Os Portugueses
São retratos de pessoas que vivem no país real, sejam eles pescadores, artesãos, pastores, músicos, encenadores ou agricultores. Homens e mulheres que povoam o nosso território de norte a sul e resistem ou procuram resistir à contínua evasão para as grandes cidades do litoral. Pessoas que mantém a tradição, a cultura popular, os saberes que sempre moldaram a nossa identidade. Outros, muito simplesmente têm uma história de vida para contar, tenha sido no campo, no mar, no pequeno comércio, em explorações mineiras ou na vida associativa.
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Os Portugueses - Alísio Saraiva: «Agora a viola beiroa já não desaparece»
Os Portugueses - Artur Jorge Santos: «Queremos promover os nossos produtos e valores culturais»A Confraria dos Amigos dos Negalhos e da Freguesia de Almalaguês não se limita a promover o enchido produzido com as vísceras da cabra que restam da confecção da chanfana. Criada há dois anos, visa promover todos os produtos tradicionais da localidade (vinho, colchas) mas também toda a sua herança cultural. No passado mês de Janeiro organizou o I Encontro de Gaiteiros e homenageou o gaiteiro local Ti Álvaro Fachada, 80 anos. LER
Os Portugueses - Ti Álvaro Fachada: O gaiteiro que tocava a dançarO primeiro gaiteiro em Almalaguês, Coimbra, conhecido por Ti Álvaro Fachada. Por nos velhos tempos tocar a dançar, representa uma tradição muito enraizada na região centro, que tem sido alvo de investigação. «Aqui na zona sempre tocámos em trio, o gaiteiro, o caixa e o bombo. Toquei em tudo quanto é festa na região», explica. A figura do gaiteiro de Coimbra vai ser de novo objecto de atenção no IIº Festival Internacional de Gaiteiros de Coimbra, a 5 de Julho. «Não basta tocar bem a gaita-de-foles. É preciso ser-se alegre e animar as pessoas, ter bons pulmões e boas pernas para subir e descer as ruas». LER
Os Portugueses - Cristina Fachada: «Receio que a tradição de Almalaguês termine na minha geração»Almalaguês, a sul de Coimbra, considerado o «mais consistente núcleo de tecelagem tradicional» em Portugal, vive momentos de grande dificuldade devido ao agravamento da actual crise económica. Cristina Fachada, tecedeira a tempo inteiro, receia que o «ex-libris» da localidade possa não ter continuidade. «As nossas colchas são riquíssimas e com uma execução característica e neste momento não se vendem. Tenho de fazer de tudo um pouco para sobreviver», explica. LER
Os Portugueses - Adérito Marques: «A divulgação do meu trabalho faz-se entre os músicos. Não tenho Internet»Um dos poucos construtores de instrumentos de corda da região centro, Adérito Marques, esconde-se na pacatez do lugar de Andorinha, a dez quilómetros de Cantanhede e uns 20 de Coimbra. Ali aprendeu a trabalhar a madeira e mais tarde a construir violas, bandolins, cavaquinhos e guitarras portuguesas. «É um local tranquilo onde toda a gente se conhece. Quando preciso de algo vou a Coimbra, a Braga ou a Espanha mas é aqui que trabalho». Até hoje, nunca usou a Internet para pesquisa ou divulgação: «Sou um bocado conservador. Sei que os músicos e clientes já sabem onde estou». LER
Os Portugueses - Fernando Moura: Morreu o homem das chegas de boisFernando Moura, barrosão de gema, há muitos anos a figura incontornável das chegas de bois em todo o concelho de Montalegre, faleceu no passado dia 9 de Outubro aos 82 anos. Autor de vários livros, um dos quais sobre as suas «melhores chegas», outros sobre a cultura popular do Barroso, Fernando amava a terra onde nasceu e vibrava especialmente com as chegas. Relatava-as como se de uma partida de futebol se tratasse: «Já estão a torrar, vai ser uma chega brava». LER
Os Portugueses - João Abrantes, latoeiro: «Ninguém quer seguir a arte»Nascido e criado numa família de latoeiros, João «Latoeiro» já pouco exerce a profissão que o acompanhou toda a vida no lugar de Ameal, Alquerubim, Albergaria-a-Velha. Mantém a oficina em casa aberta a quem o queira visitar mas já pouco exerce. «A última coisa que fiz aqui foi reparar um radiador. O resto já se vende pouco e não há ninguém que queira seguir a arte», explica, rodeado de candeias, funis, cântaros e regadores. LER
Portugueses - Etelvina Paiva, Adega dos Passarões: «Os velhos clientes já morreram quase todos»A um passo da Câmara Municipal de Figueiró dos Vinhos, a Adega dos Passarões respira uma atmosfera de outras épocas, quando as tabernas reinavam num mundo onde o copo de tinto ainda não tinha sido substituído pela cerveja e pelos «shots». As cubas de cimento ainda lá estão mas foram há muito substituídas pelo garrafão. LER
Os Portugueses - Amadeu Pinho: «Já só aqui estou por carolice»
Ao fim de 45 anos instalado na Rua Manuel Firmino, em Aveiro, o alfaiate Amadeu Pinho desistiu de fazer fatos mas mantem as portas abertas por «carolice» e para se entreter durante a tarde. «Não podemos competir com o que vem feito de fora. Venho aqui para não estar parado em casa ou passar o dia a jogar às cartas». A alfaiataria, com os seus velhos retratos de um Beira-Mar de outrora e a máquina de cozer Oliva junto à janela, para aproveitar a luz solar, é um exemplo ainda vivo de uma Aveiro diferente. «A cidade mudou muito...», comenta Amadeu com nostalgia. LER
Os Portugueses - Narciso Lopes: «A madeira é mais segura em caso de sismo»Na ilha Terceira, nos Açores, já não há muitos carpinteiros a dedicar-se à arte da tanoaria. Um deles é Narciso Lopes, cuja carpintaria fica perto da estrada entre as Quatro Ribeiras e a Agualva, na costa norte da ilha. Apaixonado pelo trabalho em madeira, Narciso até já escreveu num jornal regional sobre as virtudes e a segurança dos tectos em madeira numa ilha flagelada em 1980 por um forte terramoto: «É mais seguro que o betão». LER
Os portugueses - Helder Eiró, tocador e construtor de viola da terraNa pequena ilha açoriana da Graciosa, a emigração leva potenciais tocadores da tradicional viola da terra para longe. Helder Eiró viveu muitos anos nos Estados Unidos, tem uma casa perto das afamadas termas do Carapacho e procura ensinar as novas gerações. «Construo violas e ensino o que sei para que isto não morra». LER
Os Portugueses - Manuel Pimenta da Costa: «Se morrer na Ferraria deixem-me lá estar»Chamam-lhe «Manuel da Maia» porque nasceu na Maia, na costa norte da Ilha de São Miguel mas foi na freguesia dos Ginetes, na costa sul e junto a uma das vertentes da cratera das Sete Cidades, que assentou arraiais. É dos poucos que ainda cultiva a terra, num lugar dominado pela pecuária. Apaixonado pela pesca na Ponta da Ferraria, no extremo ocidental da ilha, até tem um pesqueiro com o seu nome. LER
Os Portugueses - Ismael Marques: «O Transpraia não pode morrer»Ismael Marques trabalha desde 1969 num dos ex-libris de Caparica, o mini comboio Transpraia que une a povoação à Fonte da Telha e vai parando nas praias pelo caminho. De via estreita e vagões abertos, o comboio traz muitas recordações a quem frequenta a Costa de Caparica há anos e fascina os mais novos. Infelizmente, o Polis de Caparica ditou o afastamento do mesmo para a Praia do Norte, retirando-lhe grande parte da clientela. «Só queremos que nos deixem partir de junto da lota», diz Ismael. LER
Os Portugueses - «Só Deus sabe o que passámos»A crise e a desertificação não abala a auto-estima e alegria de viver de três mulheres da aldeia de Bairradas, concelho de Figueiró dos Vinhos, acostumadas a tempos infinitamente piores. Só lamentam não ter já a saúde para trabalhar como o faziam dantes: «Quem quer não pode, quem pode não quer».LER
Os Portugueses - Bruno Oliveira: A nova voz do desafioUma nova geração de cantadores ao desafio tem surgido nas ilhas dos Açores competindo respeitosamente com os veteranos, alguns verdadeiras lendas locais. Bruno Oliveira é jorgense, tem 24 anos e faz despique em palco com os maiores nomes do desafio. Viaja com frequência sobretudo para a Terceira, onde não há festa sem tourada à corda e cantoria ao desafio. LER
