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segunda-feira, 6 de agosto de 2018

OS TRUQUES DA IMPRENSA PORTUGUESA



Os truques da imprensa portuguesa in facebook
Os incêndios regressaram e com eles regressou o mesmo lote de problemas na imprensa com que já nos confrontámos no passado.
Algumas estações de televisão convertem o combate ao fogo numa megaprodução de entretenimento. Os jornalistas desempenham papéis e são parte ativa da peça. Fundamental é fazer passar para o público a comoção, a expectativa, a tensão e o suspense deste "thriller" em modo "live show". E agarrar o público, viciando-o na desgraça alheia. Nada de novo neste capítulo.
Outras estações, como a SIC Notícias, colocam-se supostamente num patamar superior e prometem aos espectadores um espaço de análise e aprofundamento, onde supostamente o papel do jornalismo se sobressai e assume a condução do necessário e urgente processo de objetivação. Hoje, como antes, o especialista é… José Gomes Ferreira.
E José Gomes Ferreira regressa ao mesmo de sempre. A mesma fórmula retórica. O mesmo tom de profeta. As mesmas palavras insignificantes. Os mesmos discursos redondos. A mesma habilidade em explorar sentimentos e instintos primários das pessoas perante um cenário de crise.
Há poucos meses, a Comissão Técnica Independente, composta por 12 dos mais reconhecidos especialistas portugueses no tema dos incêndios que tiveram como missão executar um relatório relativo a Pedrógão Grande, alertava para o facto de a “origem criminosa” ser “um mito profusamente difundido pela comunicação social e inadvertidamente aproveitado por alguns responsáveis políticos.” Acrescentava que este mito apenas contribui para a “desresponsabilização da sociedade quanto ao problema dos incêndios.” Ou seja, havendo incêndios com origem criminosa, é falso - e está cientificamente demonstrada essa falsidade - que eles sejam o maior problema. E é fundamental que se pare com essa conversa conspiracionista, porque ela está apenas a servir para perpetuar comportamentos de risco das populações. Em suma: é fundamental que a imprensa, que tem uma responsabilidade acrescida, assuma de uma vez o compromisso de parar com a propagação do mito, mesmo que ele ajude a alimentar a novela e renda audiências.
Porém, e apesar de todos os alertas, hoje, lá estava de novo José Gomes Ferreira, a falar dos “interesses económicos nos fogos”, no “conjunto de negócios que interessam a muita gente”, que estes “fogos dão de comer a muita gente.” Mesmo sem apoiar as suas suspeitas vagas em alguma coisa de concreto.
O que José Gomes Ferreira faz tem um nome: "confirmation bias." Ele sabe qual é a expectativa do seu público e, mesmo estando essa expectativa assente num mito, mesmo sabendo que há um viés na percepção pública do assunto, limita-se a confirmá-la. Mesmo que essa expectativa contrarie os factos, mesmo que ela não esteja estatisticamente ou cientificamente demonstrada, mesmo que ela não tenha por base alguma coisa de objectivo.
José Gomes Ferreira abandonou os factos. Mas para que servem os factos a quem tem tantas convicções?
É aqui que acaba o jornalismo.


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