Carta de António Capucho ao PSD Cascais
21 de Abril, 2011
A carta foi escrita a 13 de Abril e enviada por email. Começa por contar o telefonema de Passos Coelho, na véspera. Caros amigos e Companheiros,
Tenho a obrigação moral e política de transmitir o seguinte ao Presidente e Vice-Presidentes do PSD-Cascais, ao Presidente da Câmara e aos Vereadores do PSD.
Fui ontem perguntado telefonicamente pelo Presidente do PSD sobre a minha disponibilidade para encabeçar uma lista à Assembleia da República e ser proposto para uma Vice-Presidência deste órgão de soberania.
Acrescentou que seria ele a encabeçar a candidatura ao Conselho de Estado, eventualmente Pinto Balsemão seria o segundo e depois se veria a possibilidade de me acrescentar à lista. Neste âmbito, referi-lhe a minha plena concordância com tais opções e que não levanto qualquer problema se ficar de fora, designadamente se o PSD tiver outra situação para acolher, seja a Manuela Ferreira Leite, o Luís Marques Mendes, ou outra personalidade de projecção equivalente.
Quanto à Assembleia, recusei liminarmente apresentar-me às eleições se não tivesse subjacente a candidatura à respectiva Presidência, salvo se fosse entendido que um dos militantes que antes referi seria mais apropriado para o efeito. Mas não poderia aceitar ser Vice-Presidente de Fernando Nobre por uma questão de coerência. Se o Partido deseja a minha candidatura ao Parlamento não pode ignorar - desculpem a imodéstia - que fui Vice-Presidente do Parlamento Europeu, Ministro dos Assuntos Parlamentares e Líder Parlamentar, para além de todos os outros cargos que o meu curriculum atesta. Fui cabeça de lista em Setúbal e em Faro, ganhei eleições para o Parlamento Europeu contra o PS com João Cravinho, e obtive por três vezes mais de 50% dos votos nas eleições para a Câmara de Cascais.
Consequentemente, não aceito a minha secundarização face a alguém que não tem curriculum político minimamente comparável, sem ignorar, porém, as qualidades pessoais e o resultado eleitoral que conseguiu, mas que não me parece transferível para o PSD em termos significativos.
Assim, esclareci o Dr. Passos Coelho que, sem prejuízo da minha amizade pessoal com Fernando Nobre e até de lhe ser devedor de várias atenções (vai transferir para Cascais a sede da AMI e integrou a Comissão de Honra da minha candidatura), tenho reservas sobre o convite que lhe foi dirigido para encabeçar a lista de Lisboa e, muito em especial, discordo vivamente do convite para presidir à Assembleia da República.
Fernando Nobre é uma personalidade representativa da sociedade civil muito estimável e que admiro, nomeadamente pelo trabalho que tem desenvolvido na AMI, mas inconsistente politicamente, como abundantemente demonstrou na última campanha eleitoral e as televisões já começaram a evidenciar impiedosamente, relembrando algumas afirmações comprometedoras e as incoerências em que está a cair.
Nomeadamente penosa é a afirmação peremptória de que nunca seria candidato à Assembleia da República, invocando então razões de coerência e de independência. Por outro lado, não podemos esquecer que Fernando Nobre foi o mandatário da candidatura do BE ao Parlamento Europeu, nem podemos ignorar as posições deste Partido contrárias à União Europeia! Como é que agora pode integrar as listas de um Partido que defende a integração europeia, e ser proposto para segunda figura do Estado, sem que isso seja tomado como mais uma grave contradição e incoerência? Acresce que, durante a campanha presidencial, o candidato Fernando Nobre abundou nas críticas demagógicas e virulentas ao Presidente da República e aos Partidos.
De resto, tenho as maiores dúvidas que a inclusão de Fernando Nobre nas listas do PSD se traduza numa mais-valia eleitoral. Pelo contrário: o cidadão comum olha para esta operação como uma 'caça ao voto' e creio que a generalidade dos eleitores que nele apostaram estão à nossa esquerda e são críticos dos Partidos. Serão provavelmente poucos os que vão acompanhar o candidato nesta transumância. Basta atentar nas redes sociais bem como nos fóruns das televisões e das rádios, para concluirmos sobre a hostilidade muito generalizada à candidatura legislativa. Não é por acaso que a página de Fernando Nobre no Facebook foi encerrada... Os próximos dias vão provavelmente confirmar este crescendo crítico também nas nossas hostes, facto que me leva a acreditar que, com Fernando Nobre, é negativo o saldo entre os que captamos de novo para as listas do PSD e o conjunto dos nossos tradicionais apoiantes que se afastam, indignados com a opção em causa.
E não se diga que tenho qualquer reserva de fundo quanto ao alargamento das nossas listas a independentes representativos da sociedade civil. Ao longo da minha carreira política sempre me pronunciei nesse sentido e levei à concretização de muitas situações em conformidade, não só para a Assembleia, como para as Autarquias e até o Governo da República. Mas este caso é manifestamente desajustado e excessivo!
