido, mas difícil de acompanhar espiritualmente.
Como os conceitos sobre a definição do ateísmo variam, é difícil determinar quantos ateus existem no mundo atualmente com precisão. Segundo uma estimativa, cerca de 2,3% da população mundial descreve-se como ateia, enquanto 11,9% descreve-se como não-religiosa. De acordo com outra estimativa, as taxas de pessoas que se auto-declaram como ateias são mais altas em países ocidentais, embora também varie bastante em grau — Estados Unidos(4%), Itália (7%), Espanha (11%), Reino Unido (17%), Alemanha (20%) e França(32%).
Etimologia
No grego antigo, o adjetivo ἄθεος (transl.: atheos) é formado pelo prefixo a, significando "ausência" e o radical "teu", derivado do grego theós, significando "deus". O significado literal do termo é, então, "sem deus".
A palavra passou a indicar de forma mais direta pessoas que não acreditavam em deuses no século V a.C., adquirindo definições como "cortar relações com os deuses" ou "negar os deuses". O termo ἀσεβής (asebēs) passou então a ser aplicado contra aqueles que impiamente negavam ou desrespeitavam os deuses locais, ainda que crendo em outros deuses. Modernas traduções de textos clássicos, por vezes tornam atheos em "ateu". Como substantivo abstrato, também existia ἀθεότης (atheotes), "ateísmo". Cícero traduziu a palavra do grego para o latim como atheos. O termo era frequentemente usado pelas duas partes, no sentido pejorativo, no debate entre os primeiros cristãos e os helênicos
Durante os séculos XVI e XVII, a palavra "ateu" ainda era reservada exclusivamente para a polêmica … O termo "ateu" era um insulto. Não ocorreria a alguém autodenominar-se ateu. |
O termo "ateísmo" foi utilizado pela primeira vez para descrever uma crença autoconfessa na Europa do final do século XVIII, especificamente denotando descrença no deus monoteísta abraâmico.
No século XX, a globalização contribuiu para a expansão do termo para referir-se à descrença em todos os deuses, embora ainda seja comum na sociedade ocidental descrever o ateísmo como simples "descrença em Deus." Mais recentemente, tem havido um movimento em certos círculos filosóficos para redefinir ateísmo como a "ausência de crença em divindades", e não como uma crença em si mesmo; esta definição tornou-se popular em comunidades ateístas, embora sua utilização tenha sido limitada.
Definição e distinções
Um Diagrama de Venn mostrando a relação entre as definições de ateísmo fraco/forte e ateísmo implícito/explícito. Ateus explícitos fortes/positivos/duros (em roxo à direita) afirmam que "existe pelo menos uma deidade" é uma afirmação falsa. Os ateus explícitos fracos/negativos/suaves (em azul à direita) rejeitam ou distanciam-se da crença de que existe qualquer deidade sem realmente afirmarem que "pelo menos uma deidade existe" é uma afirmação falsa. Os ateus implícitos/fracos/negativos (em azul à esquerda) incluiriam pessoas (como crianças pequenas e alguns agnósticos) que não creem numa deidade, mas que não rejeitaram explicitamente tal crença. (Os tamanhos no diagrama não são representativos dos tamanhos relativos dentro de uma população.)
Autores discutem entre si sobre qual a melhor forma de definir e classificar o "ateísmo", contestando quais as entidades sobrenaturais a que o termo se aplica, se é uma afirmação por direito próprio ou se é meramente a ausência de uma, e se requer uma rejeição consciente, explícita. Uma variedade de categorias têm sido propostas para tentar distinguir as diferentes formas de ateísmo.
Abrangência
Alguma da ambiguidade e controvérsia envolvida na definição do ateísmo resulta da dificuldade em chegar a um consenso sobre a definição de palavras como "divindade" e "Deus". A pluralidade de concepções muito diferentes de deus e de divindades conduz a ideias conflituosas sobre a aplicabilidade do ateísmo. Osantigos romanos acusavam os cristãos de serem ateus por não adorarem os seus deuses pagãos. Aos poucos, essa visão caiu em desuso, pois o teísmo passou a ser entendido como a crença em qualquer divindade.
No que diz respeito à gama de fenômenos sendo rejeitados, o ateísmo pode contrapor-se a qualquer coisa desde a existência de uma divindade à existência de quaisquer conceitos espirituais, sobrenaturais ou transcendentais, como os dobudismo, hinduísmo, jainismo e taoísmo.
Implícito versus explícito
As definições do ateísmo também variam quanto ao grau de consideração que uma pessoa deve dar à ideia de deus (ou deuses) para ser considerado um ateu. O ateísmo tem sido por vezes definido para incluir a simples ausência de crença na existência de qualquer divindade. Essa definição ampla incluiria os recém-nascidos e outras pessoas que não tenham sido expostas a ideias teístas. Já em 1772, o Barão d'Holbach disse que: "Todas as crianças nascem ateias, elas não têm ideia de Deus". Do mesmo modo, o escritor norte-americano George H. Smith sugeriu em 1979 que: "O homem que não está familiarizado com o teísmo é ateu porque não acredita em um deus. Esta categoria também incluiria a criança com a capacidade conceitual de compreender as questões envolvidas, mas que ainda não tomou conhecimento dessas questões. O fato de que esta criança não acredita em Deus qualifica-a como ateu." Smith cunhou o termo "ateísmo implícito" para se referir à "ausência de crença teísta sem uma rejeição consciente dela" e "ateísmo explícito" para referir-se à definição mais comum de descrença consciente. Ernest Nagel contradiz a definição de Smith sobre o ateísmo como uma mera "ausência de teísmo", reconhecendo apenas o ateísmo explícito como "ateísmo" verdadeiro.
