AVISO

OS COMENTÁRIOS, E AS PUBLICAÇÕES DE OUTROS
NÃO REFLETEM NECESSARIAMENTE A OPINIÃO DO ADMINISTRADOR DO "Pó do tempo"

Este blogue está aberto à participação de todos.


Não haverá censura aos textos mas carecerá
obviamente, da minha aprovação que depende
da actualidade do artigo, do tema abordado, da minha disponibilidade, e desde que não
contrarie a matriz do blogue.

Os comentários são inseridos automaticamente
com a excepção dos que o sistema considere como
SPAM, sem moderação e sem censura.

Serão excluídos os comentários que façam
a apologia do racismo, xenofobia, homofobia
ou do fascismo/nazismo.

sábado, 17 de novembro de 2012


Doces Conventuais

Será aqui o espaço que irei começar a desenvolver sobre doces conventuais.
Para os leitores que gostarem de participar, por favor deixem o vosso comentário ou artigo no final desta página.

Alcobaça, Mosteiro
dsc00498
dsc00518

Gastronomia e doçaria em Alcobaça, segundo mapa do concelho:
dsc00713

Introdução
Este tema irá revelar a história dos doces conventuais enquanto enquadramento Histórico-Gastronómico. Quer isto dizer que pretendo avivar de quão importante é esta doçaria, para reconhecermos hoje o legado que os nossos conventos e a nossa gastronomia nos proporcionam nos nossos dias. O desvendar do saber e prática antigos irá revelar mais do que um simples modo de vida. Será mais uma das muitas descobertas do século xv que levou os portugueses à busca de novos caminhos e, com isso, à chegada da rota do açúcar e especiarias do Oriente e do Brasil.
Doçaria conventual: abordagem Histórico-Gastronómica
O açúcar como produto alimentar precioso do século xvi
Trazido do Médio Oriente em meados do século xi, o açúcar veio conhecer o seu apogeu a partir do século xv em Portugal. Primeiramente, tendo a sua venda restrita só em boticários (daí que se falasse popularmente “é como um boticário sem açúcar”), este produto medicinal de reputação e virtudes raras sempre estigmatizou certos médicos e moralistas. No entanto, em Portugal, raros foram os protestos contra esta culpabilização paranóica do açúcar como “destruidor da vida amorosa” ou de “afecto ausente”. Deste modo, rapidamente se deu o seu sucesso entre os reis e gente dotada de grande riqueza. E foi assim, instituindo-se nos conventos como forma de se redimirem dos seus sinceros pecados e/ou de os reciclar, que se convencionou que seria necessário pernoitar aquando de longas viagens ou peregrinações. À medida que se foi dando a consolidação das fronteiras, deu-se um crescimento destas “grandes fábricas de almas” e, deste modo, a facilidade em que estes mosteiros foram erigidos para determinar o domínio da Fé, mandaram-se fazer grandes banquetes e festas em prol de refeições dignas e de forma a poder dar uma continuidade monástica e familiar. A agregação à determinação divina fez com que recorrentemente se juntassem mesmo para festejar os mais diversos eventos: festas de aniversário do rei, rainha, princesas, etc. Assim, quanto mais se rezava mais se comia e mais entusiasmo se gerava à volta da mesa. Desta forma, as boas esmolas deixadas nestes banquetes permitiram um maior alcance de alimentos diferentes e raros. A boa cozinha teve tudo para vingar nos mosteiros e daí o seu alastramento por todo o país.
A entrada das mulheres nos conventos
Muitas foram as mulheres que sofreram na pele, como forma de pagamento ao Senhor, a absolvição dos pecados familiares, pela sua entrega à Fé e ao recolhimento espiritual. Quer isto dizer que muitas famílias confiavam um membro da sua família por um benefício espiritual. No entanto, muitos foram os casos escandalosos de famílias ricas que mandaram para os conventos as suas segundas filhas ou as que não casavam até determinada idade. Desta forma, a entrada na casa religiosa era precedida de uma doação exclusivamente para subsistir e habitar no convento. Desta forma, os conventos não eram em nada paupérrimos. Antes pelo contrátrio, avolumavam grandes quantias de capitais quer por doações eternas, heranças, quer de bens alimentares ou de familiares que entregassem os seus entes queridos e a sua consequente mensalidade. De qualquer das maneiras, a entrada para os conventos era mais uma forma de fugir ao maldizer da sociedade, quer fossem romances com maus finais, complicações na vida leiga, viuvez, etc. Assim, rapidamente foi crescendo nos mosteiros uma grande população de monjas.
