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domingo, 19 de maio de 2013



Andanças e trabalhos da creada Damiana.

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GOVERNO DO DISTRICTO DA HUILLA
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Confidencial Nº 9
 

 
 

 
Sá da Bandeira, 31 de agosto de 1911

 

Ao Snr. Governador-geral da provincia de Angola.

 

Loanda.

Do governador do districto.

 

O capitão medico Sezinando Bebiano Arnedo Peres, em data que não posso precisar, trouxe de Cabo Verde como serviçal, uma preta de nome Damiana.
Esta preta não acompanhou o referido capitão medico na sua retirada agora para essa cidade e ficou na Chibia.
Informando-me das circumstancias em que ella alli se encontrava, apurei que desde outubro de 1910 que deixára o serviço do referido capitão medico, declarando o administrador da circumscrição que por ser vadia.
Pedindo o termo de apresentação ou contracto de curadoria d’esta villa e na da Chibia, nada se encontra, nem tão pouco referencia alguma ao facto da vadiagem.
N’estes termos resolvi mandar chamar a preta Damiana para eu próprio ouvir e declarou-me:
“que ha anos que não sabe quantos, estava em Cabo Verde como creada em casa d’um sargento Rufino, que fazia serviço no quartel general, e que era encarregada de vender doces pela rua. Que um preto seu patricio a encontrou e lhe perguntou se queria vir para Loanda, para creada de meninos d’um doutor e que o seu contracto era por um ano e que só tinha de comer, vestir e as passagens. Aceitou o convite e foi com o preto a uma casa onde encontrou o Dr. Peres que lhe perguntou se queria vir ao que respondeu affirmativamente e um outro sujeito lhe perguntou o nome. Embarcou e veio depois para aqui.
O anno passado a senhora do Dr. Peres começou tendo ciumes della com o patrão e assim quando ella Damiana  estava a calçar as botas aos meninos, se o patrão a vinha a ensinar, a senhora zangava-se e dizia que o Dr. Peres gostava mais d’ella que da senhora e em outras occasiões se estava em qualquer casa só com o patrão e a senhora ouvia qualquer conversa vinha logo zangada e fazia muito barulho. Que ás vezes sucedia estar no jardim da delegação de saude e passar algum soldado seu patricio, com quem conversava e a senhora zangava-se tambem e começava a chamar-lhe vadia e por fim mandou-a para a Chibia, para casa d’uma irmã D. Miquelina Black. Que alli se conservou portando-se sempre bem até que ha mezes, um individuo de nome Manoel Jose Pedro a convidou a ir a casa d’elle e ella foi, mas a D. Miquelina deu pela sua falta e zangou-se. Que está gravida de 4 I/2 meses e é do Manoel Pedro.”.
N’estes termos venho rogar a V. Exª se digne informar-me do destino a dar à preta Damiana ou se a devo deixar na sua situação actual como amante do Manoel Pedro, que por minha ordem tem o deposito provisório da serviçal referida.

 

O governador.


(a)  Felner

Malomil

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