Mas, mais grave e chocante é o inexplicável compromisso de candidatar Fernando Nobre à Presidência da Assembleia (candidatura cujo desfecho está longe de ser garantido, mesmo com uma maioria parlamentar do PSD). Estamos a falar da segunda figura do Estado, que pode ser chamado em qualquer momento a substituir o Presidente da República, caso em que teríamos um político sem preparação e anti-europeísta no cargo cimeiro do Estado. Estamos a falar de um cargo que, para além das funções meramente protocolares, exige uma experiência parlamentar sólida (não é por acaso que sempre foram eleitos para o efeito personalidades com larga e consistente experiência política e parlamentar). Por outro lado, proporcionar a Fernando Nobre um mandato na Presidência da Assembleia, significa catapultá-lo para a candidatura seguinte à Presidência da República. Se ele decidir avançar, o PSD estará então em condições de lhe negar o apoio?
Provavelmente não, depois de o ter apoiado para segunda figura do Estado... E mesmo que o PSD decida apoiar outro candidato, com perfil mais adequado para suceder a Cavaco Silva, é evidente que terá pela frente em Fernando Nobre um adversário forte, por nós promovido.
Concedendo que é irreversível a inclusão como cabeça de lista de Lisboa, pergunto-me se, em lugar da polémica candidatura à Presidência da Assembleia, não seria mais adequado a abertura para uma pasta da área social no Governo e/ou a candidatura ao Conselho de Estado?
Qualquer das soluções adequa-se melhor ao perfil de Fernando Nobre!
Ainda estaremos a tempo deste ajustamento? Creio que o próprio Fernando Nobre, após conhecimento das reacções adversas que se multiplicam, nomeadamente vindas daqueles que nele confiaram, talvez queira repensar a situação!
Em suma, o PSD, preterindo militantes prestigiados e com perfil muito mais adequado para a Presidência da Assembleia, acolhe nas suas listas em lugar de destaque e com perspectivas de promoção a segunda figura do Estado, uma personalidade independente sem perfil adequado, muito polémica, sem consistência nem coerência política e de duvidosa atractividade eleitoral, tudo com o pretexto de alargar as listas a independentes e dar voz a um prestigiado representante da sociedade civil. Poucos serão os eleitores que acolhem esta justificação e muitos serão os que simplesmente classificam a operação como uma lamentável 'caça ao voto'.
Não posso pactuar com esta opção nem deixar-me subalternizar depois de tudo o que fiz nos passados 37 anos ao serviço do meu País e do PSD.
Prefiro ficar de fora.
Sem embargo, formulo votos sinceros de grande sucesso à candidatura do PSD à Assembleia da República. Tudo farei para que Pedro Passos Coelho seja o próximo Primeiro-Ministro de Portugal.
Com um abraço amigo,
António d' Orey Capucho
Tenho a obrigação moral e política de transmitir o seguinte ao Presidente e Vice-Presidentes do PSD-Cascais, ao Presidente da Câmara e aos Vereadores do PSD.
Fui ontem perguntado telefonicamente pelo Presidente do PSD sobre a minha disponibilidade para encabeçar uma lista à Assembleia da República e ser proposto para uma Vice-Presidência deste órgão de soberania.
Acrescentou que seria ele a encabeçar a candidatura ao Conselho de Estado, eventualmente Pinto Balsemão seria o segundo e depois se veria a possibilidade de me acrescentar à lista. Neste âmbito, referi-lhe a minha plena concordância com tais opções e que não levanto qualquer problema se ficar de fora, designadamente se o PSD tiver outra situação para acolher, seja a Manuela Ferreira Leite, o Luís Marques Mendes, ou outra personalidade de projecção equivalente.
Quanto à Assembleia, recusei liminarmente apresentar-me às eleições se não tivesse subjacente a candidatura à respectiva Presidência, salvo se fosse entendido que um dos militantes que antes referi seria mais apropriado para o efeito. Mas não poderia aceitar ser Vice-Presidente de Fernando Nobre por uma questão de coerência. Se o Partido deseja a minha candidatura ao Parlamento não pode ignorar - desculpem a imodéstia - que fui Vice-Presidente do Parlamento Europeu, Ministro dos Assuntos Parlamentares e Líder Parlamentar, para além de todos os outros cargos que o meu curriculum atesta. Fui cabeça de lista em Setúbal e em Faro, ganhei eleições para o Parlamento Europeu contra o PS com João Cravinho, e obtive por três vezes mais de 50% dos votos nas eleições para a Câmara de Cascais.
Consequentemente, não aceito a minha secundarização face a alguém que não tem curriculum político minimamente comparável, sem ignorar, porém, as qualidades pessoais e o resultado eleitoral que conseguiu, mas que não me parece transferível para o PSD em termos significativos.
Assim, esclareci o Dr. Passos Coelho que, sem prejuízo da minha amizade pessoal com Fernando Nobre e até de lhe ser devedor de várias atenções (vai transferir para Cascais a sede da AMI e integrou a Comissão de Honra da minha candidatura), tenho reservas sobre o convite que lhe foi dirigido para encabeçar a lista de Lisboa e, muito em especial, discordo vivamente do convite para presidir à Assembleia da República.
