Bons e Velhos Tempos: Buster Keaton
Buster Keaton foi um grande artista da era do cinema mudo.
Contemporâneo de Harold Lloyd e Chaplin, alguns adentram na discussão de quem seria o melhor. Para mim, é como comparar “apples & oranges”, mas confesso uma predileção ao homem que nunca sorri.
Sua característica mais marcante é a expressão facial – ou, melhor dizendo, a falta dela – tendo sido apelidado de “The Great Stone Face”.
Sua genialidade pode ser observada nas incríveis cenas acrobáticas que realizava sem a ajuda de dublês, bem como pelo uso adequado dos elaborados cenários e locações, o que permitia incríveis efeitos visuais em plena década de 1920. O maior efeito especial, no entanto, era o próprio Keaton.
Não é apenas a sua genial obra que é digna de análise. Sua história é a exemplificação de que grande parte das coisas na vida – senão todas – são efêmeras e que, apesar disso, é preciso continuar a fazer o que se faz de melhor. No caso de Buster Keaton, o melhor era saber fazer rir.
Campeão mundial de poker
Começou sua carreira nos filmes de Fatty Arbuckle de quem era grande amigo. Logo montou o próprio estúdio e passou a dirigir e atuar seus próprios filmes.
A obra de Keaton é marcada pela sua estrondosa habilidade acrobática aliada a um pensamento vanguardista de se fazer cinema. Foi um dos primeiros artistas a investir em diferentes e arriscadas técnicas de filmagem e seqüências. É dele a memorável cena em que a parede de uma casa a cai deixando-o intacto devido a um vão da janela (o cenário pesava meia tonelada e toda a equipe fechou os olhos na hora com medo do Buster ser esmagado).
Estou cantarolando essa musiquinha
Sherlock Jr. (1924) é um de seus filmes mais engraçados. Possui cenas memoráveis para a história do cinema, como a cena em que Keaton entra (literalmente) na tela do filme que está sendo exibido e passa a interagir com a história.
Esse filme tem ainda uma seqüência que é o exemplo perfeito do tipo de humor que o artista imprimia em suas obras com desordem, confusão e técnica de câmera rápida.
Buster Keaton tinha o ímpeto de tentar coisas novas, aprimorar sua técnica e atuação. Essa visão diferenciada que tinha em relação à produção cinematográfica fez com que fosse produzida uma das grandes obras-primas do cinema: The General (1926).
Ok... é só um vagão e não a locomotiva inteira.
Keaton era perfeccionista e se empenhou para que The General tivesse a qualidade que tem. No entanto, o filme foi um fracasso nas bilheterias. O público e a crítica não parecem ter compreendido o vanguardismo do ator que tentou imprimir na obra uma história além dos padrões dos pastelões da época.
Em 1928, devido a dificuldades financeiras, Keaton vendeu seu estúdio para a MGM, tornando-se assalariado desta. Foi o início de seu declínio, pois o ator não mais tinha a liberdade artística de antes e o novo estúdio o obrigava a deixar que um dublê realizasse as cenas mais perigosas.
Além disso, começou a ascensão do cinema falado e Keaton deveria começar a produzir novos filmes no novo formato. Até então, tudo bem. Ocorre que os atores tinham que gravar a mesma cena em três idiomas diferentes e, convenhamos, não há espontaneidade e talento que possa resistir a isso.
Mas como
uma merda um infortúnio na vida sempre atrai outro, em 1932, a mulher de Keaton pediu divórcio levando boa parte de sua fortuna. Como se não bastasse, ela ainda retirou o sobrenome do ator de seus dois filhos e o impedia de manter contato com os meninos.
É a vida te derrubando, amigo.
A verdade é que Keaton nunca se adaptou ao cinema falado, tendo que se sujeitar a produções ruins para continuar na ativa. Em decorrência dos fracassos de bilheteria e dos problemas com o alcoolismo, foi demitido do estúdio MGM.
Em 1940, após mais um casamento/divórcio que tomou boa parte de sua fortuna, Keaton se casou comEleonor Norris, com quem ficou atéo fim da vida. Eleonor o ajudou na batalha contra o alcoolismo, foi o recomeço do homem que sempre caiu e soube se levantar.
O genuíno “Glory Hole”
Durante os anos 1950’s, Keaton estrelou um famoso programa de TV: The Buster Keaton Show, e em 1957 sua trajetória foi tema do filme “The Buster Keaton Story”, dirigido por Sidney Sheldon . Recebeu umOscar honorário em 1959 pelo seu talento único e comédias inesquecíveis.
Em 1966, Keaton faleceu em decorrência de câncer no pulmão.
O fim chega para todos, afinal.
Acho uma pena Keaton não ser tão conhecido pelas novas gerações. Keaton foi mais do que isso que eu tentei mostrar na coluna de hoje. O que se observa em seus filmes é sempre um personagem obstinado que, apesar de miúdo (1,68 m) é capaz de fazer qualquer coisa para atingir o que quer. Ele cai, levanta, é derrubado de novo, mas nunca desiste. Era uma espécie de herói para mim, garoto franzino.
Keaton não chega a interpretar o mais carismático dos personagens, já que este nunca sorri ou chora. Mas acontece algo inusitado, o espectador se envolve por aquele solitário homem inexpressivo. Inexpressivo? Mentira. Os grandes olhos de Buster Keaton mostram tudo o que deveriam mostrar. É a prova de que não é preciso exagerar nas expressões faciais, nem falar para dizer muito.
Obrigado, Keaton, por me fazer gargalhar tantas vezes!
Afinal, ele também gargalhava.
lol, he he he
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