Os Portugueses - José Vitorino: «A pesca da xávega é a nossa tradição»José Vitorino, 82 anos, sempre conheceu a Caparica com a pesca da xávega. Nasceu e cresceu numa família de pescadores que ainda hoje se mantem firme na arte. Virou com o barco muitas vezes, perdeu um irmão no mar e não vê a Costa de Caparica sem a xávega. «A terra nasceu porque os ílhavos e os algarvios vieram para aqui pescar. É a nossa tradição». LER
Os Portugueses - António Domingos Ávila: «O mar vai ficar saturado de cachalotes»António Domingos Ávila, 67 anos, baleeiro, ex-arpoador, mais conhecido por «Ritinha», falou com Nuno Ferreira na esplanada do estabelecimento com o mesmo nome, nas Lajes do Pico: «Tenho este café há mais de 30 anos. Andava na baleia e regressava aqui para uns petiscos, uns caldos de peixe». Hoje, «Ritinha» vê o mar dos Açores a ficar saturado de cachalotes. LER
Os Portugueses - Rosa Silva, poeta popular na Ilha TerceiraVive em São Carlos, nas imediações de Angra do Heroísmo, mas tem a Serreta, na ponta ocidental da ilha, no coração. «A Serreta é uma marca registada que a minha mãe me deixou. Ela é que em vida me espicaçava para a divulgar. Hoje em dia escrevo a freguesia à luz do passado», explica Rosa Silva, poeta popular terceirense. LER
Os Portugueses - João Leonel: «Cantar ao desafio é um dom que nasce com a gente»Natural do Curato da Ribeira Seca, São Sebastião, Ilha Terceira, onde nasceu em 1944, filho de um lavrador, João Leonel começou a sentir o «dom» para as cantigas na escola. Vasculhava tudo o que fosse livro com rimas. Hoje é um dos mais considerados repentistas da ilha. «Isto não é para todos. O Vitorino Nemésio tentou improvisar e despistou-se?» LER
Os Portugueses - Augusto Neves: «O som da concertina faz parte da minha vida desde pequeno»Emigrado na Suíça durante 24 anos, Augusto Neves regressou e com ele trouxe a maior colecção de concertinas e acordeões do país. Desde há uns anos que a autarquia de Pedrogão Grande está interessada em expor em museu a totalidade ou parte do espólio que inclui peças únicas e raras. Enquanto o sonho não se concretiza, Augusto e os filhos tocam por todo o país e alimentam a vontade de criar uma loja e escola na vila do Pinhal Interior. LER
Os Portugueses - Manuel André: «Há poucas violas da terra na chamarrita»Um baile de chamarrita no Pico é sempre um acontecimento, faça chuva ou sol. O ritmo frenético da dança popular implica que os músicos se sentem em cadeiras em filas e não parem de tocar durante horas. Houve um tempo em que a viola da terra era o barómetro da dança. Hoje, são poucos os executantes. Um deles é Manuel Horácio Serpa André: «O som da chamarrita tem de ser preenchido com a viola da terra».LERNuma época em que a viola beiroa já só era tocada na «Dança dos Homens» das festas religiosas da Lousa, Castelo Branco, Alísio Saraiva, 64 anos, pegou nela e desenvolveu-lhe a afinação. Das suas aulas, que iniciou há sete anos saíram mais dois tocadores e hoje, com o apoio do Inatel, a viola beiroa conta já com uma orquestra de nove executantes. Nos dias 27 e 28 de Abril, Alísio vai estar em Castro Verde no IV Encontro de Violas de Arame. LER
Os Portugueses - Aníbal da Costa Francisco: De antigo carteiro a «rei dos petiscos»Há 42 anos atrás do balcão do «Escondidinho de Cacilhas», uma tasca de petiscos que perfaz 116 anos no dia 1 de Maio, Aníbal da Costa Francisco não esquece o tempo em que corria a serra de Arganil de malas do correio às costas, de Pomares ao Piódão, por caminhos de cabras. «Há pessoal que não se acredita». LER
Os Portugueses - Joel Xavier: O director da TV BarrosoDesde 2008 que a TV Barroso apareceu na internet para suprir uma lacuna: transmitir ao mundo o que se passa num dos concelhos e numa região longe dos grandes centros, cercada por montanhas. A teimosia da equipa onde João Xavier é o director, o operador de câmara, o técnico de montagem e a jornalista Maria José Afonso a imagem da estação supera todas as dificuldades. LER
Os Portugueses - Tomás Ferreira: «Íamos a pé pela Serra da Tronqueira»Tomás Ferreira viveu praticamente toda a sua vida na Lomba da Fazenda, no nordeste da Ilha de São Miguel. Esteve cinco anos emigrado no Canadá mas cedo voltou, porque o «ambiente era outro». Tomás fala de um tempo em que a distracção era o bailinho ao som do violão e da viola da terra e em que atravessavam a pé a Serra da Tronqueira para ir à festa na Povoação, do outro lado da ilha. LER
Os Portugueses - Manuel da Cunha, o último moleiro de Vitória, Ilha GraciosaNa Graciosa, os moinhos de vento já foram muito úteis na moagem da farinha. Hoje são testemunhos que povoam a paisagem um pouco por todo o lado, uns mais preservados do que outros. Manuel Tomaz Picanço da Cunha, já não trabalha o velho moinho mas mantém-no recuperado, objecto de memória dos tempos de ruralidade da ilha. LER
Os Portugueses - Joaquim «Ruivo», a arte de fazer cangasNo Bunheiro, Murtosa, Joaquim Tavares dos Santos, mais conhecido por Joaquim Ruivo já perdeu conta às cangas que construiu desde que começou a trabalhar a madeira aos 11 anos com o falecido pai. «Antes de chegarem os tractores a canga era muito procurada, não chegava para as encomendas. Hoje vendem-se para adorno», explica. LER
Os Portugueses - Tomé Luís Ferreira, «Vi a morte duas vezes»Na freguesia dos Mosteiros, na ponta ocidental de São Miguel, contam-se pelos dedos os que ainda se dedicam à pesca apesar das melhorias no porto. Tomé Ferreira, 69 anos, 40 de mar, ex-emigrante no Canadá, é um deles. «Os mais novos já não querem pescar», explica Tomé, que ainda aproveita para semear batata e milho ali perto e corta relva em Ponta Delgada. LER
Os Portugueses - Fernando Eva, o mestre das peças em madeira de pinho Ao fim de anos a fio a trabalhar em serrações, fábricas de cerâmica e a vender produtos congelados, Fernando Eva sofreu uma doença grave que o manteve em casa. «Por gosto e para me entreter, comecei a fazer peças com desperdício de madeira de pinho». Hoje, vende todos os primeiros domingos de cada mês no mercado da Pampilhosa. LER
Os Portugueses - Cândida Almeida, A arte paciente e criativa dos registos de arte sacraUma tradição muito antiga, a dos registos de arte sacra, é perpetuada em Figueiró dos Vinhos pela artista decorativa Cândida Mendes de Almeida. Também pinta a natureza da região a óleo, pinta o vidro, executa trabalhos em escama de peixe e em estanho mas prefere a arte sacra. «Os registos permitem muita criatividade», explica. LER
Os Portugueses - Francisco Hortelão: uma vila retratada em miniaturas de madeira de pinhoNão são todas as vilas que se gabam de ter os seus monumentos, igrejas e coretos minuciosamente retratados em miniaturas de madeira de pinho. Em Figueiró dos Vinhos, Francisco Hortelão, 76 anos, dedicou os últimos anos da sua vida a fabricar miniaturas dos principais monumentos. Já realizou várias exposições mas raramente vende. «Faço por prazer», explica o ex-funcionário da autarquia, «gosto muito desta terra». LER
Os Portugueses - Rufino Cordeiro, «Fui sempre um doente pelo mar»A melhor forma de recordar a caça à baleia na Graciosa é pegar no livro «A Caça ao Cachalote na Graciosa» e rumar à garagem-museu de Rufino Cordeiro onde guarda, entre outras coisas, miniaturas de botes feitas por si, fotos de grandes pescarias e um arpão que pertenceu ao pai. LER
Os Portugueses - Augusto Maciel, o homem que toca bandolim na missaNão são todas as Igrejas que se podem gabar de ter um bandolim na missa. Enquanto puder, Augusto Maciel, 85 anos, vai continuar a animar as missas de fim-de-semana das freguesias de Capelo e Norte Pequeno, na Ilha do Faial, com o seu instrumento. «Quando ele não vem, nem a missa parece a mesma», conta uma mulher da freguesia de Capelo, vizinha do Vulcão dos Capelinhos. LER
Os Portugueses - Lídio Galinho, uma vida em defesa da pescaLídio Galinho nasceu há 65 anos na Costa de Caparica numa família de pescadores da arte da xávega. Aos seis meses foi viver para a beira da praia. Aos sete anos já ajudava no trabalho da pesca e aos 12 já remava como adulto. Perdeu no mar um irmão e vários camaradas. Pescador e armador, é sindicalista desde o 25 de Abril. Acredita que com 12 barcos, a pesca da xávega na área está para durar. «Queríamos que a Caparica fosse a capital da xávega». LER
