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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Para dançar o tango bastam dois políticos e um punhal A que se deve este amor repentino de Passos Coelho pelo Partido Socialista e por António José Seguro?


Para dançar o tango bastam dois políticos e um punhal


A nível político, a semana fica marcada pelos sucessivos apelos a consensos de Pedro Passos Coelho ao líder do maior partido da oposição.Foi no domingo em Castelo Branco, foi na segunda-feira no Salão Internacional do Sector Alimentar e Bebidas e na terça-feira na conferência da revista The Economist. E só não foi mais porque entretanto (na quarta e na quinta) saíram os incómodos relatórios do FMI e da Comissão Europeia, que não recomendavam muita exposição mediática do primeiro-ministro para evitar perguntas desconfortáveis. Passos Coelho apresentou o consenso como uma espécie de panaceia que cura todos os males de que padece a nação: curaria o problema da credibilidade do país no exterior, melhoraria a percepção que os portugueses têm da classe política, ajudaria a aliviar as taxas de juro e até ajudaria a reduzir os níveis de abstenção nas eleições, vá-se lá saber como. E Passos não foi o único. Maria Luís Albuquerque, num assomo de simpatia, também veio convidar os socialistas a estarem envolvidos na elaboração do Documento de Estratégia Orçamental (DEO). É bom não esquecer que, no ano passado, o Governo elaborou este mesmo documento sem dar cavaco a ninguém, tendo aliás enviado primeiro o DEO a Bruxelas mesmo antes de chegar ao próprio Parlamento. Mas na altura, com uma coligação e uma maioria no Parlamento, pouco interessavam os consensos.
Mas então a que se deve este amor repentino pelo PS? Provavelmente porque Passos Coelho quer ensaiar uma saída limpa do resgate e, como tal, tem de dar aos credores uma garantia mínima de que o próximo primeiro-ministro não irá desfazer tudo (leia-se austeridade) o que foi feito (ou desfeito) até agora. Passos quer fazer com Seguro exactamente aquilo que Sócrates fez com Passos, ou seja, dançar o tango. Foi em 2010, quando o então recém-eleito líder do PSD viabilizou o PEC II. Sócrates agradeceu-lhe o patriotismo e disse aquela famosa frase do "para dançar o tango são precisos dois".
Mas para compreender o que significa dançar o tango em política é preciso ir às origens da própria dança. O tango nem sempre foi uma dança de glamour e de sensualidade. Antes de chegar aos salões da aristocracia parisiense, não era Al Pacino a dançar o Por una cabeza de Carlos Gardel com Gabrielle Anwar. O tango nos primórdios, dizem os historiadores, era dançado por dois homens, daí o facto de os rostos estarem sempre virados, sem se olharem. A dança mais famosa dos argentinos não passava de uma simulação de luta entre dois homens, de faca em punho, e era dançada à porta dos bordéis.
E é este o conceito primitivo do tango que importámos para a nossa política, em que dois homens são obrigados a dançar, ambos determinados, e ambos com medo de levar uma punhalada nas costas. Quando Sócrates convidou Passos Coelho para dançar, e deu o seu consentimento a novas medidas de austeridade, o líder do PSD surpreendeu ao fazer um pedido de desculpas público aos portugueses, algo inédito na política portuguesa. E nessa altura, em 2010, Passos garantia aos portugueses que "até ao final de 2011 estaremos a analisar a retirada destes impostos”. Coisa que até ao dia de hoje nunca aconteceu, antes pelo contrário.
Entretanto, o mundo mudou. Sócrates foi dançar o tango para Paris, Passos Coelho foi eleito primeiro-ministro e António José Seguro sentou-se na cadeira com que sempre sonhou no Largo do Rato. E agora é Passos Coelho que tenta convidar Seguro para uma dança a dois. E para quê? É verdade que um consenso facilitaria uma saída limpa do resgate. Mas a partir do momento em que António José Seguro secundou o Pacto Orçamental, a questão do travão ao défice e à dívida pública em termos práticos passou a ser acessória. No entanto, um entendimento com o PS permitiria a Passos reduzir a sua dependência do CDS em futuros actos eleitorais. Como se percebe com as revelações feitas por Vítor Gaspar no livro de Maria João Avillez e pela forma incómoda como Passos Coelho aborda o assunto, as relações entre o PSD e Paulo Portas estão longe de ser de amizade. Uma forma inteligente de “agarrar” o PS seria envolver o partido na comissão que está a preparar a reforma do IRS, de forma a permitir aos socialistas também aparecerem na fotografia do aliviar da austeridade em ano de eleições. O problema é que Paulo Portas já percebeu que, mais tarde ou mais cedo, arrisca-se a ficar a dançar sozinho e, como tal, já se agarrou e está a fazer campanha com a bandeira do IRS e já não há quem lha vá tirar.

 

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