A leitura de uma «onda»
«O mar está levemente encrespado e pequenas ondas vêm bater na costa arenosa. O senhor Palomar encontra-se na praia, de pé, e observa uma onda. Não se pode dizer que esteja absorto na contemplação das ondas. Não está absorto, porque sabe muito bem aquilo que faz: pretende observar uma onda e observa-a. (...) Não são as "ondas" que ele pretende observar, mas uma única onda e basta: querendo evitar as sensações vagas, estabelece para cada um dos seus atos um objetivo limitado e definido.»
Italo Calvino, Palomar
Lembrei-me deste belíssimo texto de Italo Calvino a propósito desta notícia no Público, sobre uma alegada «onda de reclamações» que a «falta de vagas no pré-escolar e no 1º ciclo» estaria a causar. Na contemplação desta «onda», segundo a jornalista Clara Viana, a falta de vagas «já levou mais de 20 pais a apresentar reclamações ao Ministério da Educação (ME) por via do Portal da Queixa», o que representa, face ao ano passado, um «aumento de 100% no número de reclamações apresentadas». Isto é, 20 queixas e um aumento de 100% (foram portanto 10 queixas em 2017) constituem para Clara Viana uma «onda de reclamações».
Partindo da mesma fonte, o Jornal Económico já tinha sinalizado esta mesma onda no passado dia 30, referindo que «nos últimos três dias, a página da maior rede social de consumidores em Portugal, registou mais de dez reclamações relativas à falha e falta de vagas na colocação de alunos em escolas, o que se traduziu num aumento de 100%, face ao último ano». Curiosamente, há quem tenha feito as contas, chegando à conclusão que «foram submetidas 13 queixas (e não 20) relativamente ao período de inscrições de 2018», comparando este valor com as 14 registadas em 2017. Ou seja, longe do tal aumento de 100% (que seria sempre uma forma abusiva de descrever a evolução registada, dado o reduzido universo de situações em causa) e próximo das indicações dadas pela DGESTE.
É claro que nada disto põe em causa o valor intrínseco de cada uma das reclamações dos alunos e das famílias. O que está em questão, voltando ao senhor Palomar, é apenas a «onda» que cada um quer ver. Até porque estamos no verão, em plena silly season.
Italo Calvino, Palomar
Lembrei-me deste belíssimo texto de Italo Calvino a propósito desta notícia no Público, sobre uma alegada «onda de reclamações» que a «falta de vagas no pré-escolar e no 1º ciclo» estaria a causar. Na contemplação desta «onda», segundo a jornalista Clara Viana, a falta de vagas «já levou mais de 20 pais a apresentar reclamações ao Ministério da Educação (ME) por via do Portal da Queixa», o que representa, face ao ano passado, um «aumento de 100% no número de reclamações apresentadas». Isto é, 20 queixas e um aumento de 100% (foram portanto 10 queixas em 2017) constituem para Clara Viana uma «onda de reclamações».
Partindo da mesma fonte, o Jornal Económico já tinha sinalizado esta mesma onda no passado dia 30, referindo que «nos últimos três dias, a página da maior rede social de consumidores em Portugal, registou mais de dez reclamações relativas à falha e falta de vagas na colocação de alunos em escolas, o que se traduziu num aumento de 100%, face ao último ano». Curiosamente, há quem tenha feito as contas, chegando à conclusão que «foram submetidas 13 queixas (e não 20) relativamente ao período de inscrições de 2018», comparando este valor com as 14 registadas em 2017. Ou seja, longe do tal aumento de 100% (que seria sempre uma forma abusiva de descrever a evolução registada, dado o reduzido universo de situações em causa) e próximo das indicações dadas pela DGESTE.
É claro que nada disto põe em causa o valor intrínseco de cada uma das reclamações dos alunos e das famílias. O que está em questão, voltando ao senhor Palomar, é apenas a «onda» que cada um quer ver. Até porque estamos no verão, em plena silly season.
ladroesdebicicletas.blogspot.com
Sem comentários:
Enviar um comentário