Positivo versus negativo
Filósofos como Antony Flew e Michael Martin têm contrastado o ateísmo positivo (forte/duro) com o ateísmo negativo (fraco/suave). O ateísmo positivo é a afirmação explícita de que os deuses não existem. O ateísmo negativo inclui todas as outras formas de não-teísmo. Segundo esta classificação, quem não é um teísta é um ateu negativo ou positivo. Os termos "ateísmo forte" e "ateísmo fraco" são relativamente recentes, enquanto os termos "ateísmo negativo" e "ateísmo positivo" são de origem mais antiga, tendo sido utilizados (de maneira ligeiramente diferente) na literatura filosófica e na apologéticacatólica. Sob esta demarcação do ateísmo, a maioria dos agnósticos podem ser qualificados como ateus negativos.
Como mencionado acima, os termos "positivo" e "negativo" têm sido usados na literatura filosófica de uma forma similar aos termos "forte" e "fraco", respectivamente. No entanto, o livro Ateísmo Positivo, do escritor indiano Goparaju Ramachandra Rao, publicado pela primeira vez em 1972, introduziu um uso alternativo do termo. Tendo crescido em um sistema hierárquico com uma base religiosa, Gora pedia uma Índia secular e sugeriu diretrizes para uma filosofia ateísta positiva, ou seja, uma que promova os valores positivos. O ateísmo positivo, definido desta forma, implica coisas como moralmente reto, mostrando um entendimento de que as pessoas religiosas têm razões para acreditar, sem proselitismo ou dando lições sobre o ateísmo e defender-se com honestidade, em vez de com o objetivo de "ganhar" qualquer confronto com os críticos sinceros.
Enquanto Martin, por exemplo, afirma que o agnosticismo implica o "ateísmo negativo", a maioria dos agnósticos vêem o seu ponto de vista como distinto do ateísmo, o qual podem considerar tão pouco justificado como o teísmo ou como requerendo igual convicção. A afirmação da intangibilidade do conhecimento a favor ou contra a existência de deuses é às vezes vista como indicação de que o ateísmo requer fé. As respostas comuns de ateus contra este argumento incluem que proposições religiosas não comprovadas merecem tanta descrença quanto todas as outras proposições não comprovadas e que a improbabilidade da existência de um deus não implica igual probabilidade para ambas as possibilidades.O filósofo escocês J.J C. Smart argumenta ainda que "às vezes uma pessoa que é realmente ateia pode descrever-se, mesmo apaixonadamente, como agnóstica devido ao irrazoável ceticismo filosóficogeneralizado que nos impediria de dizer que sabemos alguma coisa qualquer, exceto, talvez, as verdades da matemática e da lógica formal." Por conseguinte, alguns autores ateus como Richard Dawkins preferem distinguir as posições teísta, agnóstica e ateia segundo a probabilidade que cada uma delas atribui à afirmação "Deus existe".
Definição como impossível ou impermanente
Antes do século XVIII, a existência de Deus era tão universalmente aceita nomundo ocidental, que mesmo a possibilidade do ateísmo verdadeiro era questionada. Isso é chamado de inatismo teísta, a noção de que todas as pessoas acreditam em Deus, desde o nascimento; dentro desta visão estava a conotação de que os ateus estão simplesmente em negação.
Existe também uma posição alegando que os ateus são rápidos a acreditar em Deus em tempos de crise, que os ateus fazem conversões no leito de morte, ou de que "não existem ateus nas trincheiras." Alguns defensores dessa posição afirmam que um dos benefícios da religião é que a fé religiosa permite aos seres humanos suportarem melhor as dificuldades, funcionando como o "ópio do povo". Contudo, tem havido exemplos do contrário, entre os quais exemplos de literais "ateus nas trincheiras."
Alguns ateus questionam a própria necessidade de usar o termo "ateísmo". Em seu livro Carta a Uma Nação Cristã, Sam Harris escreve:
Na verdade, o "ateísmo" é um termo que nem deveria existir. Ninguém precisa identificar-se como um "não-astrólogo" ou "não-alquimista". Não temos palavras para pessoas que duvidam que Elvis ainda está vivo ou que estrangeiros têm atravessado a galáxia só para molestar fazendeiros e seu gado. O ateísmo é nada mais do que ruídos que pessoas razoáveis fazem na presença de crenças religiosas injustificadas.
Conceitos filosóficos
Ateísmo prático
No ateísmo prático ou pragmático, também conhecido como apateísmo, os indivíduos vivem como se não existissem deuses e explicam fenômenos naturais sem recorrer ao divino. A existência de deuses não é rejeitada, mas pode ser designada como desnecessária ou inútil; de acordo com este ponto de vista os deuses não dão um propósito à vida, nem influenciam a vida cotidiana. Uma forma de ateísmo prático, com implicações para a comunidade científica, é onaturalismo metodológico - a "adoção tácita ou assunção do naturalismo filosófico no método científico, aceitando-o ou nele acreditando, totalmente ou não."
O ateísmo prático pode assumir várias formas:
- Ausência de motivação religiosa — a crença em deuses não motiva a ação moral, a ação religiosa, ou qualquer outra forma de ação;
- Exclusão ativa do problema dos deuses e da religião da busca intelectual e de ações concretas;
- Indiferença — a ausência de qualquer interesse pelos problemas dos deuses e da religião; ou
- Desconhecimento do conceito de uma divindade.
Ateísmo teórico
Argumentos ontológicos
O ateísmo teórico postula explicitamente argumentos contra a existência de deuses, respondendo a argumentos teístas comuns, como o argumento teleológico ou a Aposta de Pascal. Na verdade, o ateísmo teórico é principalmente uma ontologia, precisamente uma ontologia física.
