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sábado, 22 de fevereiro de 2014

O 25 de Abril deu-nos democracia, e a democracia deu-nos 20 anos de Cavaco Silva Ricardo Araújo Pereira explica que Portugal está dominado pelas ramificações mais tenebrosas da "democracia". A democracia não trouxe apenas a "liberdade" dos bons, trouxe também a dos maus.

O 25 de Abril deu-nos democracia, e a democracia deu-nos 20 anos de Cavaco Silva


Ricardo Araújo Pereira explica que Portugal está dominado pelas ramificações mais tenebrosas da "democracia". A democracia não trouxe apenas a "liberdade" dos bons, trouxe também a dos maus. A  "liberdade" deles, que permite termos 20 anos de poder para uma figura como Cavaco Silva. E a nossa falta de liberdade, para punir e travar a ditadura. A nossa impotência de nos podermos defender de votos de pessoas ignorantes ou manipuladas, enganadas descaradamente pela comunicação social e pelos políticos.
Uma democracia de fachada que retirou ao povo, razões para lutar, pois camuflou a opressão. E anulou as ferramentas para o povo se defender ou ter o poder de fazer valer a sua vontade.

"O 25 de Abril deu-nos a liberdade e a democracia, e a democracia deu-nos 10 anos de Cavaco Silva como primeiro-ministro e outros 10 como Presidente da República.
Ainda assim, fazendo o balanço, creio que a data merece ser festejada. E, se puder ser festejada com um discurso de Cavaco Silva, melhor.

O actual Presidente da República é o homem que mais tempo liderou um Governo após o 25 de Abril, e por isso, de um certo ponto de vista, é o português que mais beneficiou com a revolução. Que seja ele a fazer o discurso comemorativo é questão de simples justiça.
Desta vez, Cavaco Silva voltou a dispensar o cravo vermelho na lapela, mas engalanou o peito com a via verde e fez um discurso inspirado no cinema clássico português e no moderno YouTube.
O tom era o mesmo que as tias de Vasco Santana adoptam, n' A Canção de Lisboa, depois de o verem passar com distinção no exame de medicina, quando dizem: "Ele até sabe o que é o esternocleidomastóideo!"
Cavaco Silva nutre o mesmo encanto pelo nosso país: Portugal chega a ter cineastas, artistas plásticos e cientistas que são conhecidos lá fora, e tudo. Os portugueses até sabem o que é o esternocleidomastóideo, e as nossas tias estão muito orgulhosas de nós.

Por outro lado, o conteúdo do discurso era decalcado daquele vídeo que uns patriotas briosos colocaram na internet para fazer ver aos finlandeses que deviam contribuir para a ajuda financeira a Portugal.
Tal como os autores do vídeo, Cavaco aludiu aos egrégios cartões pré-pagos para telemóvel e à ínclita via verde.
Como é possível andar para aí tudo cabisbaixo quando se sabe que foi um compatriota nosso que magicou os cartões pré-pagos para telemóvel?
Às vezes um grande estadista limita-se a apontar o óbvio para fazer germinar a esperança no coração do seu povo. Levantai-vos, desempregados! De pé, trabalhadores sem subsídio de férias nem 13.º mês! O inventor dos cartões pré-pagos para telemóvel nasceu mais ou menos na mesma zona que vós! Toca a animar, choramingas.

Talvez por falta de tempo, Cavaco deixou de fora a referência ao facto de os portugueses comerem todo o porco, que também prestigia, e omitiu a ideia, igualmente transmitida pelo vídeo, de que Portugal teria tido o seu próprio "Jean Jacques Cousteau". O rei D. Carlos teria sido, portanto, uma figura curiosa, mistura de Jacques Cousteau com Jean-Jacques Rousseau - ou seja, uma espécie de mergulhador-filósofo empenhado na missão de ir até ao fundo do mar para tentar convencer as lulas a firmarem um novo contrato social. Cavaco preferiu não cansar a assembleia com tanta informação, porque demasiado orgulho também cansa." 


Ricardo Araújo Pereira

apodrecetuga.blogspot.pt


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