Pequenos nadas
29SábadoDez 2012
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Ela é única… por certo.
Nunca a tinha visto antes e, no entanto, tudo nela me atrai. A fisionomia é perfeita, angelical, rara; cabelos de ouro, olhos verdes, pele branca, quase translúcida. O andar é de gata. O corpo é genial e belo, como belas são as flores que despontam pelos campos anunciando, com suas cores e formas harmoniosas, a chegada da festa da vida.
Daí o espanto e o encanto que tanta beleza causa em mim. Ela é bela, sim, muito bela mesmo, de uma beleza modelar. Talvez seja doce também, conjecturo, tão doce como os doces desta quadra.
- Ah! Como me entontece e me seduz.
“Só os olhos a procuram, a contemplam”. Não sei se digo o que vejo ou se tudo não é fruto da minha imaginação delirante, rica, transgressora, que desvirtua e deslumbra o olhar.
Volto a contemplá-la para ter a certeza do que vejo. Lá está ela, imóvel e indiferente a quem a vê, mais pura que a neve branca em dias de invernia. Porém, essa brancura também queima, num arder silencioso, “num fogo que ninguém vê”. Só os poetas a vêem!
O devaneio transforma a vida, transfigura o real, eu sei. Mas… que hei-de fazer. Eu prefiro o mundo da fantasia, do divertimento, de tornar cada dia numa festa fictícia – como acontece às crianças – na procura incessante de momentos inigualáveis, felizes, do que me banhar nas águas “frias” da realidade.
Há um outro lado da vida…. impossível de alcançar, dirão uns, apetecível, digo eu.
Talvez esta mulher não exista. Que importa. Fica o prazer fantástico de a imaginar. A vida também é feita destes “pequenos nadas”.
Praça do Bocage
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