Fernando Pessoa (…) adoecera à três dias e recolheu a uma casa de saúde, onde morreu anteontem em silêncio, como sempre viveu, fugindo à publicidade e afogando-se na morte discretamente, tal como passara na vida.
Diário de Lisboa, 2/12/1935
A sua passagem pela vida foi um rasto de luz e de originalidade. Do fundo da sua tertúlia, a uma mesa do Martinho da Arcada, era sempre o mais novo de todos os novos que em volta dele se sentavam. Desconcertante, profundamente original e estruturalmente verdadeiro, a sua personalidade era vária como vário o rumo da sua vida. Tudo nele era inesperado. Desde a sua vida, até aos seus poemas, até à sua morte. Inesperadamente, como se se anunciasse um livro, correu a notícia da sua morte. Se morreu, se a matéria abandonou o corpo, o seu espírito não abandonará nunca o coração e o cérebro dos que o amavam e admiravam.
Diário de Notícias (Lisboa), 3/12/1935
Quis ser original e, de certo modo, conseguiu-o no Orfeu. Quis ser perfeito e alcançou-o na Mensagem.
Diário da Manhã (Lisboa), 3/12/1935
Fernando Pessoa, um dos mais gentis espíritos que nos foi dado conhecer, faleceu. Era poeta, e não um fazedor de versos, dos muitos que enxameiam por aí, pejando as montras das livrarias.
A República (Lisboa), 3/12/1935
Fernando Pessoa, desde muito novo, entregou-se às letras, mas nunca viveu delas, visto que da literatura pouca gente tem vivido em Portugal.
Diário do Minho (Braga), 3/12/1935
Morreu Fernando Pessoa. Caíra já a noite. A véspera do 1.º de Dezembro estivera duma beleza gloriosa e o sol descansava agora para cantar ainda mais alto, no dia seguinte, o seu louvor à terra portuguesa.
Avante (Lisboa, jornal do Partido Comunista Português), 16/12/1935

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