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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

toda a liberdade tem fome



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Fotografia de Jacques Henri Lartigue


Esse animal dentro de mim quer. Devoro sem nenhuma lucidez, sem cansaço, sem achar o fim. Não consigo mais deixá-lo esprimido dentro das minhas limitações absurdas, lambendo a minha pseudo ingenuidade.

Ele chega arrancando as asas, arranhando as auréolas alheias, comendo a carne, roendo os ossos e o depois dos ossos, sujando tudo ao redor com uma voracidade tão cheia de delicadeza.

Acaricio a besta, a fera, o predador - habitante de minha impaciência, enquanto desobedeço os bons costumes.Ah! Sou tão incompleta! Preciso tanto dele para trazer essas coisas, essas tolas verdades momentâneas que apenas o outro sabe dizer em total loucura ou inexatidão.

Deito na cama e o sangue dele entra nas minhas veias numa transfusão de vida incandescente e perpétua. Toda liberdade tem fome. Tudo isso tem nome. Porém, não é para ninguém pronunciar.Ainda.




Karla Bardanza


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