Filipe Diniz
Especulação imobiliária
Merece ser lido o livro The Assassination of New-York (Verso, 1993). O autor é um norte-americano progressista, Robert Fitch, e o que estuda é o processo de reconfiguração da cidade sob o comando directo do grande capital (os Rockefeller, os Carnegie e outros, e o exército dos seus homens de mão). Trata-se de exponenciar o valor do solo urbano pela alteração radical do seu uso, e Fitch sintetiza-o numa fórmula lapidar: «O planeamento urbano é a coordenação do monopólio do solo.»
Significativamente, esse processo data não das últimas mas das primeiras décadas do séc. XX. Especificamente do Plano Regional de Nova Iorque e Arredores, de 1929. Tem quase um século. O que se planeia é a expulsão da indústria e a desactivação da actividade portuária daquele que era, na altura, o maior porto do mundo. Para nos terrenos assim desocupados construir milhões de metros quadrados em torres destinadas ao sector terciário (ao CBD) e à habitação de luxo.
Porque se evoca aqui esse estudo? Porque os traços que identifica são reconhecíveis por exemplo da região de Lisboa: a desindustrialização, a contracção das áreas portuárias, a constante pressão para a mudança de uso de solos ocupados pelo sector secundário e pela rede da ferrovia pesada. Os resultados que Fitch identifica em Nova Iorque (enorme perda de postos de trabalho, empobrecimento e expulsão das camadas populares, perda de diversidade e vitalidade da base económica da área metropolitana) são há muito visíveis no polo central da AML. E são acompanhados de uma chocante prosperidade da especulação imobiliária.
Agora que alguma imprensa descobriu a especulação imobiliária a propósito de um caso concreto, seria altura de recolocar o quadro geral que a ela conduz
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