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terça-feira, 20 de novembro de 2012


Bordoada


Não vi as imagens da carga policial nas escadarias de São Bento, mas quando ouvi as palavras de indignação de Cavaco Silva fiquei logo a matutar que “aqui há gato”, da última vez que lhe ouvi a voz trémula foi aquando do famoso caso das escutas e sabe-se como foi.
   
Comecei a informar-me melhor e consegui construir uma imagem mental do que sucedeu. De um lado estavam 20 polícias mal equipados, vinham de t-shirt porque tinha estado a jogar uma futebolada quando ao passarem por São Bento repararam na manifestação e foram em socorro dos dois soldados da GNR que fazem de guarda de honra. De um lado vinte jovens polícias mal equipados, do outro centenas de energúmenos, bandidos cadastrados do pior que por aí há, marginais das claques, tudo gente que só de passar do outro lado do passeio se sente o mau cheiro.
  
De um lado uns quantos polícias indefesos, do outro um batalhão de marginais armados até aos dentes, imagine-se que a polícia até conseguiu ver que os bandidos armados estavam na posse de cocktails Molotov, essa versão portátil dos mísseis katyusha. Imagine-se o prejuízo que seria se algum desses bandidos se lembrasse de disparar um desses poderosos cocktails a um dos leões, rebentava o bicho em bocadinhos e ficamos com um leão viúvo à entrada do parlamento.
 
Mas graças a Deus que temos um ministro com eles no sítio, não será bem assim pois pela forma como pensa o eles são os neurónios e o sítio é mesmo o do costume, pois informado da presença dos perigosos mísseis nas mãos dos bandidos o nosso ministro deu ordens para iniciar a batalha. Até porque dinheiro não falta, em dois anos sucessivos o único ministério que conseguiu condoer o Gaspar foi o da Administração Interna e até teve aumentos nas despesas, porque um desempregado se não comer um bife come uma açorda que até é coisa fina, mas um bandido capaz de rebentar com um leão paramentar tem mesmo de custar bordoada e, como se sabe, o preço da bordoada está pelos olhos da cara.
  
O problema é que os bandidos não são burros e quando a polícia decidiu agir, depois de horas a apanharem pedradas na cornadura, o pessoal dos mísseis retirou. A polícia essa até agradeceu, sem terem de enfrentar bandidos foi mais fácil cumprir o desígnio nacional de dar bordoada no povo, sim porque isso de ser povo não serve apenas para comer bifes.

O jumento

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