A Economia Moral da Dívida
“Os portugueses vivem acima das suas possibilidades”. É uma proposição moralista vinda de quem gosta de dizer que a economia é amoral.
Em Portugal o saldo da conta corrente tem sido negativo, isto é, a balança de pagamentos é equilibrada com empréstimos contraídos no exterior pela banca, o estado e as grandes empresas públicas e privadas. Este saldo negativo acentuou-se desde a entrada no Euro. Portugal viveu a crédito e isso só é possível durante algum tempo. O moralista pergunta: quem é responsável? E responde: “Todos”.
Não, não somos todos responsáveis.
A história dos países periféricos da Europa reproduz em escala macro o drama do “subprime”. Um pobre endivida-se quando lhe oferecem crédito ao preço da chuva e acredita que poderá pagar porque a coisa que adquire com o dinheiro emprestado se está a valorizar e se irá continuar a valorizar no futuro. O dinheiro emprestado irá torna-lo mais rico e sendo rico pagará com facilidade. O usurário por acaso até sabe que o pobre irá explodir um dia e por isso mesmo passa a batata quente da dívida a outros pobres (e ricos) impingindo-lhes produtos “derivados” recheados de hipotecas duvidosas. Quem é responsável? O pobre ou o usurário?
Como é esta história na versão macro? Os bancos e outras instituições financeiras tendo em mãos recursos financeiros abundantes, cujos donos não querem, ou não podem, canalizar para a “esfera real”, emprestam-nos aos estados, aos bancos e às grandes empresas das economias deficitárias a juro baixo. Estas economias esperam crescer com o investimento privado e público e a expansão da procura interna. Essa era a promessa da convergência na UE. Crescendo poderão fazer face à divida. Os credores por acaso até sabem, ou suspeitam, que o crescimento não é garantido e que o processo de endividamento não se pode prolongar indefinidamente. Mas isso não lhes interessa nada porque no fundo acreditam que se a coisa não correr bem lá estarão as instituições internacionais para garantir que os Estados dos países endividados obrigam os pobres desses países a pagar a dívida privada e pública. Quem é responsável?
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