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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

COMO VIVIAM OS NOSSOS ANTEPASSADOS - O DOMÍNIO DA IGREJA - AS MISSAS - A QUARESMA - O LUTO - O TESTAMENTO - O MÉDICO








Os nossos antepassados viviam mal. Com fome e com pouco dinheiro. Tinham frio e tinham de trabalhar arduamente: Junto um conjunto de fichas sobre alguns temas importantes para os nossos antepassados


Quaresma : « carême » em francês deve o seu nome, ao nome em latim «quadragésima » que significa o 40º dia antes da Pascoa. Importante era também o dia de “mi-carême”, ou dia do meio. A importância era devido aos jejuns que a igreja instituía. Eles eram a sexta-feira, dia da morte de Cristo, o sábado, dia em que ele esteve no seu túmulo, aos quais se juntou a quarta-feira, dia em que ele foi vendido por Judas. Era ainda dia de penitência cada véspera, i e a véspera de cada festa obrigatória, os dias das têmporas, correspondentes aos 3 primeiros dias do início das estações, os 3 dias que precedem a Ascensão, e por último pelo Advento (4 semanas antes do Natal) e durante a Páscoa. Assim os nossos antepassados apertavam o cinto, não somente quando as colheitas eram más, mas igualmente quando eram boas, pois teriam de fazer cerca de 200 anos por ano de jejuns e de penitências.

Mas as penitências ou jejuns eram obrigatórios, mas a Igreja interditava, nesses dias toda a actividade sexual. E tal não era brincadeira as “aproximações” de um marido junto da sua mulher durante os dias de penitência equivalia a condenações a pão e água durante 20 dias, se tal fosse confessado ao pároco.

Ora durante a Páscoa, os 40 dias eram demasiados longos, pelo que se “libertaram” seis dias, que eram os 5 domingos e o dia do meio ou o da “mi-carême”. Este dia era chamado igualmente o da “velha”, e, por isso, nas aldeias e pequenas cidades, os jovens se divertiam, provocando os velhos, lembrando-lhes que poderiam finalmente ter actividades sexuais.

Somente nesses dias se poderiam comer ovos, pois estes foram, durante muito tempo assimilados a “carne” e consequentemente eram interditos naquelas semanas. No dia de Cinzas, a dona de casa, preparava as suas caçarolas para que a família passasse a comer somente legumes e peixe.

Mas havia excepções: podiam-se comprar umas imagens de santos que davam indulgências de vários dias (conforme o preço) para quem rezasse determinadas orações diante da imagem.


A sexta-feira santa, dia da morte de Jesus, era evidentemente o dia do ano em que as penitências eram mais fortes. Tal traduzia-se por uma multitude de interdições, que se juntavam às interdições sexuais e alimentares. Toda a actividade era um sacrilégio! Não se podia trabalhar, forjar o ferro ou cavar a terra, pois tal seria cavar a sua própria sepultura. As interdições eram infinitas: não rir, não cortar os cabelos, não matar qualquer animal, não subir a uma árvore, não concluir um mercado ou contrato, nem fazer uma viagem, não cantar, não utilizar o martelo, etc.

Mas havia alguns bons presságios. Assim os ovos postos nesse dia, deverão ser guardados pois evitaram as quedas quando da colheitas dos frutos; colocados no estábulo afastam os malefícios dos animais; lançados num incêndio, apagam-no. Mas havia ainda uma boa nova: morrer nesse dia era uma felicidade, pois era-se dispensado do purgatório e preservado do inferno, pois as suas portas estavam fechadas nesse dia. No entanto o pão cozido nesse dia apodrecerá, mas em outros sítios afirma-se que durará todo o ano

Mas, no sábado, o padre fazia uma volta pelas casas para as abençoar. Ele aspergia-as, Bebia um pequeno copo de vinho generoso oferecido pelo dono da casa e partia para a visita seguinte. A dona da casa ia à igreja abastecer-se de água benta.
No dia seguinte os sinos repicavam, pois era o grande dia. Os sinos marcavam o tempo. Os nossos antepassados sabiam a hora olhando para o sol ou escutando os sinos. Notemos que não era importante saber a hora exacta pois não tinham que apanhar o comboio ou ver um determinado programa de televisão. Previa-se que tal trabalho fosse feito durante a tarde ou que demorasse o tempo de uma Ave Maria ou de um Pai Nosso, como se previa uma viagem para o domingo antes do dia de Todos-os-Santos ou para a segunda-feira depois do Carnaval.


As missas

O Domingo, consagrado a Deus, era obrigatoriamente um dia em que se não trabalhava. A missa era obrigatória e havias a todas as horas, para que não houvesse desculpas. A missa dura duas horas. Quer se resida longe ou que os caminhos sejam difíceis, a presença na missa dominical é obrigatória. De resto era também uma forma de encontro e para aproveitar para comprar algumas coisas no mercado que decorria perto da igreja. Canta-se em latim, sem se compreender o significado das palavras que se pronunciam. Cada um canta como pode pronunciando as palavras como quer. Outros aproveitam para falar com os seus vizinhos que não vêem há algum tempo. Outros ainda aproveitam para trocar umas palavras com o notário ou o tesoureiro. As crianças choram ou fazem pequenas asneiras chamando uns pelos outros, etc. Enfim, o interior da igreja é um verdadeiro cafarnaum, mas no exterior, a praça ou a feira estão sem ninguém.

