ai que rico cheirinho a igreja!...
Valha-me Santo Eucarário, eis o regresso da Velha Senhora em toda a sua glória, de crepes negros, vestido negro, véu negro, chapelito negro no alto do cocuruto e punhetes de renda negra nas mãos cavernosas. A cheirar a naftalina e, claro, a incenso, que o ouro mirra cada vez mais à pala do Gaspar. Ai que rico cheirinho a igreja, está-me a dar cá uma filoxera de ir à dos Mártires em pranto pelos portugueses todos!
Todo este aranzel vem à colação de uma nova que li hoje, que lá para as bandas de Braga, a Roma de Portugal onde convivem santos e arcanjos numa eterna ceia de cardeais, bispos e arcebispos, um funcionário do Santander impediu a entrada de um cliente na dependência por estar ... mal vestido.
Agora me lembro, há muito que não vejo aquela plaquita que tanto me envergonhava em piqueno (reparem como escrevo piqueno, que isto de reencontrar a Velha Senhora tem destas finesses), de tão mal vestido que andava, a roupa pingona, os sapatos cambados: RESERVADO O DIREITO DE ADMISSÃO.
Proponho que o Totta, Santander em segundas e auspiciosas núpcias, a coloque à porta dos seus estabelecimentos. Assim, já não há quiproquós. Toda a gente sabe, e quem não sabe devia saber, que os bancos são para os ricos alaparem os traseiros onde não há almorróida que se não cure. É lá que encontram juros baratos (juros altos só para os pobres, o risco de incumprimento é elevado). Os pobres pagam despesas de manutenção, porque as somas que lá têm só dão incómodos e chatices. Os ricos não. Os pobres pagam a crise. Os ricos não. Os ricos comem. Os pobres comem pela medida grande. Os banqueiros têm que ser ajudados pelo Estado. Os pobres não. Os banqueiros vivem da rapacidade. Os pobres da caridade, essa imaculada prática que regressou com o regresso da Velha Senhora, abençoada seja que tanta falta nos fez de setenta e quatro para cá.
Oremos, irmãos. A igreja está toda iluminada. Deve ser Natal.
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Quatro almas
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