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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012


ERA UMA VEZ UM QUARTO



NALDOVELHO
        
Era uma vez um quarto e dentro dele, na cabeceira da cama, uma mesa. Em cima da mesa uma jarra e um copo, cheios d’água. 

E assim viviam eles, tranquilos e integrados, como se tivessem sido feitos uns para o outro: na jarra e no copo, água!

Foi num dia qualquer de maio, alguém desastrado passava e ao esbarrar na mesa os derrubou.

O copo e a jarra pelo chão aos cacos, e a água no tapete, derramada!

Era uma vez a poeira, que pelas frestas da janela invadiu o quarto e do tapete encharcado como uma intrusa se apropriou.

E a água, antes concubina do copo e da jarra, agora no tapete, assim, entranhada, à poeira se amasiou. 

Dessa estranha promiscuidade surgiu um filho bastardo que alguém por pura ironia, de mofo batizou.

E foi nesse cenário tristonho que a água, antes cristalina, refrescante e faceira, em umidade se transformou.

E junto ao tapete, à poeira, ao mofo, à jarra e ao copo, hoje em cacos espalhados pelo quarto, foi o que restou!

Vez por outra passo por lá desconsolado, pois o que encontro é um cenário tristonho, de cama ainda desfeita, lençóis sujos pelo chão espalhados, travesseiro empoeirado, num canto jogado, um horror!

Certa feita tão descuidado, em dia de chuva, apressado, com os pés sujos de lama, mais tristeza ao quarto eu levei.

Acho que quase um ano se passou, quando num dia qualquer de setembro, a porta se abriu e no quarto, alguém diferente entrou. Olhou para o cenário e chorou!

Abriu a janela depressa para o sol poder tomar conta, varreu a poeira e os cacos, tirou do tapete o mofo, e nos livrou da lama no quarto. Trocou travesseiros e lençóis, depois se aconchegou em paz no silêncio que agora reinava e feliz, realizada, deitou e descansou.

Foi num dia qualquer de novembro, ao certo, já não me lembro! Curioso fui ver como estava o quarto e dentro dele não mais encontrei a solidão.

Encontrei cama arrumada e na cabeceira da cama uma mesa, e em cima da mesa uma jarra e um copo, e dentro deles: água limpa, fresca e cristalina.

Olhei pela janela e lá fora, perdidos: a lama e a poeira.

Dizem que o mofo, coitado! Pelo sol ferido de morte, não resistiu e morreu.

Seus sapatos? Favor deixe na porta, é para manter limpo o ambiente, preservar puro o meu interior.

Era uma vez um quarto e nele, hoje, habita o meu amor.

O Bardo das sombras

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