Mas o grande momento não é o da comunhão que é pouco praticado pelos fiéis, pois se confessam pouco com medo de serem julgados pelo pároco e muitas vezes “multados” por não terem observado todas as prescrições da igreja. O grande momento era a prédica do pároco. Era um longo momento onde se era informado e aconselhado. Tal momento era tão aguardado como hoje o é um telejornal! O próprio Estado, o Rei, aproveitava a ocasião para passar a informação. De resto era o único momento em que o padre se expressava em português e que os nossos antepassados sabiam de uma vitória ou derrota na guerra, ou da morte ou casamento do rei, da chegada de um cometa, e de meras actividades locais ou nacionais. Lembremos que por volta de 1820, chegava a Leiria somente 3 exemplares de um jornal que tinha 4 folhas! Eram igualmente anunciados os nascimentos, os baptizados e os casamentos, solicitando, neste caso, às pessoas que conheciam impedimentos à sua realização, que se pronunciassem. Estes impedimentos eram, na maioria dos casos, pelos laços de parentesco dos nubentes, coisa normal, pois havendo pouca mobilidade toda a gente se casava com pessoas da mesma aldeia. Muitas vezes o pároco aproveitava a ocasião para dar uma dispensa excepcional para que se pudesse trabalhar em dias de descanso obrigatório para permitir terminar um trabalho agrícola atrasado.



O luto
Os lutos dos nossos antepassados duravam muito tempo e por outro lado estavam ligados a proibições de participar em reuniões e cerimónias “animadas”. Igualmente havia um código muito complexo nos meios burgueses. No século XIX, a viúva, durante os seis primeiros meses não podia usar que vestidos de lã negra, xales negros, chapéus com grandes véus de crepe, luvas e meias negras e ter somente lenços orlados de negro. Nos 3 meses seguintes o “uniforme” era aligeirado. Nos três seguintes, admitiam-se vestidos de seda negra e vestidos em tafetá no verão. Acabado o ano de luto, era ainda necessário que nos seis meses seguintes se fizesse um luto aliviado com vestidos de seda negra ou branca e negra ou violeta ou ainda roxo.

O luto era um culto e o seu cumprimento um dever e com uma clara hierarquia segundo o parentesco. Todos sabiam que os “grandes lutos” eram para os pais, filhos, viúvas ou viúvos e que duravam mais de um ano. Os dos tios ou das tias duravam 3 meses, os dos primos direitos seis semanas e dos primos, filhos destes, 3 semanas. Percebe-se assim que devido à importância numérica das famílias de antigamente, tenhamos conhecido as nossas avós sempre vestidas de negro, pois estavam de luto pelos primos direitos, pais, tios, ou de dezenas de primos mais ou menos afastados. E se houvesse um engano e o luto fosse aliviado quando ainda não era a altura, haveria sempre alguém que os lembrava de forma crítica.

Estes períodos de luto eram pontuados por missas pois havia que acompanhar (encomendar) as almas que durante um período de tempo estiveram no céu á espera da noite de lua cheia, pois as portas do céu só se abriam nessa altura. Havia diversas missas que eram realizadas, como a dos 4º dias depois da sua morte, a “do ano” e ainda aquelas que o defunto no seu testamento ou os seus, encomendaram contra o pagamento de determinadas somas.

O testamento

O testamento, quando era feito, visava menos garantir o destino dos bens temporais que os da alma. Assim em muitos casos encontramos registos paroquiais de óbitos, com a uma indicação das últimas vontades que foram ditadas ao padre. Outras vezes é o padre que no seu registo de óbito refere que deixou testamento.

O testamento, feito junto a notário, começava sempre mencionando o nome de Deus, invocando inúmeros santos e referia a forma como tinha vivido: “temente a Deus”, “respeitando os mandamentos”, etc. Seguiam-se as últimas vontades, mas quase sempre limitadas, ou quase, ao plano religioso. Com ofertas proporcionais à sua fortuna estipulava como queria ser enterrado e encomendava missas, novenas e celebrações (algumas perpétuas) mencionando o valor que deveria ser pago por cada uma. Depois indica os montantes a serem dados ao cura, a diversos estabelecimentos de caridade e a serem distribuídos pelos pobres durante o seu enterro. Por último menciona algumas somas para os seus mais próximos, afilhados e criados da sua casa.

Assim se preparava para o seu “passamento”.


O médico

O pediatra era considerado não necessário, pois não havia clientela para ele pois as crianças eram incapazes de dizer o que sentiam!. Oftomologista? Mas para que serve consultar um oftomologista se em todas as feiras se podiam encontrar vendedores ambulantes que nos proponham uma panóplia de lentes. Os cuidados dentários estavam a cargo do ferreiro da aldeia pois com ajuda das suas pinças e alicates arrancava os dentes que doíam. A escova de dentes era naturalmente desconhecida. Como se comia muita batata, mão e pouca carne (pois esta era cara), não ter dentes não fazia muita diferença.

Antes dos anos 1850-70 o cirurgião ignora a anestesia ou os anticépticos. Deixando os problemas “interiores” ao médico, o cirurgião dedica-se às partes externas como tumores, úlceras, feridas, fracturas, etc., que ele cura lancetando. Durante muito tempo ele era o barbeiro, pois durante muitos anos estas profissões foram confundidas. A única obrigação instituída ao longo dos anos era de ter uma insígnia que indicava que tinha frequentado uma formação. Assim os cirurgiões que tinham passado por uma escola tinham uma bata longa e os vulgares cirugiões-barbeiros uma curta. Para estes, como de resto para os dentistas, não era necessário qualquer diploma ou estudos .

Os farmacêuticos acumulavam as profissões actuais de droguista e de ervanário. Eram eles que preparavam as “cataplasmas” ou ainda forneciam as sanguessugas tão usadas para sangrar um doente com febre.

Por último o veterinário era inexistente. Haviam uns “artistas” que em concorrência com alguns “feiticeiros” faziam tratamentos aos animais e nomeadamente a castração.

Finalmente, era Deus, a natureza e os seus milagres que eram, em última análise os que podiam vir a curar um doente no tempo dos nossos antepassados.







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