Fernando Nobre é uma personalidade representativa da sociedade civil muito estimável e que admiro, nomeadamente pelo trabalho que tem desenvolvido na AMI, mas inconsistente politicamente, como abundantemente demonstrou na última campanha eleitoral e as televisões já começaram a evidenciar impiedosamente, relembrando algumas afirmações comprometedoras e as incoerências em que está a cair.
Nomeadamente penosa é a afirmação peremptória de que nunca seria candidato à Assembleia da República, invocando então razões de coerência e de independência. Por outro lado, não podemos esquecer que Fernando Nobre foi o mandatário da candidatura do BE ao Parlamento Europeu, nem podemos ignorar as posições deste Partido contrárias à União Europeia! Como é que agora pode integrar as listas de um Partido que defende a integração europeia, e ser proposto para segunda figura do Estado, sem que isso seja tomado como mais uma grave contradição e incoerência? Acresce que, durante a campanha presidencial, o candidato Fernando Nobre abundou nas críticas demagógicas e virulentas ao Presidente da República e aos Partidos.
De resto, tenho as maiores dúvidas que a inclusão de Fernando Nobre nas listas do PSD se traduza numa mais-valia eleitoral. Pelo contrário: o cidadão comum olha para esta operação como uma 'caça ao voto' e creio que a generalidade dos eleitores que nele apostaram estão à nossa esquerda e são críticos dos Partidos. Serão provavelmente poucos os que vão acompanhar o candidato nesta transumância. Basta atentar nas redes sociais bem como nos fóruns das televisões e das rádios, para concluirmos sobre a hostilidade muito generalizada à candidatura legislativa. Não é por acaso que a página de Fernando Nobre no Facebook foi encerrada... Os próximos dias vão provavelmente confirmar este crescendo crítico também nas nossas hostes, facto que me leva a acreditar que, com Fernando Nobre, é negativo o saldo entre os que captamos de novo para as listas do PSD e o conjunto dos nossos tradicionais apoiantes que se afastam, indignados com a opção em causa.
E não se diga que tenho qualquer reserva de fundo quanto ao alargamento das nossas listas a independentes representativos da sociedade civil. Ao longo da minha carreira política sempre me pronunciei nesse sentido e levei à concretização de muitas situações em conformidade, não só para a Assembleia, como para as Autarquias e até o Governo da República. Mas este caso é manifestamente desajustado e excessivo!
Mas, mais grave e chocante é o inexplicável compromisso de candidatar Fernando Nobre à Presidência da Assembleia (candidatura cujo desfecho está longe de ser garantido, mesmo com uma maioria parlamentar do PSD). Estamos a falar da segunda figura do Estado, que pode ser chamado em qualquer momento a substituir o Presidente da República, caso em que teríamos um político sem preparação e anti-europeísta no cargo cimeiro do Estado. Estamos a falar de um cargo que, para além das funções meramente protocolares, exige uma experiência parlamentar sólida (não é por acaso que sempre foram eleitos para o efeito personalidades com larga e consistente experiência política e parlamentar). Por outro lado, proporcionar a Fernando Nobre um mandato na Presidência da Assembleia, significa catapultá-lo para a candidatura seguinte à Presidência da República. Se ele decidir avançar, o PSD estará então em condições de lhe negar o apoio?
Provavelmente não, depois de o ter apoiado para segunda figura do Estado... E mesmo que o PSD decida apoiar outro candidato, com perfil mais adequado para suceder a Cavaco Silva, é evidente que terá pela frente em Fernando Nobre um adversário forte, por nós promovido.
Concedendo que é irreversível a inclusão como cabeça de lista de Lisboa, pergunto-me se, em lugar da polémica candidatura à Presidência da Assembleia, não seria mais adequado a abertura para uma pasta da área social no Governo e/ou a candidatura ao Conselho de Estado?
Qualquer das soluções adequa-se melhor ao perfil de Fernando Nobre!
Ainda estaremos a tempo deste ajustamento? Creio que o próprio Fernando Nobre, após conhecimento das reacções adversas que se multiplicam, nomeadamente vindas daqueles que nele confiaram, talvez queira repensar a situação!
Em suma, o PSD, preterindo militantes prestigiados e com perfil muito mais adequado para a Presidência da Assembleia, acolhe nas suas listas em lugar de destaque e com perspectivas de promoção a segunda figura do Estado, uma personalidade independente sem perfil adequado, muito polémica, sem consistência nem coerência política e de duvidosa atractividade eleitoral, tudo com o pretexto de alargar as listas a independentes e dar voz a um prestigiado representante da sociedade civil. Poucos serão os eleitores que acolhem esta justificação e muitos serão os que simplesmente classificam a operação como uma lamentável 'caça ao voto'.
Não posso pactuar com esta opção nem deixar-me subalternizar depois de tudo o que fiz nos passados 37 anos ao serviço do meu País e do PSD.
Prefiro ficar de fora.
Sem embargo, formulo votos sinceros de grande sucesso à candidatura do PSD à Assembleia da República. Tudo farei para que Pedro Passos Coelho seja o próximo Primeiro-Ministro de Portugal.
Com um abraço amigo,
António d' Orey Capucho
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