Paule de Grauwe
A Europa não tem razões para se orgulhar O programa resultou no colapso da economia grega e serviu para os bancos europeus escaparemTNa ultima segunda feira a Crécia foi desligada da máquina que os seus credores
Mas terá a Europa razão para se orgulhar do programa financeiro que impôs à Grécia quando o país enfrentou a bancarrota em 2010? A resposta é, definitivamente, não.
Primeiro, é um erro chamar a este programa de “apoio financeiro à Grécia”. Por detrás destas palavras há uma narrativa confortável para o resto da Europa de que a Grécia estava à beira do colapso e que os países credores salvaram os gregos do desastre. Nada poderia estar mais longe da verdade. O objetivo do programa de assistência imposto à Grécia foi garantir que as exigências dos países credores seriam satisfeitas. Políticos dos países credores, como a Alemanha, a Bélgica, a Holanda e a Finlândia, temiam ter de reconhecer perdas nos empréstimos que tinham feito à Grécia. Tinham prometido aos seus contribuintes que a Grécia havia de pagar as suas dívidas. Qualquer perda nestes empréstimos significaria que os contribuintes alemães, franceses, belgas, etc., tinham sido enganados.
Assim, para garantir que a Grécia pagava estes empréstimos, estes países emprestaram mais dinheiro à Grécia. E, surpresa, surpresa, a Grécia pagou os empréstimos antigos com o dinheiro fresco emprestado pelos mesmos países. Nenhum destes empréstimos foi usado para apoiar a economia
grega. Foram dados para manter a exigência de os contribuintes nos países credores verem devolvido o seu dinheiro.
Primeiro, é um erro chamar a este programa de “apoio financeiro à Grécia”. Por detrás destas palavras há uma narrativa confortável para o resto da Europa de que a Grécia estava à beira do colapso e que os países credores salvaram os gregos do desastre. Nada poderia estar mais longe da verdade. O objetivo do programa de assistência imposto à Grécia foi garantir que as exigências dos países credores seriam satisfeitas. Políticos dos países credores, como a Alemanha, a Bélgica, a Holanda e a Finlândia, temiam ter de reconhecer perdas nos empréstimos que tinham feito à Grécia. Tinham prometido aos seus contribuintes que a Grécia havia de pagar as suas dívidas. Qualquer perda nestes empréstimos significaria que os contribuintes alemães, franceses, belgas, etc., tinham sido enganados.
Assim, para garantir que a Grécia pagava estes empréstimos, estes países emprestaram mais dinheiro à Grécia. E, surpresa, surpresa, a Grécia pagou os empréstimos antigos com o dinheiro fresco emprestado pelos mesmos países. Nenhum destes empréstimos foi usado para apoiar a economia
grega. Foram dados para manter a exigência de os contribuintes nos países credores verem devolvido o seu dinheiro.
Para manter este princípio, a Grécia foi sujeita a condições que poucas nações soberanas na História tiveram de aceitar. Uma troika estrangeira pegou no leme da economia grega e sujeitou o país a medidas de austeridade que pela sua gravidade raramente foram aplica- das. O resultado foi o colapso da economia grega e a miséria para milhões de gregos.
Muitos defenderam que os gregos eram culpados da sua desgraça. Andaram numa espiral gastadora nos anos bons que antecederam a crise financeira e acumularam um nível de dívida insustentável. Não havia alternativa à redução da despesa e ao início de um pro- grama que reduzisse a dívida.
Devemos sublinhar aqui dois pontos. Primeiro, são precisos dois para dançar o tango. A dívida em que incorreram os gregos foi tornada possível pelos empréstimos concedi- dos pelos bancos do norte da zona euro. Se os gregos não viram que a sua dívida face aos banqueiros do norte era insustentável, também estes banqueiros não viram. Assim, a responsabilidade por este desastre foi partilhada. Os banqueiros emprestaram dinheiro a mais e os gregos pediram emprestado demais.
A diferença entre os banqueiros do norte e os gregos tem a ver em última instância com o poder. Os banqueiros sabiam que em último caso os seus governos sangrariam a Grécia até ela pagar a dívida para que os seus bancos pudessem sair da crise sem grandes danos.
Segundo, havia com certeza outras maneiras de lidar com a dívida grega do que a que foi feita nos sucessivos programas. Os programas de austeridade foram contraproducentes. Levaram a um declínio massivo do PIB de mais de 30% e reduziram a capacidade da Grécia de pagar a sua dívida. Em 2010, a dívida grega era de 150% do PIB; depois de oito anos de austeridade esta proporção aumentou para 180%. Um programa mais inteigente não teria imposto esta austeridade massiva. Além disso, a solidariedade europeia teria significado que os países credores aceitassem cancelar parte da dívida. Isto também teria feito refletir o facto de haver uma responsabilidade partilhada entre credores e devedores.
Ao contrário do que o presidente do Conselho Europeu proclamou, não houve solidariedade europeia. Houve apenas o desejo das nações credoras de proteger as suas exigências financeiras, em- bora fossem igualmente responsáveis pelo desastre, em conjunto com a Grécia. Além disso, verificou-se um desejo visceral dos governos dos países credores de castigar um país que se tinha portado mal.
É evidente que teremos novas crises financeiras no futuro, envolvendo credores que emprestam demais e devedores que pedem emprestado demais. Só podemos esperar que quando isso acontecer a Europa seja capaz de mostrar um bocadinho mais de solidariedade do que mostrou na tragédia grega.
Muitos defenderam que os gregos eram culpados da sua desgraça. Andaram numa espiral gastadora nos anos bons que antecederam a crise financeira e acumularam um nível de dívida insustentável. Não havia alternativa à redução da despesa e ao início de um pro- grama que reduzisse a dívida.
Devemos sublinhar aqui dois pontos. Primeiro, são precisos dois para dançar o tango. A dívida em que incorreram os gregos foi tornada possível pelos empréstimos concedi- dos pelos bancos do norte da zona euro. Se os gregos não viram que a sua dívida face aos banqueiros do norte era insustentável, também estes banqueiros não viram. Assim, a responsabilidade por este desastre foi partilhada. Os banqueiros emprestaram dinheiro a mais e os gregos pediram emprestado demais.
A diferença entre os banqueiros do norte e os gregos tem a ver em última instância com o poder. Os banqueiros sabiam que em último caso os seus governos sangrariam a Grécia até ela pagar a dívida para que os seus bancos pudessem sair da crise sem grandes danos.
Segundo, havia com certeza outras maneiras de lidar com a dívida grega do que a que foi feita nos sucessivos programas. Os programas de austeridade foram contraproducentes. Levaram a um declínio massivo do PIB de mais de 30% e reduziram a capacidade da Grécia de pagar a sua dívida. Em 2010, a dívida grega era de 150% do PIB; depois de oito anos de austeridade esta proporção aumentou para 180%. Um programa mais inteigente não teria imposto esta austeridade massiva. Além disso, a solidariedade europeia teria significado que os países credores aceitassem cancelar parte da dívida. Isto também teria feito refletir o facto de haver uma responsabilidade partilhada entre credores e devedores.
Ao contrário do que o presidente do Conselho Europeu proclamou, não houve solidariedade europeia. Houve apenas o desejo das nações credoras de proteger as suas exigências financeiras, em- bora fossem igualmente responsáveis pelo desastre, em conjunto com a Grécia. Além disso, verificou-se um desejo visceral dos governos dos países credores de castigar um país que se tinha portado mal.
É evidente que teremos novas crises financeiras no futuro, envolvendo credores que emprestam demais e devedores que pedem emprestado demais. Só podemos esperar que quando isso acontecer a Europa seja capaz de mostrar um bocadinho mais de solidariedade do que mostrou na tragédia grega.
Professor da Universidade Católica de Lovain
foicebook.blogspot.com
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