Os Portugueses - Nuno Nunes: «A viola terceirense toca todo o tipo de músicas»Aos 51 anos, Nuno Nunes é praticamente o único construtor de violas na Ilha Terceira. Não tem mãos a medir no que respeita a consertar violas antigas e a construir violões, cavaquinhos, bandolins e violas terceirenses, de 15 cordas. «Aprendi tudo sozinho. É uma paixão». LER
Os Portugueses - Eduardo Ferreira: «Nascido e criado na Cova do Vapor»Eduardo Ferreira nasceu e foi criado num lugar que aos poucos tem vindo a ser reconhecido como um exemplo magnífico de arquitectura popular e de bem viver à beira-mar. Entalada entre a Praia de São João e a Trafaria, a Cova do Vapor é um mundo à parte que atrai cineastas, fotógrafos, arquitectos e apreciadores da vida simples e popular. LER
Os Portugueses - Zulmiro Resendes: «Agora estou na minha terra de novo»Partiu para o Brasil numa época em que o Nordeste da Ilha de São Miguel vivia da lavoura e na pobreza. Viveu a azáfama e a agitação de uma lanchonete no centro de São Paulo. Regressou muitos anos depois e nunca pensou ver a ilha tão modernizada e evoluída. O que mais fascina Zulmiro Resendes, 76 anos, reformado, é a paz e sossego. «Aqui estou no paraíso». LER
Os Portugueses - Vítor Soares: «Quero organizar uma marcha da Cova do Vapor»Na Cova do Vapor, Trafaria, concelho de Almada, Vítor Soares é o animador, o homem que coloca os populares a cantar fado às sextas-feiras junto à sua aparelhagem de karaoke ou a brincar com canções menos ortodoxas aos sábados. Dia 17 de Julho vai reunir ali 23 fadistas numa sessão que pretende ajudar a Associação de Moradores a pagar os últimos melhoramentos. «Tudo o que juntamos é para em prole das associações e das obras que esta faz na Cova do Vapor». O povo agradece. «Dá gosto trabalhar com esta gente». LER
Os Portugueses - Mário Olímpio: «Não quero deixar morrer o património da minha terra»Aos 39 anos, Mário Olímpio, luta por preservar e divulgar a memória e o património de Cevide, concelho de Melgaço, a aldeia mais a norte de Portugal. «Tem uma natureza inigualável, entre o rio Minho e o Trancoso, tem um castro, uma calçada romana, possui o marco número um e um passado de contrabando com inúmeras histórias». Infelizmente, o património está ao abandono, incluindo os edifícios da Alfândega em São Gregório. «Não pode morrer». LER
Os Portugueses - O mundo mágico e único da «Aninhas de Fontes»Aos 80 anos, Ana Fontes não sabe a quem deixar o espólio mágico e excêntrico que povoa a sua casa. Ao longo de uma vida sofrida, marcada pela pobreza e pela neurose causada pelas insónias, Ana escreveu milhares de quadras e produziu com material reciclado centenas de peças de um artesanato incomum, mesmo quando aparentemente etnográfico. Juntamente com matanças do porco ou malhadas, Ana encena a sua própria morte, retrata o seu casamento ou cria monstros alegóricos. Um mundo mágico encerrado numa casa perdida nos confins de Santa Maria. LER
Os Portugueses - Israel Pereira: O ex-director do aeroporto de Santa MariaNos anos 40 do século passado, a construção do aeroporto mexeu com a pacatez rural da Ilha de Santa Maria. Israel Pereira, 89 anos, ex-director, recorda o impacto que este teve na ilha e confessa que gostaria que tivesse sido maior ainda. «Veio gente de todo o lado para trabalhar no aeroporto. Havia funcionários que faziam uma a duas horas a pé desde as freguesias rurais», conta. LER
Os Portugueses - António Freitas Moura: O último moleiroAntónio Moura, Arrebentão, Ilha de Santa Maria, manteve em actividade o moinho de vento que herdou do pai até as moagens o tornarem obsoleto e impraticável a sua manutenção. Aos 78 anos, ele e a mulher continuam a tratar as vinhas na encosta de São Lourenço, das vacas no Norte e a correr a ilha a pé. «Vamos para todo o lado a pé, ainda hoje à tarde vou a São Lourenço e volto». LER
Os Portugueses - Rafael Carvalho: «A viola da terra é o maior símbolo cultural dos Açores»Começou por tocar violão, mas cedo se deixou apaixonar pelo som e pela carga social e cultural da viola da terra. Numa manhã enevoada na periferia de Ponta Delgada, Rafael Carvalho, 30 anos, explicou o que o leva a querer expandir cada vez mais a divulgação da viola, seja na Internet, na escola ou com a Orquestra das Violas da Terra. Escutá-lo à viola ou a falar do que ela representa é uma lição apaixonada. LER
Os Portugueses - António Moura Baptista: O último Regedor Na freguesia rural de Santa Bárbara, na Ilha de Santa Maria, o ex-regedor António Baptista, 90 anos celebrados no passado dia 20 de Abril, recorda o tempo em que se vivia única e exclusivamente da plantação de batata-doce, milho e trigo, cozendo o pão em casa, à luz do candeeiro de petróleo. «A luz e a água canalizada só chegaram depois do 25 de Abril». LER
Os portugueses - Mestre João Benavides: «Os cavalos pintavam a manta num homem»Durante quatro gerações, a família Benavides forjou ferraduras, aros de ferro para carroças e carros de bois, ferrou animais, numa azáfama proporcional aos tempos em que não existiam tractores e o serviço agrícola era feito em tracção animal. João Benavides, 61 anos, mantem a «tenda de ferreiro/ferrador» mas já pouco a utiliza. «Está aqui para os mais novos verem como era a vida de um ferreiro/ferrador», explica.LER
Os Portugueses - Nuno Marçal: «Levo livros, escuto, converso, quebro a solidão» Todas as semanas, de segunda a sexta-feira, a carrinha da Biblioteca Móvel de Proença-a-Nova, no distrito de Castelo Branco, atravessa uma rede de 30 aldeias para levar livros, jornais, revistas, dvd´s e internet a um universo esquecido e envelhecido. Muitos, analfabetos, usam as revistas como pretexto para conversar e quebrar a solidão. Outros, revelam-se leitores compulsivos, como o pastor que lia Kafka encostado a uma oliveira. LER
Os Portugueses - João Luís Mariano: «Cantar ao desafio é um dom de criança»Na freguesia micaelense de Capelas, nos Açores, João Luís Mariano, 68 anos, é tão conhecido como ex-baleeiro como cantador ao desafio, um dos melhores, senão o melhor da ilha. «Isto é um dom de criança, nasceu comigo», conta João Luís, que subiu a um palco para cantar, aos 11 anos de idade. «Com fato e sapatos emprestados». LER
Os Portugueses - Luís Medeiros: «Dêem-me um molde e eu construo o instrumento»Sempre só, carpinteiro no desemprego, Luís, 50 anos, Água Retorta, começou por construir violas da terra, mais tarde violões de 12 cordas, cavaquinhos e até um ukulele a partir de um molde original que trouxe da Bermuda. Já construiu um violoncelo e está começar um violino. «Estou sempre pesquisando?» LER
Os Portugueses - Carlos Paiva: O último albardeiro da Ribeira GrandeCarlos Manuel Paiva passou uma vida a fazer albardas e correias e selas para burros e cavalos de uma Ilha de São Miguel que dependia muito do transporte desses animais para as andanças entre as freguesias, a lavoura e a pecuária. Aos 78 anos, continua a trabalhar na pequena oficina da Ribeira Grande. «Já se vende pouco mas trabalhei muito, uh, foi uma vida muito difícil?» LER
Os Portugueses - Ti Manuel «Favica»: «Tudo o que havia levaram. Só ficou essa chaminé»No lugar dos Poços, na freguesia das Capelas, Ilha de São Miguel, onde dantes se caçou a baleia e se a trabalhou na fábrica em frente ao mar, há hoje um bar de karaoke, uma piscina natural com balneários e estacionamento mas pouco ou nada resta da memória baleeira. «Levaram tudo», conta o ex-operário da fábrica Ti Manuel «Favica». LER
Os Portugueses - José António Carvalho: «Tirei milhares de fotografias durante estes anos todos»Raramente uma barbearia transmite o que foi a vida de uma freguesia como no caso da Barbearia Museu Benfica, nos Arrifes, Ponta Delgada. Aos longos dos anos, o mestre Zé, o barbeiro, guardou ali milhares de fotos, artesanato feito por si, quadras, notas, moedas, num santuário de memória que já é um museu popular. «Quando eu morrer isto fica para freguesia», diz José, de 82 anos. LER
Os Portugueses - Armando Oliveira: «A passagem junto ao Outão emociona sempre»Presidente da Comissão de Festas da Nossa Senhora do Rosário de Tróia, desce criança que Armando Oliveira se acostumou a vivenciar aquela que é considerada a grande festa dos pescadores setubalenses. «Nunca fui pescador mas nasci nas Fontainhas numa família ligada à pesca. Desde miúdo que vivo a festa». Há mais de 20 anos que preside à comissão organizadora, com altos e baixos. Este ano, as celebrações serão a 18, 19 e 20 de Agosto. LER