Argumentos epistemológicos
O ateísmo epistemológico argumenta que as pessoas não podem conhecer um Deus ou determinar a existência de um Deus. O fundamento do ateísmo epistemológico é o agnosticismo, o qual assume uma variedade de formas. Na filosofia da imanência, a divindade é inseparável do próprio mundo, incluindo a mente de uma pessoa e a consciência de cada pessoa está bloqueada no sujeito. De acordo com esta forma de agnosticismo, esta limitação de perspectiva impede qualquer inferência objetiva, desde a crença em um deus às afirmações de sua existência. O agnosticismo racionalista de Kant e do Iluminismo só aceita o conhecimento deduzido com a racionalidade humana. Esta forma de ateísmo afirma que os deuses não são perceptíveis como uma questão de princípio e, portanto, sua existência não pode ser conhecida. O ceticismo, baseado nas ideias de Hume, afirma que a certeza sobre qualquer coisa é impossível, por isso nunca se pode saber da existência de um Deus. A inclusão do agnosticismo no ateísmo é disputada; também pode ser considerado como uma visão básica do mundo independente.
Outros argumentos para o ateísmo, que podem ser classificados como epistemológicos ou ontológicos, incluem o positivismo lógico e o ignosticismo, que afirmam a falta de sentido ou ininteligibilidade de termos e frases básicos tais como "Deus" e "Deus é todo-poderoso." O não cognitivismo teológico afirma que a declaração "Deus existe" não expressa uma proposição, sendo antes absurda ou cognitivamente sem sentido. Tem sido argumentado em ambos os sentidos sobre se tais indivíduos podem ser classificados em alguma forma de ateísmo ou agnosticismo. Os filósofos A. J. Ayer e o filósofo norte-americano Theodore M. Drange rejeitam ambas as categorias, afirmando que ambos os campos aceitam a frase "Deus existe" como uma proposição; eles, ao invés, classificam o não cognitivismo em uma categoria própria.
Argumentos metafísicos
Um autor escreve:
O ateísmo metafísico...inclui todas as doutrinas ligadas ao monismo metafísico (a homogeneidade da realidade). O ateísmo metafísico pode ser: a) absoluto - uma negação explícita da existência de Deus associada com o monismo materialista (todas as tendências materialistas, tanto nos tempos antigos quanto nos modernos); b) relativo - a negação implícita de Deus em todas as filosofias que, apesar de aceitarem a existência de um absoluto, concebem o absoluto como não possuindo qualquer um dos atributos próprios de Deus: transcendência, um caráter ou unidade pessoal. O ateísmo relativo está associada com o monismo idealista (panteísmo, panenteísmo, deísmo). |
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Argumentos lógicos
O ateísmo lógico sustenta que às diversas concepções de deuses, como o deus pessoal do cristianismo, são atribuídas qualidades logicamente inconsistentes. Os ateus apresentam argumentos dedutivos contra a existência de Deus que afirmam a incompatibilidade entre certas características, como a perfeição, estatuto de criador, imutabilidade, onisciência, onipresença, onipotência,onibenevolência, transcendência, a pessoalidade (um ser pessoal), não-fisicalidade, justiça e misericórdia.
Os ateus teodiceanos acreditam que o mundo como o experimentam não pode ser conciliado com as qualidades normalmente atribuídas a Deus e aos deuses pelos teólogos. Eles argumentam que um Deus onisciente, onipotente e onibenevolente não é compatível com um mundo onde existe o mal e osofrimento, e onde o amor divino está escondido de muitas pessoas.Um argumento semelhante é atribuído a Siddhartha Gautama, o fundador dobudismo.
Redução da importância da religião
Filósofos como Ludwig Feuerbach e Sigmund Freud argumentaram que Deus e outras crenças religiosas são invenções humanas, criadas para atender a várias necessidades psicológicas e emocionais. Esta é também uma visão de muitosbudistas.Karl Marx e Friedrich Engels, influenciados pela obra de Feuerbach, argumentaram que a crença em Deus e na religião são funções sociais, utilizadas por aqueles no poder para oprimir a classe trabalhadora. De acordo com Mikhail Bakunin, "a ideia de Deus implica a abdicação da razão e da justiça humanas; é a negação mais decisiva da liberdade humana, e, necessariamente, termina na escravização da humanidade, na teoria e na prática." Ele inverteu o famoso aforismo de Voltaire de que se Deus não existisse, seria preciso inventá-lo, escrevendo que "se Deus realmente existisse, seria necessário aboli-lo."
Alternativos
O ateísmo axiológico, ou construtivo, rejeita a existência de deuses em favor de um "absoluto maior", como a humanidade. Esta forma de ateísmo favorece a humanidade como fonte absoluta da ética e valores, e permite que os indivíduos resolvam problemas morais, sem recorrerem a Deus. Marx e Freud utilizaram este argumento para transmitir mensagens de libertação, de desenvolvimento integral e de felicidade sem restrições.
Uma das críticas mais comuns ao ateísmo tem sido a tese contrária: que negar a existência de um deus conduz ao relativismo moral, deixando o indivíduo sem fundamento moral ou ético, ou torna a vida sem sentido e miserável. Blaise Pascal argumentou esta visão nos seus Pensées.
Existencialismo ateísta
O filósofo francês Jean-Paul Sartre identificou-se como um representante de um "existencialismo ateísta", menos preocupado com negar a existência de Deus do que estabelecer que o "homem precisa... encontrar-se novamente e entender que nada pode salvá-lo de si mesmo, nem mesmo uma prova válida da existência de Deus."" Sartre disse que um corolário de seu ateísmo era que "se Deus não existe, há pelo menos um ser no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes que ele possa ser definido por qualquer conceito, e ... este ser é o homem." A consequência prática desse ateísmo foi descrita por Sartre no sentido de que não há regras a priori ou valores absolutos que podem ser invocados para governar a conduta humana e que os humanos estão "condenados" a inventar estes por si mesmos, tornando o "homem" absolutamente "responsável por tudo que ele faz."
O acadêmico Rhiannon Goldthorpe sugeriu que alguns dos escritos de Sartre estavam "permeados por um 'ateísmo cristão', no qual crenças antigas ainda alimentam a imaginação e a sensibilidade do cético mais radical. O acadêmico Priest Stephen descreve a perspectiva de Sartre como "uma metafísica ateísta." O tradutor de Sartre, Hazel Barnes, escreveu sobre aquele: "O Deus que ele rejeita não é um poder vago, um X desconhecido que explicaria a origem do universo, nem tão pouco é um ideal ou um mito para simbolizar a busca do homem pelo Bem. É especificamente o Deus dos Escolásticos ou, pelo menos, qualquer ideia de Deus como um Criador específico, todo-poderoso, absoluto e existente."
História
Apesar do termo ateísmo ter origem na França do século XVI, ideias que seriam hoje reconhecidas como ateístas estão documentadas desde a antiguidade clássica e o período védico.
Antiga religião hindu
Escolas ateístas são encontradas no hinduísmo antigo, e existem desde o tempo da religião védica. Entre as seis escolas ortodoxas (āstika e nāstika) da filosofia hindu, Sankhya, o mais antigo sistema filosófico, não aceita Deus, enquanto a antiga Mimamsa também rejeita a noção de divindade, e sustenta que a própria ação humana é suficiente para criar as circunstâncias necessárias à apreciação dos seus frutos.
A completamente materialista e antiteísta escola filosófica Carvaka que se originou na Índia em torno do século VI a.C. é provavelmente a escola de filosofia mais explicitamente ateísta da Índia, similar à escola cirenaica grega. Este ramo da filosofia indiana é classificado como heterodoxo devido à sua rejeição da autoridade dos Vedas e não é considerado parte das seis escolas ortodoxas do hinduísmo, mas é notável como evidência de um movimento materialista dentro do hinduísmo. Chatterjee e Datta explicam que a nossa compreensão da filosofia Carvaka é fragmentária, baseada principalmente na crítica das suas ideias por outras escolas, e que não é uma tradição viva:
Apesar do materialismo de uma forma ou de outra ter estado sempre presente na Índia, e referências ocasionais sejam encontradas nos Vedas, na literatura budista, nos épicos, bem como nas obras filosóficas posteriores, não encontramos nenhum trabalho sistemático sobre o materialismo, nem qualquer escola organizada de seguidores como as outras escolas filosóficas possuem. Mas quase todos os trabalhos das outras escolas mencionam, para refutação, os pontos de vista materialistas. Nosso conhecimento do materialismo indiano baseia-se sobretudo nesses trabalhos. |
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Outras filosofias indianas geralmente consideradas como ateístas incluem samkhya clássica e mimāṃsā. A rejeição de um Deus criador pessoal também é observada no jainismo e no budismo na Índia.
Antiguidade clássica
O ateísmo ocidental tem suas raízes na filosofia grega pré-socrática, mas não emerge como uma visão do mundo distinta até o final do Iluminismo. O filósofo grego do século V a.C. Diágoras é conhecido como o "primeiro ateu" e é citado como tal por Cícero no seu De Natura Deorum.Crítias via a religião como uma invenção humana usada para assustar as pessoas e fazê-las seguir a ordem moral. Atomistas como Demócrito tentaram explicar o mundo de uma forma puramente materialista, sem referência ao espiritual ou místico. Entre outros filósofos pré-socráticos, que provavelmente tinham pontos de vista ateístas, incluem-se Pródico e Protágoras. No século III a.C. os filósofos gregosTeodoro, o Ateu e Estratão de Lampsaco também não acreditavam que deuses existiam.
Sócrates (c. 471-399 a.C.) foi acusado de impiedade (ver Dilema de Eutífron) baseado no fato de ele ter inspirado o questionamento dos deuses do Estado.Embora ele tenha contestado a acusação de que era um "ateu completo",dizendo que não podia ser um ateu, visto que acreditava em espíritos,acabaria por ser condenado à morte. Sócrates também reza a vários deuses no Fedro de Platão e diz "Por Zeus" no diálogo A República.
Evêmero (c. 330-260 aC) publicou sua visão de que os deuses eram apenas os governantes, conquistadores e fundadores do passado deificados, e que os seus cultos e religiões eram, em essência, a continuação dos reinos que desapareceram e das estruturas políticas anteriores. Embora não fosse estritamente um ateu, Evêmero mais tarde foi criticado por ter "espalhado o ateísmo por toda a terra habitada ao obliterar os deuses."
O atomista e materialista Epicuro (c. 341-270 aC) disputou muitas doutrinas religiosas, incluindo a existência de vida após a morte ou uma divindade pessoal; ele considerava a alma puramente material e mortal. Embora o epicurismo não tenha descartado a existência de deuses, ele acreditava que, se existissem, eles estavam despreocupados com a humanidade.
O poeta romano Lucrécio (c. 99-55 aC), concordou que, se houvesse deuses, estavam despreocupados com a humanidade e eram incapazes de afetar o mundo natural. Por esta razão, ele acreditava que a humanidade não devia ter medo do sobrenatural. Ele expõe seus pontos de vista epicuristas sobre o cosmos, átomos,alma, mortalidade e religião em De rerum natura (em português: "Sobre a natureza das coisas"), que popularizou a filosofia de Epicuro em Roma.
O poeta romano Lucrécio (c. 99-55 aC), concordou que, se houvesse deuses, estavam despreocupados com a humanidade e eram incapazes de afetar o mundo natural. Por esta razão, ele acreditava que a humanidade não devia ter medo do sobrenatural. Ele expõe seus pontos de vista epicuristas sobre o cosmos, átomos,alma, mortalidade e religião em De rerum natura (em português: "Sobre a natureza das coisas"), que popularizou a filosofia de Epicuro em Roma.
