Etiópia, a última ceia
Aperta-me as mãos, estão geladas
ainda que não as sintas, aperta-mas,
são elas que carregam o pão, da última ceia
deste ventre inchado, onde as moscas acasalam
na aresta da lágrima que desenha os meus olhos.
A vida escoa-se, a viagem dilata-se
entre a correria apressada dos corpos
onde os oceanos são feitos de terra amarelecida
e os glaciares infaustos, aperta-me as mãos
antes que o sol se ponha e nos vista de medo.
Mãe negra,
é breve o teu lamento…ouço-as, gritam,
num círculo fechado, na cartilagem das sílabas
escritas, vendadas pelo sangue frio
que carregas nas mãos, a fome.
Conceição Bernardino
Blog Amanhecer & Palavras ousadas
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