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terça-feira, 28 de agosto de 2018

Madonna: Os 60 Anos do Ícone LGBT Que Quebrou Barreiras






Madonna, o maior ícone pop global da comunidade LGBT – e a cantora mais bem sucedida de todos os tempos – completou 60 anos dia 16 de agosto. Em seus 35 anos de carreira, foram muitos os momentos em que ela levou a cultura gay dos guetos para o mainstream, e deu voz às mulheres, aos gays e a outros que precisavam ser ouvidos. Basta alguns minutos no Google para verificar que ela foi a primeira artista pop do primeiro escalão a levantar a bandeira LGBT, e o fez numa época em que a simples menção da palavra gay era um enorme tabu. Nos anos 1980 e 1990, as pessoas LGBT eram diretamente associadas a AIDS, pecado, morte e promiscuidade pela maior parte da sociedade.

Mas desafiar o sistema e quebrar barreiras sociais sempre foi o hobby de Madonna. A artista botou sua conta em risco e abraçou a causa da nossa comunidade, da qual sempre foi genuinamente próxima, desde muito antes de ser uma estrela. E pagou um preço alto por isso. Nem sempre as polêmicas lhe garantiram sucesso comercial.

De 1983, quando lançou seu primeiro disco, até os dias de hoje, Madonna deu inúmeras declarações e lançou diversos trabalhos (entre músicas, clips, shows, filmes e até um livro) representando, defendendo e enaltecendo o amor e o sexo em todas as suas formas, o mundo gay, a cultura drag, bem como a tolerância e o respeito pelas diferenças. Seria impossível resumir 35 anos de closes certos em um artigo. Considerando a importância de seu pioneirismo em trazer a causa LGBT dos guetos para os meios de massa, veremos a seguir como foi o início dessa relação de Madonna com a bandeira do arco-íris em sua obra.


O Mega Hit Vogue
“Olhe em volta, para todo o lugar que você se vira há mágoa
Você tenta tudo o que pode para escapar da dor da vida que você já conhece
Quando tudo fracassar e você ansiar ser algo melhor do que é hoje 
Eu conheço um lugar para onde você pode fugir, chama-se pista de dança 
É onde eu me sinto tão bonita, mágica 
A vida é um baile, então venha para a pista de dança 
Vamos lá, vogue, deixe seu corpo se mexer com a música 
Você é uma superstar, sim é o que você é” 
(Trechos de Vogue, escrita por Madonna e Shep Pettibone – 1990)

Um dos maiores hits de toda a sua carreira nada mais é do que uma homenagem aos bailes de Vogue dos guetos nova iorquinos. Para quem assistiu ou está assistindo à série Pose ou já viu o documentário Paris is Burning (disponível na Netflix) a letra desse hino gay de Madonna ganha um novo significado.

Nela, Madonna trata explicitamente da cultura desses bailes e da relação de escape de seus frequentadores. Certamente a grande maioria das milhões de pessoas que ouvia a música nas festas, no rádio e na MTV lá em 1990 não sabia que Madonna cantava sobre uma comunidade tão específica. Mas depois, por causa dela, o mundo inteiro descobriu que havia uma dança chamada Vogue “lá de NYC que imitava as poses das modelos da revista” em resumo.

Vogue alcançou o número 1 na Billboard e vendeu mais de 6 milhões de cópias mundialmente, sendo o single mais vendido do mundo naquele ano. Ou seja, Madonna popularizou em todo o planeta uma cultura do gueto negro-pobre-latino-gay de Nova York. Fez o mundo inteiro dançar como as “bichas pobres de NYC”. Mais do que isso, ela foi lá buscar bailarinos que eram reais frequentadores dos bailes para participarem do clip de Vogue e futuramente da revolucionária turnê Blond Ambition. O premiado vídeo é uma obra de arte coestrelada por pocs fazendo poses e realizando belíssimos passos de Vogue.

VÍDEO


Vale a pena lembrar também o dia em que Madonna levou as poc todas pra arrasarem numa performance de Vogue, digna de show de drags no MTV Video Music Awards. Foi praticamente a invenção do lip sync for your life, só que diante de uma plateia majoritariamente de héteros roqueiros.

VÍDEO 


Mais sobre o single de Vogue clicando aqui.