O filósofo romano Sexto Empírico defendia que se deve suspender o julgamento sobre praticamente todas as crenças - uma forma de ceticismo conhecida comopirronismo - que nada era inerentemente mau e que a ataraxia ("paz de espírito") é atingível se nos refrearmos de julgar. O volume relativamente grande de obras suas que sobreviveram, teve uma influência duradoura sobre filósofos posteriores.
O significado do termo "ateu" mudou ao longo da antiguidade clássica. Os primeiros cristãos eram rotulados como ateus pelos não-cristãos por causa da sua descrença nos deuses pagãos. Durante o Império Romano, os cristãos foram executados por sua rejeição aos deuses romanos em geral e ao culto imperial em particular. Quando o cristianismo se tornou a religião estatal de Roma sob o governo de Teodósio I em 381, a heresia tornou-se um delito punível.
Início da Idade Média ao Renascimento
A adoção de pontos de vista ateístas era rara na Europa durante a Alta Idade Média e Idade Média (ver Inquisição medieval); metafísica, religião e teologiaeram os interesses dominantes.92 Houve, no entanto, movimentos deste período que promoveram concepções heterodoxas do Deus cristão, incluindo pontos de vista diferentes sobre a natureza, a transcendência e a cognoscibilidade de Deus. Indivíduos e grupos, tais como João Escoto Erígena, David de Dinant, Amalarico de Bena e os Irmãos do Livre Espírito mantinham pontos de vista cristãos, mas com tendências panteístas. Nicolau de Cusa sustentava uma forma de fideísmoque chamou de docta ignorantia ("ignorância aprendida"), afirmando que Deus está além da categorização humana e que o nosso conhecimento de Deus é limitado à conjectura. Guilherme de Ockham inspirou tendências antimetafísicas com a sua limitação nominalista do conhecimento humano para objetos singulares e afirmou que a essência divina não poderia ser intuitivamente ou racionalmente apreendida pelo intelecto humano. Seguidores de Ockham, como João de Mirecourt e Nicolau de Autrecourt, expandiram esta visão. A divisão resultante entre a fé e a razão influenciou teólogos posteriores, como John Wycliffe, Jan Hus e Martinho Lutero.
A Renascença foi muito importante na expansão do escopo da investigação cética e do livre-pensamento. Indivíduos como Leonardo da Vinci procuraram a experimentação como meio de explicação, e opuseram-se aos argumentos de autoridade religiosa. Outros críticos da religião e da Igreja durante este tempo incluíram Nicolau Maquiavel, Bonaventure des Périers e François Rabelais.
Início do período moderno
As eras do Renascimento e da Reforma testemunharam um ressurgimento do fervor religioso, como evidenciado pela proliferação de novas ordens religiosas, confrarias e devoções populares no mundo católico e o aparecimento de seitasprotestantes cada vez mais austeras, como os calvinistas. Esta era de rivalidade interconfessional permitiu uma abrangência ainda maior de especulação teológica e filosófica, muita da qual viria a ser usada para promover uma visão de mundo religiosamente cética.
A crítica do cristianismo tornou-se cada vez mais frequente nos séculos XVII e XVIII, especialmente na França e na Inglaterra, onde parece ter existido um mal-estar religioso, de acordo com fontes contemporâneas. Alguns pensadores protestantes, como Thomas Hobbes, defendiam uma filosofia materialista e um ceticismo em relação às ocorrências sobrenaturais, enquanto que o filósofojudeu holandês Baruch Spinoza rejeitava a providência divina em favor de um naturalismo panenteísta. No final do século XVII, o deísmo passou a ser abertamente defendido por intelectuais como John Toland, que cunhou o termo "panteísta". Apesar de ridicularizarem o cristianismo, muitos deístas desprezavam o ateísmo. O primeiro ateu que se sabe ter jogado fora o manto do deísmo, negando de modo contundente a existência de deuses, foi Jean Meslier, um padre francês que viveu no início do século XVIII. Ele foi seguido por outros pensadores abertamente ateus, como o Barão d'Holbach e Jacques-André Naigeon. O filósofo David Hume desenvolveu uma epistemologia cética fundamentada no empirismo, enfraquecendo a base metafísica da teologia natural. Outros ateus que se destacaram no Iluminismo foram Denis Didero e Jean le Rond d'Alembert , autores do Encyclopédie, documento que reunia todos os conhecimentos de até então.
A Revolução Francesa tirou o ateísmo e o deísmo anticlerical dos salões e colocou-os na esfera pública. Um dos principais objetivos da Revolução Francesa foi uma reestruturação e subordinação do clero em relação ao Estado através daConstituição Civil do Clero. As tentativas para aplicá-la levaram à violência anticlerical e à expulsão de muitos clérigos da França. Os eventos políticos caóticos da Paris revolucionária, acabaram por permitir aos jacobinos mais radicais tomar o poder em 1793, inaugurando o Reino do Terror. Os jacobinos eram deístas e introduziram o Culto do Ser Supremo como uma religião estatalda França. Alguns ateus próximos de Jacques Hébert procuraram estabelecer um culto da razão, uma forma de pseudo-religião ateia com uma deusa personificando a razão. Ambos os movimentos, em parte, contribuíram para as tentativas forçadas de descristianizar a França. O Culto da Razão terminou depois de três anos, quando a sua liderança, incluindo Jacques Hébert, foiguilhotinada pelos jacobinos. As perseguições anticlericais terminaram com aReação Termidoriana.
A era napoleônica institucionalizou a secularização da sociedade francesa e exportou a revolução para o norte da Itália, na esperança de criar repúblicas flexíveis. No século XIX, os ateus contribuíram para várias revoluções políticas e sociais, facilitando os levantes de 1848, o Risorgimento na Itália e o crescimento de um movimento socialista internacional.
