Pedro Passos Coelho caminha em terreno armadilhado. Escrevi, há meses, nesta coluna. Devia ter acrescentado: armadilhado pelos próprios "companheiros."
Ele tem pretendido "reconciliar" o partido, mas o PSD é absolutamente "irreconciliável." Nem Francisco Sá Carneiro conseguia apaziguar as fúrias dos diferentes e múltiplos grupos que, entre si, se digladiavam, numa ânsia de poder que chega a ser doentia. Passos Coelho não é, propriamente, um bem-amado, e a circunstância de ter obtido uma vitória esmagadora sobre os seus adversários
, acirrou os ânimos ainda mais.
Ele bem quer ser simpático e plural, mas sacodem-no, com destempero e, até, um certo desdém. Convidou vários "notáveis" para integrarem as listas parlamentares. Até agora, esquivaram-se todos: Manuela Ferreira Leite, António Capucho, Luís Filipe Menezes, Marques Mendes. A procissão de negas ainda vai no adro. Mas entende-se a extensão da conspiração. Pedro Passos Coelho, notoriamente, anda muito mal aconselhado. O que faz com que os vexames por que passa sejam cada vez mais desagradáveis.
O último tiro no pé foi o convite, aceito, a Fernando Nobre. Tenho estima pessoal por este homem que dedicou parte substancial da vida a actos de humanismo e de entrega. Porém, ele não será uma mais-valia para o PSD. Primeiro, porque se desacreditou, como se regista pelos protestos (alguns bem soezes e ordinários, a merecer bengaladas redentoras) que inundam os jornais, as rádios, as televisões e os blogues. Apesar de tudo, Nobre não merecia estas afrontas. Segundo, porque os votos obtidos nas eleições para a Presidência, não são transferíveis. O êxito dele correspondeu a um momento histórico particularmente confuso e delicado.
A estratégia de Passos corresponde a um disparate pessoal e a um desastre político, facilmente adivinhável. Ele tem de perceber que, no próprio PSD, o querem afastar. Os seus inimigos não estão, somente, cá fora; talvez, até, estejam no "interior" os mais raivosos e implacáveis. A escolha de Fernando Nobre, que gerou grande desassossego naquele partido, constitui uma precipitação indesculpável, um erro de avaliação (fatal num político) e um tropeção aproveitado por quem o detesta. Quem o aconselhou? Uma decisão desta natureza não nasce de uma congeminação individual. E quem o aconselhou está a prejudicá-lo seriamente.
E, agora, porque motivo, quais as razões secretas que levaram Fernando Nobre a concordar com o convite, duas semanas depois de ter declarado nada querer de partidos, de lugares, de honrarias? As pessoas que nele acreditaram merecem, acaso, uma explicação mais plausível do que aquela, atabalhoada, que, em seu nome, formulou o porta-voz do movimento que desencadeou. Segundo este, o dr. Nobre é um homem livre e pode escolher os momentos e as circunstâncias que o impelem a tomar esta ou aquela atitude. Aliás, acrescentou, em ocasiões anteriores, apoiou outros partidos e candidatos a lugares políticos. O porta-voz enterrou, ainda mais, o dr. Fernando Nobre, porque já ninguém acredita na bondade do acto.
Há quem afirme que deseja ir para o Parlamento, a fim de "reformá-lo por dentro." Como não pode proceder a tão titânico esforço, apenas como deputado, dizem que o contrato com Pedro Passos Coelho só é válido se for eleito presidente da Assembleia da República. O homem da ética, da lisura de hábitos e da honra no exercício da política, sai-se com esta! Será verdade? Só o visado poderá esclarecer, devidamente, este imbróglio. Deve-o não só aos que o apoiaram como àqueles milhares de portugueses que simpatizaram com o seu projecto. O homem foi ingénuo e caiu numa esparrela?
A vida portuguesa está repleta de surpresas e de inquietações. Bem basta o que nos chega, de supetão, e ainda levamos mais nos lombos. O meu amigo Otelo Saraiva de Carvalho admitiu o impensável: se soubesse ao que "isto" chegou "não teria feito o 25 de Abril", ao mesmo tempo que admitia ser possível, apenas com oitocentos homens, "realizar um outro 25 de Abril." Para essa revolta bastava que continuassem a chatear os militares. As declarações do meu amigo mereciam uma discussão mais alargada. Com tudo o que elas comportam de gravidade e, até, de angústia, não mereciam ser esquecidas e atiradas para o caixote das inutilidades.
Por outro lado, os prestamistas do FMI já cá estão (creio que já cá estavam) e estudam o processo de ordenar ao Governo o que o Governo deve fazer. Indicam sábios economistas que vamos passar pelas passas do Algarve. Já o estávamos. De uma forma ou de outra a "prosperidade" nunca tocou, abertamente, na nossa porta. E, quando a Europa nos encheu de dinheiro, o dr. Cavaco, que mandava no País (não o esqueçamos nunca), esbanjou-o com futilidades. Não tinha, não tem, nunca terá o estofo de um estadista. E pagámos caro o poder que lhe foi dado pelos grandes interesses económico-financeiros.