Os Portugueses - Joaquim Fonseca: «Somos a voz dos que teimam em viver no interior profundo»Desde os anos 80, quando nasceu como rádio pirata, que a Rádio Clube de Monsanto e o seu radialista solitário emitem, em defesa do regionalismo, do topo dos penedos de uma das aldeias mais emblemáticas de Portugal. O facto de ser independente de todos e quaisquer poderes tem-na sacudido mas não a deita abaixo, nem a ela nem ao irredutível beirão Joaquim Fonseca. «Quando cairmos caímos de pé». LER
Os Portugueses - António Fernando: «Vim para Borralha atrás da vida»Pelas ruas da antiga mina de volfrâmio da Borralha, concelho de Montalegre, circulam velhos mineiros como António Fernando, 85 anos. São eles que conservam viva a memória de umas instalações deixadas demasiados anos ao abandono e que estão a ser conservadas para as gerações futuras pelo Eco-Museu do Barroso. «Andei na fárria mas nunca apanhei uma pedra», desabafa. LER
Os Portugueses - João Seixas: «O Mãozinhas» dos Caretos da Lagoa de Mira João Seixas, 63 anos, pertence à velha geração de Caretos da Lagoa de Mira quando saíam descalços e farda caseira e tinham de se identificar na GNR. Hoje continua a sair, ruas de Mira fora, mas este bem pode ter sido o seu último ano. Os mais novos, que pegaram na tradição com a ajuda do falecido sapateiro Alírio Laranjeiro, tão cedo não a deixam morrer. LER
Os Portugueses - Maria Luísa Pereira: «Aqui o fumeiro é natural e feito à mão»Na aldeia de Paredes do Rio, concelho de Montalegre, onde uma associação promove desde há anos a cultura popular com recreações de matanças do porco, de malhadas e segadas, aulas de música e visitas guiadas aos moinhos e aos teares recuperados, o fumeiro ainda é feito artesanalmente. Maria Luísa recebeu-nos em sua casa e explicou porque faz tudo ainda como a avó ensinou: «A carne fica mais suculenta». LER
Os Portugueses - Pedro Mestre: «Sou alentejano de pés firmes na terra»A história de Pedro Mestre é a de alguém que parece ter nascido com uma missão, quase um sacerdócio. O de dar continuidade, com a exigência dos novos tempos, às tradições musicais da sua região: a viola campaniça, o cante, o despique, o baldão e com isso fazer reaparecer o Alentejo mais jovial do tempo dos bailes e das tabernas quando rapazes e raparigas cantavam modas ao desafio pela noite fora. O Café Portugal falou com ele em Castro Verde. LER
Os Portugueses - Domingos «Padrinho»: «Quem me valeu sempre foi a Santa Bárbara»As minas da Borralha, na freguesia de Salto, concelho de Montalegre, fecharam em 1986. Por lá se mantém ainda muito património industrial que a câmara e o Eco-Museu de Barroso estão a recuperar para ali criar um pólo aberto a visitantes. Por ali andam também antigos mineiros, como Domingos «Padrinho», alcunha ganha a jogar a sueca em Salto. Encontrámo-lo numa manhã gelada de Janeiro à beira das águas trepidantes do rio. LER
Os Portugueses - Manuel Bento: «Sem o Pedro Mestre a viola campaniça morria»Os dedos já não permitem que o mestre da viola campaniça Manuel Bento, 86 anos, a toque como sempre tocou. A memória dos tempos da Aldeia Nova, Ourique, dos bailes, do canto a despique, da labuta no campo, essa permanece intacta. Recebeu o Café Portugal em Beja, onde reside actualmente e não escondeu o orgulho no trabalho de continuidade do jovem Pedro Mestre: «Sem ele a viola campaniça tinha morrido». LER
Os Portugueses - José Augusto, o mestre aveirense do barro vermelhoAos 82 anos, José Augusto, artista plástico, modelador incansável de peças de cariz regionalista em barro vermelho, continua insatisfeito. Pela sua oficina aveirense, escondida numa rua muito comprida e anónima que leva ao centro da freguesia de São Bernardo, escondem-se verdadeiras preciosidades em barro, em tela e em azulejo. «O mercado está muito parado», desabafa. LER
Os portugueses - Manuel Ribeiro, o último dos garimpeirosO garimpo de ouro no Tejo e no vizinho Ocreza terminou nos anos 50 do século passado mas Manuel Ribeiro Gonçalves, 85 anos, ainda o recorda, na aldeia de Foz do Cobrão, concelho de Vila Velha do Ródão. «Só lá íamos porque a vida do campo aqui era uma miséria e passávamos fome. Se desse muito ouro hoje estava rico, não estava aqui» LER
Os Portugueses - Isidoro Valério: «Não quer levar um presépio em cortiça?»Isidoro Valério, 70 anos, sempre labutou o campo, em Urra, concelho de Portalegre. Desde criança que tanto guardava o gado como ajudava no amanho das terras. «Era muito duro, levantar logo no princípio da madrugada, nem gosto de me lembrar. Quando ouço falar nesta crise só me apetece dizer que as pessoas não sabem o que era a crise antigamente. Agora há dificuldades mas dantes trabalhava-se para conseguir comer». LER
Os portugueses - Manuel Frutuoso o último canastreiroNa zona de Portalegre, Manuel Frutuoso é o último homem a fazer canastras em madeira de castanho. Nascido numa família de canastreiros, fez canastras para a fruta e mais tarde para transportar o pão até estas serem ultrapassadas por caixas de madeira e pelo plástico. Hoje, aos 80 anos, corre feiras de artesanato e semanas gastronómicas a convite do turismo local. «Agora já não me chamam canastreiro, sou artesão...», diz a sorrir. LER
Os portugueses - Fernando, o homem das chegas de boisFernando Moura, barrosão de gema, é há muitos anos uma figura incontornável das chegas de bois em todo o concelho de Montalegre. Autor de vários livros, um dos quais sobre as suas «melhores chegas», Fernando relata tudo como se de um jogo de futebol se tratasse para a Rádio Montalegre e Tv Barroso: «Já estão a torrar, vai ser uma chega brava?» LER
Os Portugueses - O comboio já não passa aquiO ex-chefe da estação de caminhos-de-ferro Marvão/ Beirã, José das Neves, regressa à gare onde foi chefe entre 1975 e 1989 numa altura em que esta está prestes a fechar. Desde que o comboio regional foi suprimido em Fevereiro, a estação só vê parar de madrugada o Lusitânia Expresso. A ligação internacional deverá, segundo os planos do governo, passar para a linha da Beira Alta. «Isto aqui fica entregue aos bichos». LER
Os Portugueses - «A vassoura de milho é o meu passaporte»Um viajante inveterado, Nuno Moutinho aproveita a paixão pela produção artesanal de vassouras de milho painço para rodar pelo país, conhecer gentes e tradições diversas. O milho, cultiva-o bem perto da Ponte do Freixo, no Porto para depois o entrançar em dias húmidos na sua casa de Gondomar. Defende a tradição que já vem do bisavô com unhas e dentes - «é tradicional e ecológica» - e só tem pena que a família nem sempre compreenda a sua paixão. LER
Os portugueses - O acordeão do Ti TomásNascido e criado na raia, a umas centenas de metros de Espanha, Tomás Ferreiro estimava o acordeão herdado do pai e aliviava as agruras do trabalho escravo no campo tocando nos bailaricos. Um dia, a namorada e futura esposa, fez-lhe um ultimato: Ou ela ou o acordeão e os bailes. Tomás escolheu-a a ela. Ao fim de mais de 50 anos de casamento, a esposa partiu e deixou o viúvo Ti Tomás sozinho mais o acordeão. «Estava muito estafadinho mas voltei a tocar num novo». Uma conversa em Santo António das Areias, Marvão. LER
Os Portugueses - Dona Lourença, contrabandista da Pitaranha«Levávamos café por essa campo de Deus». Quando a fronteira abriu e o contrabando acabou, Dona Lourença e os outros aldeões de Pitaranha, um lugar colado à fronteira com Espanha, no concelho de Marvão, olhavam uns para os outros e perguntavam. «E agora? De que é que a gente se vai governar?» Ali, como em Galegos e em Relva e lugares perdidos na raia, praticamente toda a população vivia a alimentar as rotas de contrabando que seguiam para La Fontañera e Valência de Alcântara. LER
Os Portugueses - José da Silva Máximo, o homem das quadras bonitasAo fim de uma vida de trabalho como Guarda Fiscal, José Máximo lembrou-se de enviar umas quadras para uma rádio que nos anos 80 existia em Marvão, a «Ninho das Águias». Tinha 60 anos. Agora, 26 anos depois, colecciona taças e medalhas referentes a 30 primeiros prémios, 21 segundos e 28 terceiros de jogos florais de todo o Alentejo e não só. Como explica e bem numa quadra: «Em qualquer canto perdido/ Do Alentejo dourado/ Há um poeta escondido/ Vivendo sem ser notado». LER
Os Portugueses - Alísio Saraiva: «Agora a viola beiroa já não desaparece»
Os Portugueses - Artur Jorge Santos: «Queremos promover os nossos produtos e valores culturais»A Confraria dos Amigos dos Negalhos e da Freguesia de Almalaguês não se limita a promover o enchido produzido com as vísceras da cabra que restam da confecção da chanfana. Criada há dois anos, visa promover todos os produtos tradicionais da localidade (vinho, colchas) mas também toda a sua herança cultural. No passado mês de Janeiro organizou o I Encontro de Gaiteiros e homenageou o gaiteiro local Ti Álvaro Fachada, 80 anos. LER
Os Portugueses - Ti Álvaro Fachada: O gaiteiro que tocava a dançarO primeiro gaiteiro em Almalaguês, Coimbra, conhecido por Ti Álvaro Fachada. Por nos velhos tempos tocar a dançar, representa uma tradição muito enraizada na região centro, que tem sido alvo de investigação. «Aqui na zona sempre tocámos em trio, o gaiteiro, o caixa e o bombo. Toquei em tudo quanto é festa na região», explica. A figura do gaiteiro de Coimbra vai ser de novo objecto de atenção no IIº Festival Internacional de Gaiteiros de Coimbra, a 5 de Julho. «Não basta tocar bem a gaita-de-foles. É preciso ser-se alegre e animar as pessoas, ter bons pulmões e boas pernas para subir e descer as ruas». LER
Os Portugueses - Cristina Fachada: «Receio que a tradição de Almalaguês termine na minha geração»Almalaguês, a sul de Coimbra, considerado o «mais consistente núcleo de tecelagem tradicional» em Portugal, vive momentos de grande dificuldade devido ao agravamento da actual crise económica. Cristina Fachada, tecedeira a tempo inteiro, receia que o «ex-libris» da localidade possa não ter continuidade. «As nossas colchas são riquíssimas e com uma execução característica e neste momento não se vendem. Tenho de fazer de tudo um pouco para sobreviver», explica. LER
Os Portugueses - Adérito Marques: «A divulgação do meu trabalho faz-se entre os músicos. Não tenho Internet»Um dos poucos construtores de instrumentos de corda da região centro, Adérito Marques, esconde-se na pacatez do lugar de Andorinha, a dez quilómetros de Cantanhede e uns 20 de Coimbra. Ali aprendeu a trabalhar a madeira e mais tarde a construir violas, bandolins, cavaquinhos e guitarras portuguesas. «É um local tranquilo onde toda a gente se conhece. Quando preciso de algo vou a Coimbra, a Braga ou a Espanha mas é aqui que trabalho». Até hoje, nunca usou a Internet para pesquisa ou divulgação: «Sou um bocado conservador. Sei que os músicos e clientes já sabem onde estou». LER
Os Portugueses - Fernando Moura: Morreu o homem das chegas de boisFernando Moura, barrosão de gema, há muitos anos a figura incontornável das chegas de bois em todo o concelho de Montalegre, faleceu no passado dia 9 de Outubro aos 82 anos. Autor de vários livros, um dos quais sobre as suas «melhores chegas», outros sobre a cultura popular do Barroso, Fernando amava a terra onde nasceu e vibrava especialmente com as chegas. Relatava-as como se de uma partida de futebol se tratasse: «Já estão a torrar, vai ser uma chega brava». LER
Os Portugueses - João Abrantes, latoeiro: «Ninguém quer seguir a arte»Nascido e criado numa família de latoeiros, João «Latoeiro» já pouco exerce a profissão que o acompanhou toda a vida no lugar de Ameal, Alquerubim, Albergaria-a-Velha. Mantém a oficina em casa aberta a quem o queira visitar mas já pouco exerce. «A última coisa que fiz aqui foi reparar um radiador. O resto já se vende pouco e não há ninguém que queira seguir a arte», explica, rodeado de candeias, funis, cântaros e regadores. LER
Portugueses - Etelvina Paiva, Adega dos Passarões: «Os velhos clientes já morreram quase todos»A um passo da Câmara Municipal de Figueiró dos Vinhos, a Adega dos Passarões respira uma atmosfera de outras épocas, quando as tabernas reinavam num mundo onde o copo de tinto ainda não tinha sido substituído pela cerveja e pelos «shots». As cubas de cimento ainda lá estão mas foram há muito substituídas pelo garrafão. LER
Os Portugueses - Amadeu Pinho: «Já só aqui estou por carolice»
Ao fim de 45 anos instalado na Rua Manuel Firmino, em Aveiro, o alfaiate Amadeu Pinho desistiu de fazer fatos mas mantem as portas abertas por «carolice» e para se entreter durante a tarde. «Não podemos competir com o que vem feito de fora. Venho aqui para não estar parado em casa ou passar o dia a jogar às cartas». A alfaiataria, com os seus velhos retratos de um Beira-Mar de outrora e a máquina de cozer Oliva junto à janela, para aproveitar a luz solar, é um exemplo ainda vivo de uma Aveiro diferente. «A cidade mudou muito...», comenta Amadeu com nostalgia. LER
Os Portugueses - Narciso Lopes: «A madeira é mais segura em caso de sismo»Na ilha Terceira, nos Açores, já não há muitos carpinteiros a dedicar-se à arte da tanoaria. Um deles é Narciso Lopes, cuja carpintaria fica perto da estrada entre as Quatro Ribeiras e a Agualva, na costa norte da ilha. Apaixonado pelo trabalho em madeira, Narciso até já escreveu num jornal regional sobre as virtudes e a segurança dos tectos em madeira numa ilha flagelada em 1980 por um forte terramoto: «É mais seguro que o betão». LER
Os portugueses - Helder Eiró, tocador e construtor de viola da terraNa pequena ilha açoriana da Graciosa, a emigração leva potenciais tocadores da tradicional viola da terra para longe. Helder Eiró viveu muitos anos nos Estados Unidos, tem uma casa perto das afamadas termas do Carapacho e procura ensinar as novas gerações. «Construo violas e ensino o que sei para que isto não morra». LER
Os Portugueses - Manuel Pimenta da Costa: «Se morrer na Ferraria deixem-me lá estar»Chamam-lhe «Manuel da Maia» porque nasceu na Maia, na costa norte da Ilha de São Miguel mas foi na freguesia dos Ginetes, na costa sul e junto a uma das vertentes da cratera das Sete Cidades, que assentou arraiais. É dos poucos que ainda cultiva a terra, num lugar dominado pela pecuária. Apaixonado pela pesca na Ponta da Ferraria, no extremo ocidental da ilha, até tem um pesqueiro com o seu nome. LER
Os Portugueses - Ismael Marques: «O Transpraia não pode morrer»Ismael Marques trabalha desde 1969 num dos ex-libris de Caparica, o mini comboio Transpraia que une a povoação à Fonte da Telha e vai parando nas praias pelo caminho. De via estreita e vagões abertos, o comboio traz muitas recordações a quem frequenta a Costa de Caparica há anos e fascina os mais novos. Infelizmente, o Polis de Caparica ditou o afastamento do mesmo para a Praia do Norte, retirando-lhe grande parte da clientela. «Só queremos que nos deixem partir de junto da lota», diz Ismael. LER
Os Portugueses - «Só Deus sabe o que passámos»A crise e a desertificação não abala a auto-estima e alegria de viver de três mulheres da aldeia de Bairradas, concelho de Figueiró dos Vinhos, acostumadas a tempos infinitamente piores. Só lamentam não ter já a saúde para trabalhar como o faziam dantes: «Quem quer não pode, quem pode não quer».LER
Os Portugueses - Bruno Oliveira: A nova voz do desafioUma nova geração de cantadores ao desafio tem surgido nas ilhas dos Açores competindo respeitosamente com os veteranos, alguns verdadeiras lendas locais. Bruno Oliveira é jorgense, tem 24 anos e faz despique em palco com os maiores nomes do desafio. Viaja com frequência sobretudo para a Terceira, onde não há festa sem tourada à corda e cantoria ao desafio. LER
Os Portugueses - José Vitorino: «A pesca da xávega é a nossa tradição»José Vitorino, 82 anos, sempre conheceu a Caparica com a pesca da xávega. Nasceu e cresceu numa família de pescadores que ainda hoje se mantem firme na arte. Virou com o barco muitas vezes, perdeu um irmão no mar e não vê a Costa de Caparica sem a xávega. «A terra nasceu porque os ílhavos e os algarvios vieram para aqui pescar. É a nossa tradição». LER
