Cidadania
"Assembleias populares são efémeras", dizem politólogos
As assembleias populares, a par de outros movimentos sociais e de contestação que têm surgido nos últimos anos, refletem a crise e o descontentamento dos cidadãos com os políticos, e são estruturas efémeras, defenderam politólogos, em declarações à Lusa.
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POLÍTICA
António Costa Pinto, professor no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, considera que estes movimentos cumprem um papel “bastante importante” porque “despertam para o ativismo cívico novos setores da sociedade”, mas são "relativamente efémeros".
Esta crise – da economia e também de confiança dos cidadãos nos partidos – trouxe “uma renovação e, simultaneamente, uma maior participação cívica”, defende. O politólogo lembra que “a taxa de conflituosidade social e de mobilização em Portugal, um país que se caracteriza por uma fraca mobilização social, subiu inegavelmente”.
Contudo, diz, estas “são estruturas relativamente efémeras”. Com o tempo, mudam de forma. São frequentemente “absorvidas” por outras: “Alguns destes ativistas vão entrar em partidos políticos ou criar estruturas organizativas mais estáveis. Muitas vezes, as conjunturas de crise dão origem ao nascimento de partidos políticos”.
“A história das democracias ilustra que, enquanto os partidos políticos e as estruturas sindicais são relativamente estáveis, porque vão criando a sua burocracia própria e as suas estruturas organizativas, este tipo de estruturas, relativamente efémeras, muitas vezes esgota-se com a causa que as fez nascer”, acrescenta.
Também para André Freire, docente do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, este fenómeno, que “traduz um sentimento geral de descontentamento com os partidos, um sentimento de uma representação deficiente”, vai “subsistir enquanto a crise subsistir, e subsistir este criticismo face aos partidos”.
O investigador salienta que este fenómeno "é uma novidade", mas lembra também que estes movimentos "não têm uma grande extensão no número de participantes" e "não abrangem todo o território".
A menos que estes movimentos decidam “jogar o jogo dos partidos” e institucionalizar-se. Isto, sublinha, “se querem ser perenes e ter influência plena, típica da democracia representativa, onde os partidos têm uma centralidade muito grande”.
Se não quiserem, terão, defende, “uma influência muito limitada”. A menos que, retoma, estabeleçam “alianças preferenciais com determinados partidos e a sua influência [se exerça] através dessa pressão”, ou que se crie uma “abertura institucional para uma espécie de concertação social alargada”, incluindo estes movimentos.
“Mas, no limite, quem quer dar cartas numa democracia representativa tem de jogar o jogo dos partidos”, conclui.
António Costa Pinto concorda e reforça: “Tendo em vista a conjuntura de crise em que estamos, esse tipo de mobilizações são, no geral, efémeras, a não ser quando, efetivamente, elas são institucionalizadas pelas estruturas do poder político, por exemplo, através de modelos de abertura de orçamento participativo, ou da constituição de assembleias consultivas ao nível do poder local”, diz.
“À esquerda do espetro político em Portugal existem organizações que têm uma grande capacidade de irem enquadrando, absorvendo, uma parte dessas estruturas associativas mais efémeras”, reconhece.
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