Na Cama com Madonna

Para quem nunca assistiu, Na Cama com Madonna (1991) é um filme documentário sobre os bastidores da turnê Blond Ambition de 1990. O longa revela, entre outras coisas, o dia a dia de Madonna e seus sete bailarinos, seis deles gays (bem assumidos e resolvidos). São duas horas de muita pinta, mostrando seis bichas afeminadas bem sucedidas, talentosas, destemidas e amadas pelo público viajando o mundo na companhia da maior estrela pop do momento. Na cena em que a trupe joga Verdade ou Consequência, além da clássica cena em que Madonna simula sexo oral numa garrafa, tem ainda um longo beijo cheio de língua entre dois bailarinos. Para muita gente, foi o primeiro beijo gay visto no cinema. Um verdadeiro choque de realidade exibido em grandes salas de todo o planeta e em incontáveis canais de TV mundo afora. As pessoas, definitivamente, não esperavam ver tanta “bichisse” no filme.

Conforme retratado em Strike a Pose, documentário de 2016  (sim! Fizeram um documentário sobre o documentário – disponível na Netflix), Na Cama com Madonna ajudou os gays daquela geração a aceitarem a sua homossexualidade, e inspirou muitos a saírem do armário. Naquela era pré internet, não havia muitas fontes de informação sobre a cultura gay. Era muito difícil se sentir bem representado ou aceito. Ver uma estrela pop convivendo naturalmente com seis homens gays afeminados significou muito para a comunidade LGBT naquela época, quando os gays - raramente presentes nos filmes - eram quase sempre ridicularizados ou marginalizados.

Na Cama com Madonna foi até 2002, o documentário mais bem sucedido da história do cinema, faturando mais de US$ 27 milhões de dólares (o equivalente a US$ 52 milhões atualizados em 2017).

Mais sobre o documentário clicando aqui.

O Livro Sex e a Fase Erotica

Pense na cantora pop que você considera a mais influente e famosa do mundo na atualidade. Pensou? Agora imagine essa cantora sendo fotografada nas seguintes situações:
  1. nua dando um beijo grego num homem; 
  2. usando um vestido de gala entre strippers de um gay club, todos nus; 
  3. amarrada numa cadeira beijando uma mulher enquanto outra chupa um dos seus seios; 
  4. no meio de um banheirão gay; 
  5. olhando para a própria vagina refletida num espelho; 
  6. só de calcinha no colo de um sugar daddy
  7. num ménage inter-racial com direito a beijo de língua e muita mão naquilo e aquilo na mão. 
Madonna fez tudo isso e muito mais para o seu audacioso e polêmico livro Sex, de 1992. Lançado um dia antes do disco Erotica, o livro – esgotado em todo o mundo em poucas semanas – mostrava Madonna em variadas e inusitadas situações sexuais com homens, mulheres e sozinha. Com Sex,  Madonna direcionou os holofotes a diversas orientações, minorias, fetiches e gostos sexuais. Mais uma vez a comunidade LGBT se viu luxuosamente representada pela maior estrela pop do planeta fazendo aquilo que eles gostavam de fazer, mas a sociedade condenava.

E o mundo todo viu, refletiu, opinou e repercutiu. Não havia outro assunto nas revistas, jornais e televisões naquela época, quase sempre com a sentença de que Madonna teria “ido longe demais” (muito antes da Pabllo).

Por muito pouco, a carreira de Madonna não foi ali encerrada. O disco Eroticafoi o menos vendido de sua carreira até então. Foram tempos bem difíceis para Madonna. Nenhum single do álbum alcançou a primeira posição na Billboard, fato que sempre acontecia desde 1984, com Like a Virgin. A sociedade definitivamente não estava preparada para tamanho choque de libertação sexual.

Hoje, o livro é conhecido por seu impacto na sociedade e na cultura, e é considerado um projeto corajoso, pós-feminista e uma obra de arte. Que choque foi ver uma mulher loira, linda e sexy com total poder sobre suas experiências e fantasias sexuais. Beijando homens, mulheres, se masturbando e fazendo o que mais lhe desse prazer, sem qualquer tipo de objetificação ou domínio de um homem. E não era qualquer mulher, mas a estrela mais famosa do planeta.

Mais de vinte e cinco anos se passaram e este ainda é o momento mais escandaloso da história da cultura pop. E a letra da canção Why Is It So Hard, do disco Erotica infelizmente ainda se faz muito atual.
“Por que é tão difícil amarmos uns aos outros? 
Por que é tão difícil amar?
O que eu preciso fazer para ser aceita? 
O que eu tenho de dizer? 
O que eu tenho de fazer para ser respeitada? 
Como devo atuar?
Como devo parecer para ser igual? 
Por que não conseguimos aprender a aceitar que somos diferentes
antes que seja tarde demais?”
(Trechos de Why Is It So Hard, escrita por Madonna e Shep Pettibone - 1992)

VÍDEO


www.barbafeita.com

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