Os Portugueses - António Domingos Ávila: «O mar vai ficar saturado de cachalotes»António Domingos Ávila, 67 anos, baleeiro, ex-arpoador, mais conhecido por «Ritinha», falou com Nuno Ferreira na esplanada do estabelecimento com o mesmo nome, nas Lajes do Pico: «Tenho este café há mais de 30 anos. Andava na baleia e regressava aqui para uns petiscos, uns caldos de peixe». Hoje, «Ritinha» vê o mar dos Açores a ficar saturado de cachalotes. LER
Os Portugueses - Rosa Silva, poeta popular na Ilha TerceiraVive em São Carlos, nas imediações de Angra do Heroísmo, mas tem a Serreta, na ponta ocidental da ilha, no coração. «A Serreta é uma marca registada que a minha mãe me deixou. Ela é que em vida me espicaçava para a divulgar. Hoje em dia escrevo a freguesia à luz do passado», explica Rosa Silva, poeta popular terceirense. LER
Os Portugueses - João Leonel: «Cantar ao desafio é um dom que nasce com a gente»Natural do Curato da Ribeira Seca, São Sebastião, Ilha Terceira, onde nasceu em 1944, filho de um lavrador, João Leonel começou a sentir o «dom» para as cantigas na escola. Vasculhava tudo o que fosse livro com rimas. Hoje é um dos mais considerados repentistas da ilha. «Isto não é para todos. O Vitorino Nemésio tentou improvisar e despistou-se?» LER
Os Portugueses - Augusto Neves: «O som da concertina faz parte da minha vida desde pequeno»Emigrado na Suíça durante 24 anos, Augusto Neves regressou e com ele trouxe a maior colecção de concertinas e acordeões do país. Desde há uns anos que a autarquia de Pedrogão Grande está interessada em expor em museu a totalidade ou parte do espólio que inclui peças únicas e raras. Enquanto o sonho não se concretiza, Augusto e os filhos tocam por todo o país e alimentam a vontade de criar uma loja e escola na vila do Pinhal Interior. LER
Os Portugueses - Manuel André: «Há poucas violas da terra na chamarrita»Um baile de chamarrita no Pico é sempre um acontecimento, faça chuva ou sol. O ritmo frenético da dança popular implica que os músicos se sentem em cadeiras em filas e não parem de tocar durante horas. Houve um tempo em que a viola da terra era o barómetro da dança. Hoje, são poucos os executantes. Um deles é Manuel Horácio Serpa André: «O som da chamarrita tem de ser preenchido com a viola da terra».LERNuma época em que a viola beiroa já só era tocada na «Dança dos Homens» das festas religiosas da Lousa, Castelo Branco, Alísio Saraiva, 64 anos, pegou nela e desenvolveu-lhe a afinação. Das suas aulas, que iniciou há sete anos saíram mais dois tocadores e hoje, com o apoio do Inatel, a viola beiroa conta já com uma orquestra de nove executantes. Nos dias 27 e 28 de Abril, Alísio vai estar em Castro Verde no IV Encontro de Violas de Arame. LER
Os Portugueses - Aníbal da Costa Francisco: De antigo carteiro a «rei dos petiscos»Há 42 anos atrás do balcão do «Escondidinho de Cacilhas», uma tasca de petiscos que perfaz 116 anos no dia 1 de Maio, Aníbal da Costa Francisco não esquece o tempo em que corria a serra de Arganil de malas do correio às costas, de Pomares ao Piódão, por caminhos de cabras. «Há pessoal que não se acredita». LER
Os Portugueses - Joel Xavier: O director da TV BarrosoDesde 2008 que a TV Barroso apareceu na internet para suprir uma lacuna: transmitir ao mundo o que se passa num dos concelhos e numa região longe dos grandes centros, cercada por montanhas. A teimosia da equipa onde João Xavier é o director, o operador de câmara, o técnico de montagem e a jornalista Maria José Afonso a imagem da estação supera todas as dificuldades. LER
Os Portugueses - Tomás Ferreira: «Íamos a pé pela Serra da Tronqueira»Tomás Ferreira viveu praticamente toda a sua vida na Lomba da Fazenda, no nordeste da Ilha de São Miguel. Esteve cinco anos emigrado no Canadá mas cedo voltou, porque o «ambiente era outro». Tomás fala de um tempo em que a distracção era o bailinho ao som do violão e da viola da terra e em que atravessavam a pé a Serra da Tronqueira para ir à festa na Povoação, do outro lado da ilha. LER
Os Portugueses - Manuel da Cunha, o último moleiro de Vitória, Ilha GraciosaNa Graciosa, os moinhos de vento já foram muito úteis na moagem da farinha. Hoje são testemunhos que povoam a paisagem um pouco por todo o lado, uns mais preservados do que outros. Manuel Tomaz Picanço da Cunha, já não trabalha o velho moinho mas mantém-no recuperado, objecto de memória dos tempos de ruralidade da ilha. LER
Os Portugueses - Joaquim «Ruivo», a arte de fazer cangasNo Bunheiro, Murtosa, Joaquim Tavares dos Santos, mais conhecido por Joaquim Ruivo já perdeu conta às cangas que construiu desde que começou a trabalhar a madeira aos 11 anos com o falecido pai. «Antes de chegarem os tractores a canga era muito procurada, não chegava para as encomendas. Hoje vendem-se para adorno», explica. LER
Os Portugueses - Tomé Luís Ferreira, «Vi a morte duas vezes»Na freguesia dos Mosteiros, na ponta ocidental de São Miguel, contam-se pelos dedos os que ainda se dedicam à pesca apesar das melhorias no porto. Tomé Ferreira, 69 anos, 40 de mar, ex-emigrante no Canadá, é um deles. «Os mais novos já não querem pescar», explica Tomé, que ainda aproveita para semear batata e milho ali perto e corta relva em Ponta Delgada. LER
Os Portugueses - Fernando Eva, o mestre das peças em madeira de pinho Ao fim de anos a fio a trabalhar em serrações, fábricas de cerâmica e a vender produtos congelados, Fernando Eva sofreu uma doença grave que o manteve em casa. «Por gosto e para me entreter, comecei a fazer peças com desperdício de madeira de pinho». Hoje, vende todos os primeiros domingos de cada mês no mercado da Pampilhosa. LER
Os Portugueses - Cândida Almeida, A arte paciente e criativa dos registos de arte sacraUma tradição muito antiga, a dos registos de arte sacra, é perpetuada em Figueiró dos Vinhos pela artista decorativa Cândida Mendes de Almeida. Também pinta a natureza da região a óleo, pinta o vidro, executa trabalhos em escama de peixe e em estanho mas prefere a arte sacra. «Os registos permitem muita criatividade», explica. LER
Os Portugueses - Francisco Hortelão: uma vila retratada em miniaturas de madeira de pinhoNão são todas as vilas que se gabam de ter os seus monumentos, igrejas e coretos minuciosamente retratados em miniaturas de madeira de pinho. Em Figueiró dos Vinhos, Francisco Hortelão, 76 anos, dedicou os últimos anos da sua vida a fabricar miniaturas dos principais monumentos. Já realizou várias exposições mas raramente vende. «Faço por prazer», explica o ex-funcionário da autarquia, «gosto muito desta terra». LER
Os Portugueses - Rufino Cordeiro, «Fui sempre um doente pelo mar»A melhor forma de recordar a caça à baleia na Graciosa é pegar no livro «A Caça ao Cachalote na Graciosa» e rumar à garagem-museu de Rufino Cordeiro onde guarda, entre outras coisas, miniaturas de botes feitas por si, fotos de grandes pescarias e um arpão que pertenceu ao pai. LER
Os Portugueses - Augusto Maciel, o homem que toca bandolim na missaNão são todas as Igrejas que se podem gabar de ter um bandolim na missa. Enquanto puder, Augusto Maciel, 85 anos, vai continuar a animar as missas de fim-de-semana das freguesias de Capelo e Norte Pequeno, na Ilha do Faial, com o seu instrumento. «Quando ele não vem, nem a missa parece a mesma», conta uma mulher da freguesia de Capelo, vizinha do Vulcão dos Capelinhos. LER
Os Portugueses - Lídio Galinho, uma vida em defesa da pescaLídio Galinho nasceu há 65 anos na Costa de Caparica numa família de pescadores da arte da xávega. Aos seis meses foi viver para a beira da praia. Aos sete anos já ajudava no trabalho da pesca e aos 12 já remava como adulto. Perdeu no mar um irmão e vários camaradas. Pescador e armador, é sindicalista desde o 25 de Abril. Acredita que com 12 barcos, a pesca da xávega na área está para durar. «Queríamos que a Caparica fosse a capital da xávega». LER
Os Portugueses - Nuno Nunes: «A viola terceirense toca todo o tipo de músicas»Aos 51 anos, Nuno Nunes é praticamente o único construtor de violas na Ilha Terceira. Não tem mãos a medir no que respeita a consertar violas antigas e a construir violões, cavaquinhos, bandolins e violas terceirenses, de 15 cordas. «Aprendi tudo sozinho. É uma paixão». LER
Os Portugueses - Eduardo Ferreira: «Nascido e criado na Cova do Vapor»Eduardo Ferreira nasceu e foi criado num lugar que aos poucos tem vindo a ser reconhecido como um exemplo magnífico de arquitectura popular e de bem viver à beira-mar. Entalada entre a Praia de São João e a Trafaria, a Cova do Vapor é um mundo à parte que atrai cineastas, fotógrafos, arquitectos e apreciadores da vida simples e popular. LER
Os Portugueses - Zulmiro Resendes: «Agora estou na minha terra de novo»Partiu para o Brasil numa época em que o Nordeste da Ilha de São Miguel vivia da lavoura e na pobreza. Viveu a azáfama e a agitação de uma lanchonete no centro de São Paulo. Regressou muitos anos depois e nunca pensou ver a ilha tão modernizada e evoluída. O que mais fascina Zulmiro Resendes, 76 anos, reformado, é a paz e sossego. «Aqui estou no paraíso». LER
Os Portugueses - Vítor Soares: «Quero organizar uma marcha da Cova do Vapor»Na Cova do Vapor, Trafaria, concelho de Almada, Vítor Soares é o animador, o homem que coloca os populares a cantar fado às sextas-feiras junto à sua aparelhagem de karaoke ou a brincar com canções menos ortodoxas aos sábados. Dia 17 de Julho vai reunir ali 23 fadistas numa sessão que pretende ajudar a Associação de Moradores a pagar os últimos melhoramentos. «Tudo o que juntamos é para em prole das associações e das obras que esta faz na Cova do Vapor». O povo agradece. «Dá gosto trabalhar com esta gente». LER
Os Portugueses - Mário Olímpio: «Não quero deixar morrer o património da minha terra»Aos 39 anos, Mário Olímpio, luta por preservar e divulgar a memória e o património de Cevide, concelho de Melgaço, a aldeia mais a norte de Portugal. «Tem uma natureza inigualável, entre o rio Minho e o Trancoso, tem um castro, uma calçada romana, possui o marco número um e um passado de contrabando com inúmeras histórias». Infelizmente, o património está ao abandono, incluindo os edifícios da Alfândega em São Gregório. «Não pode morrer». LER
Os Portugueses - O mundo mágico e único da «Aninhas de Fontes»Aos 80 anos, Ana Fontes não sabe a quem deixar o espólio mágico e excêntrico que povoa a sua casa. Ao longo de uma vida sofrida, marcada pela pobreza e pela neurose causada pelas insónias, Ana escreveu milhares de quadras e produziu com material reciclado centenas de peças de um artesanato incomum, mesmo quando aparentemente etnográfico. Juntamente com matanças do porco ou malhadas, Ana encena a sua própria morte, retrata o seu casamento ou cria monstros alegóricos. Um mundo mágico encerrado numa casa perdida nos confins de Santa Maria. LER
Os Portugueses - Israel Pereira: O ex-director do aeroporto de Santa MariaNos anos 40 do século passado, a construção do aeroporto mexeu com a pacatez rural da Ilha de Santa Maria. Israel Pereira, 89 anos, ex-director, recorda o impacto que este teve na ilha e confessa que gostaria que tivesse sido maior ainda. «Veio gente de todo o lado para trabalhar no aeroporto. Havia funcionários que faziam uma a duas horas a pé desde as freguesias rurais», conta. LER
Os Portugueses - António Freitas Moura: O último moleiroAntónio Moura, Arrebentão, Ilha de Santa Maria, manteve em actividade o moinho de vento que herdou do pai até as moagens o tornarem obsoleto e impraticável a sua manutenção. Aos 78 anos, ele e a mulher continuam a tratar as vinhas na encosta de São Lourenço, das vacas no Norte e a correr a ilha a pé. «Vamos para todo o lado a pé, ainda hoje à tarde vou a São Lourenço e volto». LER
Os Portugueses - Rafael Carvalho: «A viola da terra é o maior símbolo cultural dos Açores»Começou por tocar violão, mas cedo se deixou apaixonar pelo som e pela carga social e cultural da viola da terra. Numa manhã enevoada na periferia de Ponta Delgada, Rafael Carvalho, 30 anos, explicou o que o leva a querer expandir cada vez mais a divulgação da viola, seja na Internet, na escola ou com a Orquestra das Violas da Terra. Escutá-lo à viola ou a falar do que ela representa é uma lição apaixonada. LER
Os Portugueses - António Moura Baptista: O último Regedor Na freguesia rural de Santa Bárbara, na Ilha de Santa Maria, o ex-regedor António Baptista, 90 anos celebrados no passado dia 20 de Abril, recorda o tempo em que se vivia única e exclusivamente da plantação de batata-doce, milho e trigo, cozendo o pão em casa, à luz do candeeiro de petróleo. «A luz e a água canalizada só chegaram depois do 25 de Abril». LER
Os portugueses - Mestre João Benavides: «Os cavalos pintavam a manta num homem»Durante quatro gerações, a família Benavides forjou ferraduras, aros de ferro para carroças e carros de bois, ferrou animais, numa azáfama proporcional aos tempos em que não existiam tractores e o serviço agrícola era feito em tracção animal. João Benavides, 61 anos, mantem a «tenda de ferreiro/ferrador» mas já pouco a utiliza. «Está aqui para os mais novos verem como era a vida de um ferreiro/ferrador», explica.LER
Os Portugueses - Nuno Marçal: «Levo livros, escuto, converso, quebro a solidão» Todas as semanas, de segunda a sexta-feira, a carrinha da Biblioteca Móvel de Proença-a-Nova, no distrito de Castelo Branco, atravessa uma rede de 30 aldeias para levar livros, jornais, revistas, dvd´s e internet a um universo esquecido e envelhecido. Muitos, analfabetos, usam as revistas como pretexto para conversar e quebrar a solidão. Outros, revelam-se leitores compulsivos, como o pastor que lia Kafka encostado a uma oliveira. LER
Os Portugueses - João Luís Mariano: «Cantar ao desafio é um dom de criança»Na freguesia micaelense de Capelas, nos Açores, João Luís Mariano, 68 anos, é tão conhecido como ex-baleeiro como cantador ao desafio, um dos melhores, senão o melhor da ilha. «Isto é um dom de criança, nasceu comigo», conta João Luís, que subiu a um palco para cantar, aos 11 anos de idade. «Com fato e sapatos emprestados». LER
Os Portugueses - Luís Medeiros: «Dêem-me um molde e eu construo o instrumento»Sempre só, carpinteiro no desemprego, Luís, 50 anos, Água Retorta, começou por construir violas da terra, mais tarde violões de 12 cordas, cavaquinhos e até um ukulele a partir de um molde original que trouxe da Bermuda. Já construiu um violoncelo e está começar um violino. «Estou sempre pesquisando?» LER
Os Portugueses - Carlos Paiva: O último albardeiro da Ribeira GrandeCarlos Manuel Paiva passou uma vida a fazer albardas e correias e selas para burros e cavalos de uma Ilha de São Miguel que dependia muito do transporte desses animais para as andanças entre as freguesias, a lavoura e a pecuária. Aos 78 anos, continua a trabalhar na pequena oficina da Ribeira Grande. «Já se vende pouco mas trabalhei muito, uh, foi uma vida muito difícil?» LER
Os Portugueses - Ti Manuel «Favica»: «Tudo o que havia levaram. Só ficou essa chaminé»No lugar dos Poços, na freguesia das Capelas, Ilha de São Miguel, onde dantes se caçou a baleia e se a trabalhou na fábrica em frente ao mar, há hoje um bar de karaoke, uma piscina natural com balneários e estacionamento mas pouco ou nada resta da memória baleeira. «Levaram tudo», conta o ex-operário da fábrica Ti Manuel «Favica». LER
Os Portugueses - José António Carvalho: «Tirei milhares de fotografias durante estes anos todos»Raramente uma barbearia transmite o que foi a vida de uma freguesia como no caso da Barbearia Museu Benfica, nos Arrifes, Ponta Delgada. Aos longos dos anos, o mestre Zé, o barbeiro, guardou ali milhares de fotos, artesanato feito por si, quadras, notas, moedas, num santuário de memória que já é um museu popular. «Quando eu morrer isto fica para freguesia», diz José, de 82 anos. LER
Os Portugueses - Armando Oliveira: «A passagem junto ao Outão emociona sempre»Presidente da Comissão de Festas da Nossa Senhora do Rosário de Tróia, desce criança que Armando Oliveira se acostumou a vivenciar aquela que é considerada a grande festa dos pescadores setubalenses. «Nunca fui pescador mas nasci nas Fontainhas numa família ligada à pesca. Desde miúdo que vivo a festa». Há mais de 20 anos que preside à comissão organizadora, com altos e baixos. Este ano, as celebrações serão a 18, 19 e 20 de Agosto. LER