O excesso das romarias A saudável situação económica que os mosteiros passaram a viver levou a que se fizessem grandes excessos. Nomeadamente, um tempo de relaxamento para uma vida de castidade dando azo a uma vida virada para a gulodice, afastando-se dos princípios pimordiais de Fé e oração. Desta forma, as noviças passaram a viver nos mosteiros com uma grande liberdade e uma vida boémia o que muitas vezes incitou a relações escandalosas dentro dos próprios conventos. Por isso, a partir de 1791, D. Maria i tomou medidas moralizadoras, pela proibição de se aceitarem mais freiras noviças até nova alteração.
Doçaria conventual: abordagem Histórico- Gastronómica
A Doçaria nos banquetes e festas
A quantidade de refeições que os mosteiros passaram a proporcionar aos seus hóspedes fez com que, acima de tudo, se tomasse o gosto por refeições prolongadas e luxuosas. A partir de então, cada vez mais o empenho das noviças em preparar hábitos refinados e exigentes passou a servir de troca em forma de grandes esmolas, conseguindo assim aumentar a necessidade para a transacção lucrativa. Desta forma, começou a desenvolver-se um ambiente propício ao prazer da mesa e uma necessidade crescente de as freiras ficarem reconhecidas pelos seus grandes dotes culinários e conseguirem com isso aumentar também o prestígio do mosteiro. Assim, começaram a surgir alguns mosteiros que se destacarm, nomeadamente o Convento do Paraíso, em Èvora.
Doçaria conventual: abordagem Histórico-Gastronómica
Convento do Paraíso
convento-de-n-s-do-paraiso.jpg
(foto antiga do mosteiro , agora destruído)
Fundado em 1450 por dominicanas, devido ao sistema de emparadamento de três irmãs nobres de apelido Galvoas, este convento passou à terceira Ordem de S. Domingos em 1499. Um grande benemérito desta casa foi D. Álvaro da Costa, conselheiro do rei D. Manuel.
Doçaria conventual: abordagem Histórico-Gastronómica
nossa-senhora-do-paraiso.jpg
(Imagem da escultura oferecida)
O nome do convento advém de uma oferta de uma escultura da virgem, por uma dama eborense, de nome: D. Isabel Afonso. Foi uma das últimas casas monásticas, tendo sido fechada em Novembro de 1897, depois da morte da sua prioresa, soror Maria Isabel do Coração de Jesus.
Receita do Convento
Bolo real do Paraíso
bolo-real-do-paraiso.jpg
(Esta receita pertence ao receituário do Convento do Paraíso de Èvora)

Doçaria conventual: abordagem histórico gastronómica
Existem várias receitas deste bolo, sendo esta uma delas.
Ponha 500gr. de açúcar em ponto de cabelo e retire do lume para juntar a 250 gr. de amêndoas raladas. Junte 15 gemas de ovos, sendo 5 com claras. Leve a mistura ao lume até fazer castelo pequeno. Retire do lume e misture 200 gr. de pão ralado. Trabalhe esta mistura e junte a canela. Unte uma forma com manteiga, polvilhe com farinha e deite a “espécie” que não deverá chegar até às bordas da forma. Leve ao forno em lume brando.
Crítica:
Apesar da dificuldade de execução, pois exige um grande controlo dos tempos e temperaturas certas de cozedura, este doce parece surpreendente. A sua aplicação varia entra 2 a 3 receitas diferentes com os mesmos ingredientes, se seguirmos diferentes temperaturas, o que demonstra a diversividade de confecção.
Alguns pormenores a ter em conta são bater enérgicamente com as varas até fazer o castelo pequeno e não deixar cozer muito a “gemada”. Quanto ao final, a degustação é óptima. A boa ligação da tríade gemas-amêndoa-pão ralado é fantástica.
Delici"arte"

Sem comentários: