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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011


2011, o último ano de Abril?

2011 Será, muito provavelmente, o último ano de Abril, um ano em que os portugueses ainda viveram no quadro constitucional que saiu do fim do fascismo e em que beneficiaram dos direitos que a ditadura lhes recusou. O país está sujeito a uma orgia de uma direita que pratica tiro com tudo o que cheire a direitos, em vez de reverem a constituição optaram por se aproveitar do apoio da troika para destruir tudo à margem da Constituição.

Há quem queira fazer crer que é a troika que está a governar o país e tudo o que se vai decidindo é considerada a consequência da perda da soberania, o povo está a pagar por ter ousado ter direitos, a esquerda está encostada à parede com a falsa acusação da responsabilidade por uma bancarrota desejada pela direita. Mas isso não é verdade, o país já teve de recorrer à ajuda internacional por duas vezes e nunca foi se registou a reengenharia social que agora está a ser imposta, uma verdadeira pilhagem ao Estado e ao bolso dos pobres para dar aos ricos.

Resta ao povo dizer não, as instituições não funcionam e o sistema partidário faliu por falta de qualidade dos seus líderes. O Ministério Público destruiu a sua credibilidade com processos inúteis e parece que os seus magistrados estão mais apostados em defender a sua situação confortável do que com o país, o Presidente da República parece estar condicionado por pressões e deixa-se manietar pelo governo, o líder da oposição parece mais apostado na gestão da sua imagem e em livrar-se da sombra do Sócrates do que com a defesa dos direitos dos portugueses ou da história e valores do seu próprio partido. Até o PCP e o BE parece estarem anestesiados, talvez a consciência pese a líderes que durante anos tudo fizeram para levar a direita ao poder.

Talvez o povo seja brando como defendia Salazar e quase toda a gente diz em surdina, talvez os milhares de portugueses que já rangem os dentes contenham a sua raiva, talvez os militares não se queiram substituir às instituições democráticas, talvez os polícias estejam dispostos a reprimir os portugueses a troco de gorjetas, talvez a revolta cponsiga se contida por medo, por bom sendo ou mesmo por brandura. Mas talvez seja esse o maior risco do governo.

A agenda da direita é antiga e nada tem que ver com a troika, não são as instituições internacionais que estão a impor a medidas mais duras, é o governo português que as sugere. Muito do que vai ser aplicado resulta da concepção do Gaspar e é anterior a qualquer crise financeira, a receita que a direita está a aplicar é a que os seus extremistas defendem à muito, nada tem que ver com o pedido de ajuda ou com o memorando com as instituições internacionais.

Beneficiando da brandura de António José Seguro, do terror imposto à sociedade, da ausência de constituição por falta de quem a defenda ou faça cumprir a direita está a adoptar um programa que provavelmente tem muitos anos nos papers do Gaspar. O empobrecimento do país, a desvalorização da intelectualidade, a aposta num modelo económico assente em miséria e mão-de-obra não qualificada, a aposta num SNS low cost, a eliminação de direitos laborais, o aumento forçado da produtividade à custa da escravização dos trabalhadores, a imposição de normas laborais sem qualquer concertação social, nada disto estava no memorando assinado com a troika ou foi uma exigência desta. Portugal tinha um memorando assinado por um governo de esquerda, agora tem um programa de direita que até surpreende a troika que por mais de uma vez já veio a público ilibar-se de responsabilidades nas opções governamentais.

Se os portugueses forem mesmo brandos e os responsáveis pelas instituições continuarem a ser cobardes 2011 terá sido mesmo o último ano de Abril. Mas os portugueses poderão ser menos brandos do que parecem e lutarem pelos seus direitos, o Presidente da República pode enviar as leias abusivas ao Tribunal Constitucional e os juízes deste tribunal podem dizer não ao golpe de estado apoiado na troika. Até pode ser que o Seguro perceba que não é líder do PS para se livrar do Sócrates mas sim do governo da direita.

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