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Aviso prévio: gosto de ver um bom jogo de futebol, tenho preferência débil mas preferência pelo Benfica, provavelmente por causa da cor das camisolas. Se o Benfica joga mal acho muito bem que seja derrotado, se ganhar acho uma injustiça para a outra equipa. Fico indignado e muito inquieto quando percorro rapidamente os comentários doentios, quase dementes, que gente psicologicamente desequilibrada faz nos jornais desportivos on-line. É este o povo do meu país? Dito isto o mundo do futebol é estranho! Muito estranho!
Acabou o campeonato. O FC Porto é campeão. A alegria de uns, a tristeza de outros. Fúrias clubísticas que se exacerbaram oito dias atrás. Fúrias clubísticas de adeptos que tem o emblema do seu clube no coração. O seu clube que é uma empresa falida, algumas com hipóteses de recuperação impossíveis ou quase impossíveis como o Sporting CP, que continua a obter crédito da banca que não abre os cordões à bolsa com a mesma facilidade às pequenas e médias empresas. Falidas apesar dos milhões que a sua marca movimenta, como o S L Benfica muito à frente de todos os outros mas tal como os outros com uma dívida colossal que as receitas estão longe de equilibrar mesmo com vendas bem lucrativas de jogadores. Clubes que pagam salários milionários a jogadores, por causa do pouco tempo de vida útil. Aos treinadores muitas vezes não se sabe bem porquê. Têm dirigentes principescamente remunerados, directa e indirectamente, com prémios monetários mesmo quando os resultados da equipa não são famosos como no FC Porto. Que têm jogadores seus emprestados aos meus diversos clubes, o S L Benfica e o FC Porto lideram com grande avanço essa lista reduzida, o que de uma maneira ou de outra acaba por influenciar embates entre essas equipas e aquelas onde militam os emprestados. Um mundo que se movimenta entre acusações de todo o jaez com o maior à vontade apesar de escutas telefónicas, que acabam por não servir para nada, mostrarem a sua face mais negra. Que ocupa tempos televisivos extensíssimos com banalidades de todo o género. Que, num país com alta taxa de iliteracia, tem três jornais diários cheios de frases feitas. Um mundo de equipas tecnicamente falidas apesar dos apoios do Estado, perdões fiscais, terrenos das câmaras, bombas de gasolina para explorar, licenças disto e de mais aquilo e continua a pagar salários ainda mais obscenos com a crise que o país atravessa. Enquanto outras equipas continuam a jogar com salários em atraso aos seus jogadores e equipas técnicas. Sem cumprirem as suas obrigações fiscais. Um mundo impune e pestilento.
Continuam os adeptos com o emblema do seu clube gravado no coração, festejando em largos folguedos vitórias e campeonatos enquanto os outros arrepelam-se, choram e sangram derrotas e troféus perdidos como se jogadores, equipas técnicas, mesmo dirigentes ardessem em campo, comessem a relva por amor à camisola. Não ardem, nem comem relva, são máquinas de contar dinheiro. de fazer negócios, alguns estranhíssimos, quase incompreensíveis. Como se cada golo não valesse mais que um golo, não fosse um saco cheio de euros que entra na contabilidade dessas empresas desses espectáculos, muitas vezes com traços de violência no campo e nas bancadas. Muitas dessas pessoas que estão a comemorar, que arrepela os cabelos pela derrota na última jornada, ou já estava a viver no limbo de nada ter para se alegrar, vive neste momento com enormes dificuldades, enfrenta situações de vida no limite da sobrevivência e não se dana com os gastos obscenos do seu clube. Com os dinheiros que também lhe saem do bolso para alimentar essas máquinas de espectáculos e diversão.
Estranho planeta do futebol que continua a gravitar opacamente em volta de Portugal, movimentando milhões geridos por empresas tecnicamente falidas que continuam a obter crédito e ter benesses escandalosas num Portugal garrotado por um governo iníquo, esmagado por uma troika de incompetentes. Planeta em que a austeridade é desconhecida e o dinheiro aparece nem se sabe bem como.

Praça do Bocage