Na segunda metade do século XIX, o ateísmo ganhou proeminência sob a influência de filósofos racionalistas e livre-pensadores. Muitos proeminentes filósofos alemães da época negaram a existência de divindades e eram críticos da religião, incluindo Ludwig Feuerbach, Arthur Schopenhauer, Max Stirner, Karl Marx e Friedrich Nietzsche.
Século XX
O ateísmo no século XX, particularmente na forma de ateísmo prático, avançou em muitas sociedades. O pensamento ateu encontrou reconhecimento em uma ampla variedade de outras filosofias mais amplas, como o existencialismo, oobjetivismo, o humanismo secular, o niilismo, o positivismo lógico, oanarquismo, o marxismo, o feminismo98 e o movimento científico e racionalistageral.
O positivismo lógico e o cientificismo pavimentaram o caminho para oneopositivismo, a filosofia analítica, o estruturalismo e o naturalismo. O neopositivismo e a filosofia analítica descartaram o racionalismo clássico e a metafísica em favor do empirismo estrito e do nominalismo epistemológico. Proponentes como Bertrand Russell, rejeitaram enfaticamente a crença em Deus. Em seus primeiros trabalhos, Ludwig Wittgenstein tentou separar a linguagem metafísica e sobrenatural do discurso racional. A. J. Ayer afirmou a inverificabilidade e a falta de sentido das afirmações religiosas, citando a sua adesão às ciências empíricas. Relacionado com esta ideia, o estruturalismo aplicado de Lévi-Strauss ligou a origem da linguagem religiosa ao subconsciente humano ao negar o seu significado transcendental. John Niemeyer Findlay e J. J. C. Smart argumentaram que a existência de Deus não é logicamente necessária. Naturalistas e monistas materialistas, tais como John Dewey, consideravam o mundo natural como a base de tudo, negando a existência de Deus ou aimortalidade.
O século XX também assistiu ao avanço político do ateísmo, estimulado pela interpretação das obras de Marx e Engels. Após a Revolução Russa de 1917, houve mais liberdade religiosa para as minorias religiosas, o que durou alguns anos. Embora a Constituição Soviética de 1936 garantisse a liberdade para realizar cultos, o Estado soviético, sob a política de Estado ateu de Stalin, não considerava a religião um assunto privado; o governo soviético ilegalizou o ensino religioso e promoveu campanhas para convencer as pessoas a abandonar a religião. Diversos outros estados comunistas também se opuseram à religião e promoveram o ateísmo estatal, incluindo os antigos governos socialistas da Albânia, e, atualmente, da China,Coreia do Norte e Cuba.
Outros líderes como Periyar E. V. Ramasamy, um proeminente líder ateu da Índia, lutaram contra o hinduísmo e os brâmanes por eles discriminarem e dividirem as pessoas em nome de castas e religião. Tal foi sublinhado em 1956, quando ele erigiu uma estátua representando um deus hindu em uma representação humilde e fez declarações antiteístas.
Em 1966, a revista Time perguntava: "Deus está morto?", em resposta aomovimento teológico Morte de Deus, citando a estimativa de que quase metade de todas as pessoas no mundo viviam sob um poder anti-religioso e milhões mais na África, Ásia e América do Sul pareciam não ter conhecimento sobre o Deus único.
Em 1967, o governo albanês de Enver Hoxha anunciou o fechamento de todas as instituições religiosas no país, declarando a Albânia o primeiro estado oficialmente ateu, embora a prática religiosa na Albânia tenha sido restaurada em 1991. Estes regimes acentuaram as associações negativas do ateísmo, especialmente onde o sentimento anticomunista era forte, como nosEstados Unidos, apesar do fato de que ateus proeminentes serem anticomunistas.
Século XXI
Desde a queda do Muro de Berlim, o número de regimes ativamente anti-religiosos tem diminuído consideravelmente. Em 2006, Timothy Shah do Fórum Pew constatou "uma tendência mundial em todos os grandes grupos religiosos, na qual movimentos baseados em Deus e na fé, em geral, estão experimentando confiança e influência crescentes face aos movimentos e ideologias seculares". No entanto, Gregory S. Paul e Phil Zuckerman consideram isso um mito e sugerem que a situação real é muito mais complexa e matizada.
A motivação religiosa dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 e as tentativas parcialmente bem-sucedidas do Discovery Institute para mudar o currículo de ciências das escolas estadunidenses para incluir ideias criacionistas, juntamente com o apoio dessas ideias pelo ex-presidente George W. Bush em 2005, desencadearam uma onda de publicações de conhecidos autores ateus como Sam Harris, Daniel C. Dennett, Richard Dawkins, Victor J. Stenger eChristopher Hitchens, cujas obras foram best-sellers nos Estados Unidos e em todo o mundo.
Um levantamento de 2010 descobriu que aqueles que se identificam como ateus ou agnósticos estão, em média, mais bem informados sobre religião do que os seguidores das religiões principais. Descrentes tiveram melhores pontuações respondendo a questões sobre os princípios centrais das fés protestante ecatólica. Apenas fiéis mórmons e judeus tiveram tão boas pontuações sobre religião quanto os ateus e agnósticos.
O Ateísmo é um movimento dentro do ateísmo que não acredita naexistência de Deus, mas que diz que a religião tem sido benéfica para os indivíduos e para a sociedade, e que eliminá-la é menos importante do que outras coisas que precisam ser feitas.
Demografia
É difícil quantificar o número de ateus no mundo. Institutos de pesquisas de crença religiosa podem definir o "ateísmo" de várias maneiras diferentes ou fazer diferentes distinções entre ateísmo, convicções não-religiosas e crenças religiosas e espirituais não-teístas. Por exemplo, um ateu hindu iria declarar-se como hindu, apesar de também ser, ao mesmo tempo, ateu. Um estudo de 2005, publicado na Encyclopædia Britannica, revelou que os não-religiososrepresentam cerca de 11,9% da população mundial e os ateus cerca de 2,3%. Este número não inclui aqueles que seguem religiões ateias, como alguns budistas.
Uma enquete realizada entre novembro e dezembro de 2006, publicada noFinancial Times, mostrou as taxas de população ateia nos Estados Unidos e em cinco países europeus. As menores taxas de ateísmo estão nos Estados Unidos com apenas 4%; as taxas de ateísmo nos países europeus pesquisados foram consideravelmente mais altas: Itália (7%), Espanha (11%), Reino Unido (17%),Alemanha (20%) e França (32%). Os números europeus são semelhantes aos de uma pesquisa oficial da União Europeia (UE), que relatou que 18% da população da UE não acredita em um deus. Outros estudos têm mostrado uma porcentagem estimada de ateus, agnósticos e outros não-crentes em um deus pessoal de apenas um dígito em países como Polônia, Romênia, Chipre e outros países europeus, e de até 85% na Suécia, 80% na Dinamarca, 72% naNoruega e 60% na Finlândia. Segundo o Australian Bureau of Statistics, 19% dos australianos declararam-se como "sem religião", uma categoria que inclui os ateus. Entre 64% e 65% dos japoneses são ateus, agnósticos, ou não acreditam em um deus.
Somente na Europa, nos últimos 100 anos, o ateísmo cresceu de aproximadamente 1,7 milhão para cerca de 130 milhões de pessoas. |
— Centro de Treinamento Cristão European Apologetics Network, deLondres
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Na América Latina os índices de ateísmo variam de 1 a 3%, exceto em Cuba (7%),México (7%), Argentina (8%) e Uruguai (12%).132 No Uruguai, entre 30 e 50% da população assume não ter religião.
Um estudo internacional relatou correlações positivas entre os níveis de educação e os índices de descrença em uma divindade, enquanto uma pesquisa da União Europeia encontrou uma correlação positiva entre o abandono escolar precoce e a crença em um deus. Uma carta publicada na revistaNature em 1998, relatou uma pesquisa sugerindo que a crença em um deuspessoal ou na vida após a morte alcançou o nível mais baixo de todos os tempos entre os membros da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, sendo que apenas 7,0% dos membros disseram acreditar em um deus pessoal, em forte contraste com os mais de 85% da população geral dos Estados Unidos que acredita em um deus. Em contrapartida, um artigo publicado pelaUniversidade de Chicago que discutiu o referido estudo, afirmou que 76% dos médicos estadunidenses acreditam em Deus, mais do que os 7% dos cientistas acima, mas ainda inferior aos 85% da população em geral. No mesmo ano,Frank Sulloway, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, e Michael Shermer, da Universidade do Estado da Califórnia, conduziram um estudo que encontrou em sua amostra de pesquisa de "credenciados" adultos dos Estados Unidos (12% doutorados e 62% eram graduados universitários) 64% que acreditavam em Deus e houve uma correlação indicando que a convicção religiosa diminuiu com o aumento do nível de escolaridade. Uma correlação inversa entre religiosidade e inteligência foi encontrada por estudos realizados entre 1927 e 2002, de acordo com um artigo na Mensa InternationalMagazine.137 Estes resultados concordam em geral com uma metanáliserealizada em 1958 pelo professor Michael Argyle, da Universidade de Oxford. Ele analisou sete estudos que investigaram a correlação entre a atitude em relação à religião e o nível de inteligência entre os estudantes do ensino médio e universitários dos Estados Unidos. Apesar de uma clara correlação negativa ter sido encontrada, a análise não identificou existência de causalidade, mas observou que fatores como histórico familiar autoritário e classe social também poderiam desempenhar algum papel.
Ateísmo, religião e moralidade
Associação com visões de mundo e comportamentos sociais
O sociólogo Phil Zuckerman analisou pesquisas anteriores em ciências sociais sobre laicidade e não-crença e concluiu que o bem-estar social está positivamente correlacionado com a irreligião. As suas descobertas relacionadas especificamente com o ateísmo incluem:
- Em comparação com pessoas religiosas, "ateus e pessoas laicas" são menosnacionalistas, preconceituosas, antissemitas, racistas, dogmáticas,etnocêntricas, mentalmente fechadas e autoritárias.
- Nos Estados Unidos, nos estados com os maiores percentuais de ateus na população, a taxa de homicídios é menor do que a média. Na maioria dos estados religiosos dos Estados Unidos, a taxa de homicídios é superior à média.
Ateísmo e religião
Assume-se frequentemente que pessoas que se auto-identificam como ateus são irreligiosas, mas algumas seitas dentro das principais religiões, rejeitam a existência de uma divindade criadora e pessoal. Nos últimos anos, certas denominações religiosas têm acumulado uma série de seguidores abertamente ateus, tais como o judaísmo humanístico e ateísta e ateus cristãos.
O sentido mais estrito do ateísmo positivo não implica quaisquer crenças específicas fora da descrença em qualquer divindade, como tal, os ateus podem ter qualquer número de crenças espirituais. Pela mesma razão, os ateus podem ter uma grande variedade de crenças éticas, que vão desde o universalismo moral do humanismo, que defende que um código moral deve ser aplicado consistentemente a todos os seres humanos, ao niilismo moral, que sustenta que a moralidade não tem sentido.