A impunidade, em Portugal, continua impante e firme. Como chegámos a esta situação de esmoler? Quem nos enganou e nos traiu? Os mesmo que se preparar para voltar ao poder com outras vestes. Contudo, as coisas estão muito vagas, muito imprecisas, e talvez a revolta dos eleitores deixe de estar anestesiada. Talvez. A verdade é que a situação pestilenta em que sobrenadamos não pode continuar mais.
b.bastos@netcabo.pt
Ele bem quer ser simpático e plural, mas sacodem-no, com destempero e, até, um certo desdém. Convidou vários "notáveis" para integrarem as listas parlamentares. Até agora, esquivaram-se todos: Manuela Ferreira Leite, António Capucho, Luís Filipe Menezes, Marques Mendes. A procissão de negas ainda vai no adro. Mas entende-se a extensão da conspiração. Pedro Passos Coelho, notoriamente, anda muito mal aconselhado. O que faz com que os vexames por que passa sejam cada vez mais desagradáveis.
O último tiro no pé foi o convite, aceito, a Fernando Nobre. Tenho estima pessoal por este homem que dedicou parte substancial da vida a actos de humanismo e de entrega. Porém, ele não será uma mais-valia para o PSD. Primeiro, porque se desacreditou, como se regista pelos protestos (alguns bem soezes e ordinários, a merecer bengaladas redentoras) que inundam os jornais, as rádios, as televisões e os blogues. Apesar de tudo, Nobre não merecia estas afrontas. Segundo, porque os votos obtidos nas eleições para a Presidência, não são transferíveis. O êxito dele correspondeu a um momento histórico particularmente confuso e delicado.
A estratégia de Passos corresponde a um disparate pessoal e a um desastre político, facilmente adivinhável. Ele tem de perceber que, no próprio PSD, o querem afastar. Os seus inimigos não estão, somente, cá fora; talvez, até, estejam no "interior" os mais raivosos e implacáveis. A escolha de Fernando Nobre, que gerou grande desassossego naquele partido, constitui uma precipitação indesculpável, um erro de avaliação (fatal num político) e um tropeção aproveitado por quem o detesta. Quem o aconselhou? Uma decisão desta natureza não nasce de uma congeminação individual. E quem o aconselhou está a prejudicá-lo seriamente.
E, agora, porque motivo, quais as razões secretas que levaram Fernando Nobre a concordar com o convite, duas semanas depois de ter declarado nada querer de partidos, de lugares, de honrarias? As pessoas que nele acreditaram merecem, acaso, uma explicação mais plausível do que aquela, atabalhoada, que, em seu nome, formulou o porta-voz do movimento que desencadeou. Segundo este, o dr. Nobre é um homem livre e pode escolher os momentos e as circunstâncias que o impelem a tomar esta ou aquela atitude. Aliás, acrescentou, em ocasiões anteriores, apoiou outros partidos e candidatos a lugares políticos. O porta-voz enterrou, ainda mais, o dr. Fernando Nobre, porque já ninguém acredita na bondade do acto.
Há quem afirme que deseja ir para o Parlamento, a fim de "reformá-lo por dentro." Como não pode proceder a tão titânico esforço, apenas como deputado, dizem que o contrato com Pedro Passos Coelho só é válido se for eleito presidente da Assembleia da República. O homem da ética, da lisura de hábitos e da honra no exercício da política, sai-se com esta! Será verdade? Só o visado poderá esclarecer, devidamente, este imbróglio. Deve-o não só aos que o apoiaram como àqueles milhares de portugueses que simpatizaram com o seu projecto. O homem foi ingénuo e caiu numa esparrela?
A vida portuguesa está repleta de surpresas e de inquietações. Bem basta o que nos chega, de supetão, e ainda levamos mais nos lombos. O meu amigo Otelo Saraiva de Carvalho admitiu o impensável: se soubesse ao que "isto" chegou "não teria feito o 25 de Abril", ao mesmo tempo que admitia ser possível, apenas com oitocentos homens, "realizar um outro 25 de Abril." Para essa revolta bastava que continuassem a chatear os militares. As declarações do meu amigo mereciam uma discussão mais alargada. Com tudo o que elas comportam de gravidade e, até, de angústia, não mereciam ser esquecidas e atiradas para o caixote das inutilidades.
Por outro lado, os prestamistas do FMI já cá estão (creio que já cá estavam) e estudam o processo de ordenar ao Governo o que o Governo deve fazer. Indicam sábios economistas que vamos passar pelas passas do Algarve. Já o estávamos. De uma forma ou de outra a "prosperidade" nunca tocou, abertamente, na nossa porta. E, quando a Europa nos encheu de dinheiro, o dr. Cavaco, que mandava no País (não o esqueçamos nunca), esbanjou-o com futilidades. Não tinha, não tem, nunca terá o estofo de um estadista. E pagámos caro o poder que lhe foi dado pelos grandes interesses económico-financeiros.
A impunidade, em Portugal, continua impante e firme. Como chegámos a esta situação de esmoler? Quem nos enganou e nos traiu? Os mesmo que se preparar para voltar ao poder com outras vestes. Contudo, as coisas estão muito vagas, muito imprecisas, e talvez a revolta dos eleitores deixe de estar anestesiada. Talvez. A verdade é que a situação pestilenta em que sobrenadamos não pode continuar mais.
b.bastos@netcabo.pt
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