Os Portugueses - Joaquim Fonseca: «Somos a voz dos que teimam em viver no interior profundo»Desde os anos 80, quando nasceu como rádio pirata, que a Rádio Clube de Monsanto e o seu radialista solitário emitem, em defesa do regionalismo, do topo dos penedos de uma das aldeias mais emblemáticas de Portugal. O facto de ser independente de todos e quaisquer poderes tem-na sacudido mas não a deita abaixo, nem a ela nem ao irredutível beirão Joaquim Fonseca. «Quando cairmos caímos de pé». LER
Os Portugueses - António Fernando: «Vim para Borralha atrás da vida»Pelas ruas da antiga mina de volfrâmio da Borralha, concelho de Montalegre, circulam velhos mineiros como António Fernando, 85 anos. São eles que conservam viva a memória de umas instalações deixadas demasiados anos ao abandono e que estão a ser conservadas para as gerações futuras pelo Eco-Museu do Barroso. «Andei na fárria mas nunca apanhei uma pedra», desabafa. LER
Os Portugueses - João Seixas: «O Mãozinhas» dos Caretos da Lagoa de Mira João Seixas, 63 anos, pertence à velha geração de Caretos da Lagoa de Mira quando saíam descalços e farda caseira e tinham de se identificar na GNR. Hoje continua a sair, ruas de Mira fora, mas este bem pode ter sido o seu último ano. Os mais novos, que pegaram na tradição com a ajuda do falecido sapateiro Alírio Laranjeiro, tão cedo não a deixam morrer. LER
Os Portugueses - Maria Luísa Pereira: «Aqui o fumeiro é natural e feito à mão»Na aldeia de Paredes do Rio, concelho de Montalegre, onde uma associação promove desde há anos a cultura popular com recreações de matanças do porco, de malhadas e segadas, aulas de música e visitas guiadas aos moinhos e aos teares recuperados, o fumeiro ainda é feito artesanalmente. Maria Luísa recebeu-nos em sua casa e explicou porque faz tudo ainda como a avó ensinou: «A carne fica mais suculenta». LER
Os Portugueses - Pedro Mestre: «Sou alentejano de pés firmes na terra»A história de Pedro Mestre é a de alguém que parece ter nascido com uma missão, quase um sacerdócio. O de dar continuidade, com a exigência dos novos tempos, às tradições musicais da sua região: a viola campaniça, o cante, o despique, o baldão e com isso fazer reaparecer o Alentejo mais jovial do tempo dos bailes e das tabernas quando rapazes e raparigas cantavam modas ao desafio pela noite fora. O Café Portugal falou com ele em Castro Verde. LER
Os Portugueses - Domingos «Padrinho»: «Quem me valeu sempre foi a Santa Bárbara»As minas da Borralha, na freguesia de Salto, concelho de Montalegre, fecharam em 1986. Por lá se mantém ainda muito património industrial que a câmara e o Eco-Museu de Barroso estão a recuperar para ali criar um pólo aberto a visitantes. Por ali andam também antigos mineiros, como Domingos «Padrinho», alcunha ganha a jogar a sueca em Salto. Encontrámo-lo numa manhã gelada de Janeiro à beira das águas trepidantes do rio. LER
Os Portugueses - Manuel Bento: «Sem o Pedro Mestre a viola campaniça morria»Os dedos já não permitem que o mestre da viola campaniça Manuel Bento, 86 anos, a toque como sempre tocou. A memória dos tempos da Aldeia Nova, Ourique, dos bailes, do canto a despique, da labuta no campo, essa permanece intacta. Recebeu o Café Portugal em Beja, onde reside actualmente e não escondeu o orgulho no trabalho de continuidade do jovem Pedro Mestre: «Sem ele a viola campaniça tinha morrido». LER
Os Portugueses - José Augusto, o mestre aveirense do barro vermelhoAos 82 anos, José Augusto, artista plástico, modelador incansável de peças de cariz regionalista em barro vermelho, continua insatisfeito. Pela sua oficina aveirense, escondida numa rua muito comprida e anónima que leva ao centro da freguesia de São Bernardo, escondem-se verdadeiras preciosidades em barro, em tela e em azulejo. «O mercado está muito parado», desabafa. LER
Os portugueses - Manuel Ribeiro, o último dos garimpeirosO garimpo de ouro no Tejo e no vizinho Ocreza terminou nos anos 50 do século passado mas Manuel Ribeiro Gonçalves, 85 anos, ainda o recorda, na aldeia de Foz do Cobrão, concelho de Vila Velha do Ródão. «Só lá íamos porque a vida do campo aqui era uma miséria e passávamos fome. Se desse muito ouro hoje estava rico, não estava aqui» LER
Os Portugueses - Isidoro Valério: «Não quer levar um presépio em cortiça?»Isidoro Valério, 70 anos, sempre labutou o campo, em Urra, concelho de Portalegre. Desde criança que tanto guardava o gado como ajudava no amanho das terras. «Era muito duro, levantar logo no princípio da madrugada, nem gosto de me lembrar. Quando ouço falar nesta crise só me apetece dizer que as pessoas não sabem o que era a crise antigamente. Agora há dificuldades mas dantes trabalhava-se para conseguir comer». LER
Os portugueses - Manuel Frutuoso o último canastreiroNa zona de Portalegre, Manuel Frutuoso é o último homem a fazer canastras em madeira de castanho. Nascido numa família de canastreiros, fez canastras para a fruta e mais tarde para transportar o pão até estas serem ultrapassadas por caixas de madeira e pelo plástico. Hoje, aos 80 anos, corre feiras de artesanato e semanas gastronómicas a convite do turismo local. «Agora já não me chamam canastreiro, sou artesão...», diz a sorrir. LER
Os portugueses - Fernando, o homem das chegas de boisFernando Moura, barrosão de gema, é há muitos anos uma figura incontornável das chegas de bois em todo o concelho de Montalegre. Autor de vários livros, um dos quais sobre as suas «melhores chegas», Fernando relata tudo como se de um jogo de futebol se tratasse para a Rádio Montalegre e Tv Barroso: «Já estão a torrar, vai ser uma chega brava?» LER
Os Portugueses - O comboio já não passa aquiO ex-chefe da estação de caminhos-de-ferro Marvão/ Beirã, José das Neves, regressa à gare onde foi chefe entre 1975 e 1989 numa altura em que esta está prestes a fechar. Desde que o comboio regional foi suprimido em Fevereiro, a estação só vê parar de madrugada o Lusitânia Expresso. A ligação internacional deverá, segundo os planos do governo, passar para a linha da Beira Alta. «Isto aqui fica entregue aos bichos». LER
Os Portugueses - «A vassoura de milho é o meu passaporte»Um viajante inveterado, Nuno Moutinho aproveita a paixão pela produção artesanal de vassouras de milho painço para rodar pelo país, conhecer gentes e tradições diversas. O milho, cultiva-o bem perto da Ponte do Freixo, no Porto para depois o entrançar em dias húmidos na sua casa de Gondomar. Defende a tradição que já vem do bisavô com unhas e dentes - «é tradicional e ecológica» - e só tem pena que a família nem sempre compreenda a sua paixão. LER
Os portugueses - O acordeão do Ti TomásNascido e criado na raia, a umas centenas de metros de Espanha, Tomás Ferreiro estimava o acordeão herdado do pai e aliviava as agruras do trabalho escravo no campo tocando nos bailaricos. Um dia, a namorada e futura esposa, fez-lhe um ultimato: Ou ela ou o acordeão e os bailes. Tomás escolheu-a a ela. Ao fim de mais de 50 anos de casamento, a esposa partiu e deixou o viúvo Ti Tomás sozinho mais o acordeão. «Estava muito estafadinho mas voltei a tocar num novo». Uma conversa em Santo António das Areias, Marvão. LER
Os Portugueses - Dona Lourença, contrabandista da Pitaranha«Levávamos café por essa campo de Deus». Quando a fronteira abriu e o contrabando acabou, Dona Lourença e os outros aldeões de Pitaranha, um lugar colado à fronteira com Espanha, no concelho de Marvão, olhavam uns para os outros e perguntavam. «E agora? De que é que a gente se vai governar?» Ali, como em Galegos e em Relva e lugares perdidos na raia, praticamente toda a população vivia a alimentar as rotas de contrabando que seguiam para La Fontañera e Valência de Alcântara. LER
Os Portugueses - José da Silva Máximo, o homem das quadras bonitasAo fim de uma vida de trabalho como Guarda Fiscal, José Máximo lembrou-se de enviar umas quadras para uma rádio que nos anos 80 existia em Marvão, a «Ninho das Águias». Tinha 60 anos. Agora, 26 anos depois, colecciona taças e medalhas referentes a 30 primeiros prémios, 21 segundos e 28 terceiros de jogos florais de todo o Alentejo e não só. Como explica e bem numa quadra: «Em qualquer canto perdido/ Do Alentejo dourado/ Há um poeta escondido/ Vivendo sem ser notado». LER
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