Mandamento divino vs. ética
Embora seja um truísmo filosófico, encapsulado no Dilema de Eutífron de Platão, que o papel dos deuses na diferenciação entre certo e errado ou é desnecessário ou arbitrário, o argumento de que a moralidade tem que ser derivada de Deus e que não pode existir sem um criador sábio tem sido uma característica persistente de debate político, ainda que não tanto do filosófico.Preceitos morais, como "o assassinato é errado" são vistos como leis divinas, requerendo um legislador ou juiz divino. No entanto, muitos ateus argumentam que o tratamento legalista da moralidade envolve uma falsa analogia e que a moralidade não depende de um legislador da mesma forma que as leis.Outros ateus, como Friedrich Nietzsche, discordaram desta opinião e declararam que a moralidade "tem verdade apenas se Deus é a verdade, portanto fica em pé ou cai de acordo com a fé em Deus."
Existem sistemas normativos éticos que não necessitam que os princípios e regras sejam fornecidos por uma divindade. Alguns incluem ética da virtude,contrato social, ética kantiana, utilitarismo e o objetivismo. Sam Harris propôs que a prescrição moral (criar regras éticas) não é apenas uma questão a ser explorada pela filosofia, mas que podemos praticar significativamente umaciência da moralidade. Um tal sistema científico deve, no entanto, responder ao criticismo consubstanciado na falácia naturalista.
Os filósofos Susan Neiman e Julian Baggini (entre outros) afirmam que o comportamento ético apenas devido ao mandato divino não é o comportamento ético verdadeiro, mas apenas a obediência cega. Baggini argumenta que o ateísmo é uma base superior para a ética, afirmando que uma base moral externa aos imperativos religiosos é necessária para avaliar a moralidade dos próprios imperativos - para ser capaz de discernir, por exemplo, que "furtarás" é imoral, mesmo que a sua religião o instrua a fazer isso - e que os ateus, portanto, têm a vantagem de estarem mais inclinados a fazer tais avaliações. O político e filósofo contemporâneo britânico Martin Cohen ofereceu o exemplo historicamente mais revelador de injunções bíblicas em favor da tortura eescravidão como evidência de que as injunções religiosas seguem os costumes políticos e sociais, e não vice-versa, mas também observou que a mesma tendência parece ser verdadeira para filósofos supostamente imparciais e objetivos. Cohen explana esse argumento com mais detalhes na Filosofia Política de Platão a Mao, no caso do Alcorão que ele vê como tendo tido um papel geralmente infeliz na preservação dos códigos sociais do início do século VII por meio de mudanças na sociedade secular.
Perigos das religiões
Alguns ateus proeminentes, tais como Bertrand Russell, Christopher Hitchens,Sam Harris e Richard Dawkins, têm criticado as religiões, citando aspectos nocivos das práticas e doutrinas religiosas. Os ateus têm-se envolvido muitas vezes em debates com defensores da religião, e os debates por vezes tratam a questão de saber se as religiões oferecem um benefício líquido para os indivíduos e para a sociedade.
Um argumento de que as religiões podem ser prejudiciais, feito por ateus como Sam Harris, é que a dependência das religiões ocidentais da autoridade de Deus presta-se ao autoritarismo e ao dogmatismo. Os ateus também citaram dados mostrando que há uma correlação entre fundamentalismo religioso e religião extrínseca (quando a religião é praticada porque serve a interesses ocultos) e autoritarismo, dogmatismo e preconceito. Estes argumentos, combinados com eventos históricos que são argumentos para demonstrar os perigos da religião, como as Cruzadas, Inquisição, caça às bruxas e os ataques terroristas, têm sido usados em resposta às reivindicações dos efeitos benéficos da crença na religião. Os crentes contra-argumentam que alguns regimes que defendem o ateísmo, como foi a Rússia soviética, também foram culpados de assassinatos em massa, apesar destes atos não conterem relação alguma com a ausência de religião do regime.
Discriminação e preconceito
O ateísmo sempre foi uma doutrina perseguida, clandestina e discriminada.Durante a cristianização do Império Romano, o ateísmo foi considerado crime terrível e praticamente deixou de existir na história das ideias europeias. Até o século XIX, devido ao poder político-eclesiástico, o indivíduo que assumisse oposição aos ensinamentos da Igreja seria recriminado pela sociedade e pelo governo com acusações de desonestidade, rebeldia, incredulidade e libertinagem.
Uma pesquisa feita pelo Instituto Gallup em 1999 comprova que 95% dosestadunidenses votaria em uma mulher para presidente, 92% votaria em umjudeu ou negro, 79% em um homossexual mas apenas 49% votaria em um ateu. A revista Newsweek estima uma porcentagem ainda menor: 37%176Uma pesquisa de 2007 encomendada pela CNT/Sensus revela que 84% dosbrasileiros votariam em um negro para Presidente da República, 57% em uma mulher, 32% em um homossexual mas apenas 13% votaria em um ateu.177 Uma pesquisa de agosto de 2010 realizada pelo Núcleo de Opinião Pública em uma iniciativa da Fundação Perseu Abramo (FPA) e SESC revelou que 66% das mulheres brasileiras jamais votariam em um ateu e 11% dificilmente votaria, enquanto 61% dos homens brasileiros nunca votaria e 13% dificilmente votaria. Uma pesquisa realizada no dia 13 de dezembro de 2012 pelo Datafolha indica que 86% dos brasileiros acreditam que a crença em Deus torna as pessoas melhores, enquanto que apenas 13% acreditam que implicação não é obrigatória.
Visibilidade
Conforme a Associação Americana de Livreiros, em 2005 as obras da categoria "céticos e ateus" registraram o maior crescimento da história até então e o segundo maior entre os demais gêneros. A revista mensal com a quinta maior tiragem dos Estados Unidos, entre as especializadas, é uma publicada pelaSociedade dos Céticos.180 Na Fox News, o programa Bullshit! dissemina o ateísmo e a dupla de mágicos Penn Jillette e Raymond Joseph Teller desmascara truques místicos.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
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